As 3 faces da moeda na sucessão da empresa familiar
A sucessão nas empresas familiares é um tema complexo e ao mesmo tempo crucial para a sobrevivência e crescimento desse importante segmento de negócios.
O processo é de longo prazo, afinal nasceram como empreendimentos pessoais, como sonhos desafiadores e superaram muitas barreiras nas diversas fases de crescimento em sua vida mercadológica.
Por envolver aspectos muito além das linhas frias do balanço, esse processo pode trazer consequências severas, informações disponíveis dão conta de um número em torno de 30% não sobrevivendo ao primeiro processo, na passagem do fundador para a segunda geração, e apenas 5% chegam à terceira geração.
Não se pode olhar para o processo da sucessão como um fenômeno fortuito, para umas empresas dá certo outras não. É importante analisar os 3 lados dessa moeda da sucessão, encontrar um ponto de equilíbrio é desafiador, mas plenamente possível se buscadas soluções profissionais geradas pelas experiências mercadológicas.
As 3 faces dessa moeda são a família, a empresa e a comunicação.
A face da família tem grande influência nesse processo, dali veio o fundador, com suas ideias iniciais, a cultura organizacional básica, os valores e as tradições que moldaram a empresa desde sua criação e por conta disso tem peso significativo nesse equilíbrio.
Os membros da família podem ter expectativas muito diferentes em relação aos propósitos da empresa, enquanto alguns podem querer assumir os postos de comando, mesmo sem experiência, outros nem alimentam qualquer desejo em fazer parte do negócio.
Quando se olha para essa face da moeda podem ser encontradas rivalidades e disputas familiares quase sanguíneas de tão acirradas e enraizadas. Buscar alternativas mais pragmáticas, definindo as posições por parâmetros de mérito poderá ser um argumento efetivo a ser considerado para amenizar as tensões, mesmo que não solucionando em definitivo essas áreas de atrito desta face da moeda.
A face empresa, existe aqui um entidade nova, independente em sua constituição jurídica, tem suas próprias metas, estratégias e operações bem definidas para se manter e sobreviver no mercado onde está inserida, um cenário com as próprias regras e com normas de convivência e competição, e, onde o fundador conseguiu mantê-la viva e competitiva ao longo dos anos.
Os grandes desafios aqui precisam ser encarados com menos paixão e mais profissionalismo para que o peso da outra face não derrube o equilíbrio da moeda.
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Profissionalização da gestão é uma alternativa a ser considerada e devidamente adequada às características da face família. Este é um passo importante, e, não necessariamente implica em medidas radicais como externalizar todo o processo de contratação de executivos(as) para a gestão, mas sim, ao longo do tempo, o quanto antes, definir os parâmetros, as capacitações que serão necessárias para que os membros da família façam parte da gestão, com processos formais de seleção, adotando as melhores práticas de governança do mercado.
A terceira face da moeda traz a ferramenta capaz de gerar a distância adequada entre as outras duas e ao mesmo tempo criar o ambiente para a busca do equilíbrio, mantendo a moeda, empresa familiar, em pé e girando no mercado, esta face é a comunicação.
A comunicação eficaz acontece quando se forma a liga entre os interesses da família e da empresa, permitindo o surgimento das oportunidades para a construção de pontes e desmonte dos possíveis muros geracionais, de variados modelos, muitos já existentes na face família.
Alguns pontos importantes a serem observados nessa terceira face da moeda:
Transparência, cria situações e canais que permitem a comunicação fluir e tornar-se inteligível pelos diversos níveis de envolvimento da família, esse ponto é crucial. Esse processo transparente dentro de um plano sucessório, traz de maneira clara e objetiva quais são as expectativas nas duas direções: membros da família -> empresa e empresa ->membros da família. Com as expectativas clarificadas as responsabilidades e posturas de gestão se tornarão pontos marcados e observáveis do processo. Aqui está um ponto considerado decisivo para o sucesso ou não desse processo.
Diferença intergeracional, um fator forte na geração de atritos e divergências podendo formar desníveis nessa face e com isso, o desequilíbrio. Os modelos de comunicação podem estar muito distantes, a geração mais jovem mais conectada às tecnologias digitais nesse processo de comunicação, enquanto a geração do fundador pode preferir as discussões com interações mais pessoais. Essas diferenças podem criar mal-entendidos, posições conflituosas e radicais, prejudicando todo o processo tornando-o impreciso e dificultando as pontes e recriando os muros.
Buscar-se um formato hibrido, sempre que possível, contemplando as diversas maneiras de comunicação é uma prioridade a ser pensada desde o início do processo de sucessão na empresa familiar, pois aí estará a fonte contínua de problemas ou soluções.
Resumidamente, o processo sucessório nas empresas familiares necessita da busca desse equilíbrio em todas as fases, para a preservação da saúde empresarial, emocional e dos relacionamentose. Mesmo estando em um processo difícil, dinâmico e cheio de variáveis nem sempre controláveis, é possível encontrar-se uma posição dinâmica e estável ao mesmo tempo, mantendo-a produtiva e competitiva durante todo o processo.
Estudar, compreender e elaborar previamente os canais mais adequados de comunicação para cada fase do processo sucessório nas empresas familiares é o elo vital para o resultado positivo desse momento decisivo da vida empresarial, gerando equilibrio, mesmo com o movimento intenso e rotativo do mercado, entre as 3 faces da moeda sucessória.