171

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento - Código Penal Brasileiro.

Normalmente é dada atenção aos primeiros cem dias de um governo. Não foi diferente nesta terceira temporada de Lula presidente. Mas, convenhamos, 100 dias é um prazo pequeno para avaliarmos adequadamente os caminhos que o atual governo está trilhando. Proponho examinarmos hoje no dia 171 do seu mandato. Simbolicamente é mais adequado à sua história.

A percepção sobre esse início de governo se divide em basicamente três grupos: Vai da paixão irrestrita dos que amam Lula independentemente do 171 que tenha feito, passa pelos arrependidos que elegeriam qualquer coisa menos Bolsonaro e aqueles que jamais votariam em Lula, por convicção, conhecimento ou por ser bolsonarista. Esses hoje fazem parte do grupo “Eu Avisei”.

Naturalmente que é pouco tempo para avaliarmos as políticas que estão sendo gestadas em Brasília. Mas já temos algumas tendências. Lula veio para esta terceira temporada com a missão de limpar seu nome e deixar algo positivo nos livros de história. Tudo mais é secundário. Daí a quantidade de viagens internacionais e esforço por aparecer ao lado de potentados mundiais. Como resultado prático, seu nanismo diplomático ficou visível. A iniciativa de unir a América do Sul, acenar benesses financeiras para a Argentina, propor uma moeda regional ou, ainda, equiparar Maduro aos demais presidentes legitimamente eleitos da região mostra que sua preocupação não é com o desenvolvimento do Brasil e a melhoria das condições da população local, mas deixar uma imagem que pensa ser de estadista.

Nesses 171 dias desde sua 3ª posse, as invasões de propriedades rurais voltaram fortes, gerando insegurança onde o Brasil é melhor, no campo. Para reforçar a antipatia ao setor, Lula repetidamente chamou os produtores rurais de fascistas. Em contrapartida, nada fala dos companheiros do MST e seus métodos violentos.

Outra das bandeiras dos pró-Lula nas eleições – a preservação ambiental - também tem se mostrado falha. Seja pela continuidade do desmatamento na Amazônia, seja pela iniciativa de desfazer o marco do saneamento, ou mesmo em questões ambientais de grandes projetos industriais. Lula segue o que lhe dá mais reconhecimento público e não o que é mais necessário ao País.

No campo econômico as iniciativas heterodoxas de apoiar setores específicos, com visibilidade, para ter repercussão midiática, como o automobilístico, mostram que as receitas de Lula são as mesmas da sua primeira temporada e foram desastrosas sob o governo Dilma. A briga aberta com o presidente do banco central por juros artificialmente baixos só faz desacreditar sua equipe econômica e dar palanque para empresários oportunistas como Luiza Trajano da Magalu. O desempenho econômico, nesses primeiros 171 dias, surfou os ajustes feitos no governo anterior.

Uma das principais metas de um governo deveria ser a criação de um ambiente estável que permita aos indivíduos, e por conseguinte famílias e empresas, planejar e pensar a longo prazo. A incerteza econômica desses 171 dias soma-se a incerteza jurídica com casuísmos que vão da liberdade de expressão, passando por questões tributárias, até o direito de propriedade.

Vemos um presidente que permanece em campanha eleitoral, falando apenas para as facções que o elegeram. Isso faz que o rival das eleições passadas seja essencial para que Lula se apresente como uma mudança ao status quo. De outra forma, esses 171 dias de governo são apenas a reedição daquilo que fez nas suas duas temporadas anteriores. O problema é que o enredo anterior não combina com a atual realidade. Sua presidência reforça a exclusão, o nós versus eles

Por outro lado, 171 são poucos dias para se conhecer o que Lula faz de melhor. O mensalão só foi revelado em 06 de junho de 2005, ou seja, aos 887 dias da primeira temporada de Lula.

Aguardemos os próximos episódios.