#27 UMA FALHA DE COMUNICAÇÃO QUE É CASO DE POLÍCIA!

#27 UMA FALHA DE COMUNICAÇÃO QUE É CASO DE POLÍCIA!

Poucas profissões mexem tanto com o imaginário infantil como a de um policial.

A coragem, a força, a missão de fazer justiça e proteger os menos favorecidos costumavam ser ser as habilidades de um bom tira.

Talvez ainda sejam.

Mas a comunicação, essa não tem sido a melhor competência da corporação.

TROTE DA PRÓPRIA POLÍCIA?

Quando criança lembro das campanhas que combatiam os trotes contra a polícia e os bombeiros.

Nos anos 80 e 90 não havia identificador de chamada e celular.

Ligar para a polícia para denunciar um falso crime ou fazer piada era uma ideia de jerico que atrapalhava profissionais essenciais que tinham muito trabalho a fazer.

Será que alguém ainda liga para passar trote na polícia?

Espero que não.

O problema é que com as redes sociais e o uso descontrolado das câmeras, a corporação hoje conta com seus próprios integrantes para o que seria uma espécie de autotrote.

Afinal, como tratar o caso dos policiais que permitiram um YouTuber americano acompanhar perseguições dentro de uma viatura, noticiado no último 26 de junho, em São Paulo?

Só pode ser trote!

Ou desconhecimento total sobre qual é a função do policial, como demonstra a declaração de um sargento ao YouTuber, relatada no g1 :

"Quando matamos um bandido, nós celebramos com charutos e bebidas. [Com o batalhão?] Não, só o pelotão. Como dissemos antes, o pelotão é como uma família."

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) emitiu nota em que dizia que a "dinâmica mostrada nas imagens, envolvendo um civil em práticas exclusivamente militares, não é permitida e fará parte das investigações".

A SSP ainda usou o clichê quando o assunto é comunicação da polícia:

"não condiz com as práticas adotadas pelas forças de segurança do Estado".

O outro clichê, "medidas cabíveis", foi substituído por "providências necessárias".

ONDE FOI PARAR O SERVIR E PROTEGER? NINGUÉM SABE, NINGUÉM VIU

Nas histórias de criança, também escutava que o bom policial tinha um propósito: "servir e proteger".

Hoje isso soa quase romântico.

Policial agora parece querer assustar o cidadão comum.

Em vez de "bom dia", logo cedo já exibem cara de mal na padaria que, muitas vezes, protege e serve o cafezinho deles. De graça, dizem os críticos.

Pior se você andar pela rua na hora e local errados.

Ou melhor, com a cor de pele errada.

Para provar que as falhas de comunicação não estão apenas em SP, uma viatura no Rio de Janeiro, abordou com a truculência padrão dispensada aos jovens pobres e negros do Brasil.

Mas os meninos só eram jovens e negros. Por volta de 13 e 14 anos, três dos quatro eram filhos de diplomatas do Canadá, Gabão e Burkina Faso e passeavam à noite no Leblon, Zona Sul da cidade.

Quem vê a imagem da abordagem com armas em punho apontadas aos meninos, deve se perguntar qual era a atitude suspeita dos garotos para tanta energia?

Apesar de não resolver o problema da falha de comunicação da polícia, o governador do RJ saiu em defesa dos policiais. Uma declaração que ajuda a explicar que a falha de comunicação é bem maior e mais complexa do que parece:

"É complicado para o policial saber se é filho de rico", Claudio Castro, governador do Rio de Janeiro.

Para bom entendedor nem precisa explicar.

Os dois policiais que deram a geral serão investigados por racismo.

De acordo com os meninos que sofreram a abordagem, os homens brancos e carecas da polícia foram hostis com os rapazes negros e não deram os mesmos tratamentos ao menino branco do grupo.

O Itamarity pediu desculpas aos embaixadores.

A FALHA DE COMUNICAÇÃO VEM DE BERÇO

Boi da cara preta, a cuca vem pegar...

Se cantamos essas canções adultos é porque as ouvimos ainda crianças.

Se a comparação vale para a Polícia Militar de São Paulo, vamos concluir que a Falha de Comunicação começa ainda na formação dos recrutas.

No feriado de 9 de julho, a CNN Brasil informou que a Polícia Militar vai investigar (outra vez!) policiais que aparecem em um vídeo cantando uma música com a seguinte letra:

“ali só tinha lixo, só escória, na moral; foi dado ‘pista quente’ para derrubar geral; bomba, facada, tiro e granada; corpos estirados e cabeças arrancadas; cenário é de guerra, tipo Vietnã; a minha continência, Coronel Ubiratan; vibra ladrão, sua hora vai chegar”.

