Fazendo bordados com a vida

Fazendo bordados com a vida

“Toda cultura cria rituais para garantir seus costumes e transmitir um legado para as novas gerações, buscando a autopreservação e manutenção dos seus valores. Em uma região da Ásia central, existe uma tradição milenar chamada “Suzani”, que significa “agulha” e se relaciona a arte da beleza tribal. Ela se inicia com a mãe, que começa a bordar as mantas para sua filha, a partir do nascimento e as finaliza quando esta se casa.

 Desde a mais tenra idade, meninas daquela localidade são ensinadas a bordar as peças para o enxoval. E, todos os membros da família contribuem bordando partes dele. Eles são feitos com fios de seda e algodão, seus desenhos representam a lua, o sol, mandalas, flores e folhas.  O resultado final é apaixonante; tramas com um colorido exótico, de formato assimétrico e rara beleza.

Essa fascinante história remete à caminhada das pessoas pela vida. Quando crianças precisam de: ensinamentos; cuidados; amor; limites e proteção dos familiares mais próximos. Assim mesmo, vivenciam carência e dor, pela não realização de vários desejos e necessidades infantis. Quando atingem a maturidade, vão percebendo que para realizá-los, precisam aprender a fazer novas escolhas, e assim, se tornam capazes de viver experiências singulares.

Quanto maior a rede de afetos e apoio da família, melhores seriam as chances de uma pessoa desenvolver plenamente suas potencialidades. No entanto, a grande maioria, não pôde alcançar tudo àquilo que desejava.  Dessa forma, muitos se entristecem e cultivam suas dores pela eternidade, “travestidos de roupas rasgadas”. Já outros, de natureza resiliente, aprendem a preencher suas mazelas, gerando atitudes prósperas. É como se tecessem” bordados” de diferentes matizes, em cima daquelas partes que ficaram demarcadas pelas experiências de dor, insegurança e carência.

 E, quando se despertam são capazes de construir algo positivo em suas vidas, é como se costurassem as “mantas” para uma melhor cobertura de si mesmos e assim, conseguem se sentir mais autoconfiantes, quando percebem que não possuem controle absoluto sobre a vida.

 Acredito que o melhor enxoval para uma existência, é composto pelo apoio daqueles que nos deixaram um registro afetivo, e, da nossa parte, quando nos dispomos fazer costuras artesanais em cima dos rasgos dos tecidos das nossas experiências de vida.”

 

 Cristina  Consalter


 

 

 

Ingrid Sasaki

biscoitos Good Bites Rick Salgados

3 a

Como faz diferença esse aprofundamento no. auto conhecimento. Lindo texto Cris Consalter.

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