As águas turvas da eleição
Brasil chega às urnas presidenciais com nível irreparável de reconciliação. Resultado depende de quem se absteve no primeiro turno

As águas turvas da eleição

Os 156 milhões de brasileiros aptos a votar estão convidados a voltar às urnas no próximo domingo, o último deste mês, desta vez para escolher (ou não) um entre os dois candidatos mais bem votados no primeiro turno na eleição presidencial, o ex-presidente Lula (PT) e o atual Jair Messias Bolsonaro (PL). Este é, certamente, o pleito mais conflagrado da nossa história republicana, superando até a polarização extrema de esquerda e direita de 1989.

Além de um engajamento recorde dos polos da sociedade, agigantado pelas redes sociais, as urnas ainda estão sob o espectro de uma parcela restrita de indecisos e por uma indecifrável camada de votos não revelados. Por isso, os 32 milhões que de ausentes viraram peça-chave nas campanhas. A redução ou o aumento do índice recorde de 21% confirmará o vencedor do primeiro turno, Lula, ou imporá virada inédita, em favor de Bolsonaro.

O esforço para sondar e bombear para a superfície esses votos profundos e não revelados em outubro me lembra os volumes mortos dos reservatórios paulistas durante a grave crise hídrica de 2015 e 2016. Mesmo sem haver garantias de qualidade para consumo, esses recursos hídricos foram usados técnica e politicamente, driblando a escassez. De igual forma, os votos que estão sendo buscados têm qualidade duvidosa, mas precisam vir à tona.

Conforme a região, o gênero e outros fatores, os eleitores que podem ir votar desta vez vão ditar os rumos do país não apenas para os próximos quatro anos. Em jogo há questões centrais sobre a economia, a segurança e a democracia, apesar de os temas da pauta de costumes terem tomado uma proporção maior que o retrospecto das últimas eleições. Uma parte dos eleitores, de 12 estados, terá ainda de eleger seu governador, para que o vencedor tenha, ao menos, 50% mais um dos votos válidos.

Após as análises (justificativas) acerca das gritantes diferenças entre os cenários pintados pelos principais institutos de pesquisa eleitoral e os resultados do primeiro domingo do mês, resta-nos grande incerteza, sobre quem sairá vitorioso ao Planalto, e umas duas ou três certezas. Uma delas é a dificuldade de pacificar as metades típicas de uma secessão do país. A outra é a continuidade ou não da modernização do ambiente de negócios. Que a democracia e o Brasil emerjam dessas águas turvas.

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