O canto é uma exaltação ao Massacre do Carandiru e ao Coronel Ubiratan que ordenou a invasão da penitenciária quando 111 pessoas morreram.

O Coronel Ubiratan foi condenado a 632 anos de prisão. E como acontece no Brasil, "bandido bom...vira deputado".

O Coronel Ubiratan foi eleito deputado estadual com o número 111. Morreu em 2006 com um tiro de arma de fogo.

Pelo visto, sua memória ainda é valorizada na polícia. Ainda que por uma parte dela.

Impossível não lembrar quando um torturador foi exaltado dentro do Congresso Nacional.

Eis uma falha de comunicação que vem de longe.

MUITO MAIS DO QUE FALHA DE COMUNICAÇÃO

É claro que três casos em tão pouco tempo, um mais surpreendente do que o outro, mostra que o problema da Polícia Militar no Brasil é muito maior do que a comunicação.

Como no paciente em estado grave, as falhas de comunicação são uma tosse, um gemido.

Sinais que chamam a atenção para um socorro que se faz mais do que urgente.

Como criança, também brinquei de polícia e ladrão.

Como adulto e trabalhador, acho impossível ignorar as dificuldades dos agentes como as más condições e os baixos salários.

Como cidadão, questiono por que cada vez mais a polícia repete palavras como "apuração", "investigação", "não são condizentes com as nossas práticas", "medidas cabíveis".

Será que há total falta de alinhamento entre lideranças e subordinados?

Ou existem dois tipos de comunicação: uma dentro dos quartéis e outra para a sociedade?


UM POUCO DE FUTEBOL PARA ALIVIAR A TENSÃO

HISTÓRIAS DE UM PRODÍGIO

Na última semana, falei do jovem Lamine Yamal com medo de secar o craque.

Com apenas 16 anos, contei sobre como ele ainda faz trabalho de escola em meio aos treinos e jogos decisivos da Euocopa 2024. Hoje fico duplamente feliz. Não só porque não sequei o garoto, como também por ele aparecer em mais uma história prodigiosa.

A foto abaixo é de 2007. Messi já surgia como craque e em seu colo estava o Lamine Yamal ainda mais jovem, com apenas cinco meses. A imagem só foi possível porque a família do bebê ganhou uma rifa para conhecer e tirar uma foto com a então jovem estrela do Barcelona, posto que hoje é ocupado por Yamal.

História na BBC News

A foto é de Joan Monfort/AP que trabalhou na ação do clube espanhol

SEM MEDO DE FALAR DE POLÍTICA

Apesar de lamentar a derrota de virada para a Espanha de Yamal, que tirou da França a chance de disputar a finalíssima da Euro, os jogadores franceses celebraram outra reviravolta: a das urnas francesas.

Apesar da projeção em favor da extrema direita, a aliança de esquerda e a ampla manifestação de diferentes setores da sociedade colaborou para que os extremistas do país tivessem a menor votação entre os três grupos em disputa.

Liderados pelo astro Mbappé, os atletas se posicionaram e fizeram lembrar da discriminação que sofrem. Karim Benzema, que fez parte do passado recente da seleção francesa, disse certa vez uma frase que resume bem a insensatez do extremismo:

"Quando ganho, sou francês; quando perco, sou argelino"

KENDRICK LAMAR X DRAKE

Quem acompanha a música pop sabe das eternas rusgas entre os rappers Kendrick Lamar e Drake. Agora, as diferenças apareceram também no futebol. Drake, que é canadense, provocou os argentinos e ostentou uma aposta de dois milhões de dólares na vitória da sua seleção.

Para quem acompanha futebol, sabe que esse era um investimento de alto risco, que acabou em prejuízo. A Argentina venceu por 2 a 0, foi à final e publicou em seu perfil oficial uma provocação ao rapper canadense: uma frase de uma música de Lamar que resume a diferença entre os times.


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Sou Rodrigo Focaccio, consultor de comunicação.

Top Voice LinkedIn em 2019.

Trabalho com treinamentos corporativos, estratégia e produção de conteúdo no LinkedIn e outras redes para a comunicação de empresas e executivos.

Adoro notícias, esportes, política e cultura.

Aceito envio de livros, sugestões de pauta e PIX.


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