À moda antiga
Por Rodrigo Pereira, g1 Piracicaba e Região

À moda antiga

Projeto utiliza máquina datilográfica que está na terceira geração familiar. Isabella e Fabiano revelam envolvimento emocional com histórias que repassam artesanalmente para o papel.

Começou com uma declaração de amor. De uma forma espontânea, sem uma data comemorativa no contexto, a estudante de medicina veterinária Isabella Zanelato, de 22 anos, queria surpreender seu namorado. Lembrou-se que sua mãe tinha uma máquina datilográfica em casa e começou a escrever nela todos seus sentimentos pelo estudante de direito Fabiano Camargo, 21 anos.

Mesmo morando a 700 metros da casa de seu amado, fez questão de ir até uma agência dos Correios e postar sua carta, com envelope e selos escolhidos a dedo. "Ele gostou bastante e, como ele se sentiu amado, a gente quis fazer com que as outras pessoas também se sintam dessa forma", conta Isabella.

Foi dessa declaração "à moda antiga", como eles classificam, que surgiu o projeto "Cartas de Amor", por meio do qual o jovem casal datilografa cartas com declarações de uma pessoa para outra sob encomenda e, com o dinheiro recebido, fazem economias para se casar.

As relações afetivas que levaram ao projeto também envolvem o principal instrumento de trabalho, repassado através de três gerações. O avô de Isabella presenteou a mãe dela com a máquina de escrever quando ela tinha 16 anos e, naturalmente, o valioso pertence foi herdado pela universitária. “A minha mãe fazia [cartas] também na máquina de escrever, principalmente para o meu pai”.

Vários dos detalhes dos kits preparados para cada encomenda são recheados de tons nostálgicos e artesanais, como papel envelhecido à mão, envelope com selo de cera e selo antigo, doces com laço de corda de sisal e fotos impressas. Uma direção diferente em tempos do avanço das relações virtuais.

“Quando a gente está fazendo esse trabalho pra outra pessoa a gente tem certeza de que a gente está melhorando a vida de alguém e a gente tem certeza que a gente está trazendo pessoas a terem conexão numa época onde, talvez, muita das vezes a conexão que um parente tem com outro é simplesmente uma tecla de um celular ou de um computador”, diz Fabiano.

Para Isabella, esse tipo de demonstração de sentimento também inclui um item ainda mais valioso do que os que estão em cada caixinha de presente, mas que é imaterial.

"O tempo é a maior riqueza que a gente tem na nossa vida, então, você dedicar o seu pouco tempo do dia ali pra escrever algo, pra escolher uma foto, escolher qual o presente que você vai dedicar praquela pessoa, eu acredito que é uma verdadeira forma de demonstrar o amor“.

Envolvimento emocional

O objetivo principal do casal é juntar dinheiro para se casar, mas não demorou para surgir envolvimento emocional dos dois com cada história que chegava para ser "passada à máquina".

“Isso toca você porque você sabe que você está fazendo parte de uma reconciliação, você está fazendo parte de uma religação entre as pessoas e você saber que você faz parte de demonstração de afeto, desde o amor até a reconexão entre pessoas que talvez tivessem desconectadas naquele momento, é emocionante", conta Fabiano.

Isabella lembra de ficar emocionada com a carta de uma filha que perdeu o pai quando era criança para a mãe.

"A mãe dela que criou ela e a irmã dela mais nova, e aquela carta foi super emocionante porque eu vi quantas batalhas que aquela família ali presenciou e viveu ali na raça mesmo pra conseguir se erguer novamente na vida”.

Outro caso que comoveu o casal foi o de um filho que registrou a surpresa que fez à mãe. “Ele escreveu a carta, a gente datilografou, leu, se emocionou bastante e ele gravou um vídeo do começo até o final da mãe abrindo a caixa, lendo. E todas as vezes que eu olho aquele vídeo é emocionante, é muito lindo, é um amor realmente puro”, relembra Isabella emocionada.

O negócio também geral uma relação de confiança entre cliente e os artesões das declarações, tamanha a intimidade expressa em cada texto.

“É muita confiança entregar algo tão confidente pra gente transformar isso tudo em algo tão amoroso pra outra pessoa. [...] Quando você está escrevendo a carta, passando pela máquina, você percebe o quanto aquilo transforma uma vida. Você percebe o quanto que uma vida é transformada, você percebe que às vezes um filho que discutiu com algum familiar e fala ‘pô apesar das brigas eu te amo’”, revela o universitário.

RICARDO LEZANA

CEO e Consultor Sênior da PERSPECTIVA Consultores Associados

7 m

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