3 Propostas de Interação para mudar o panorama das Cidades Brasileiras.
The Rizomatic Kampung, Indonésia.

3 Propostas de Interação para mudar o panorama das Cidades Brasileiras.

Lixo nas ruas, buracos no asfalto, esgoto à céu aberto, violência urbana e trânsito pesado são alguns dos problemas que as cidades brasileiras vivem todos os dias. No entanto, algumas cidades ainda apontam um sinal de esperança para a qualidade de vida urbana no Brasil.

O último ranking da qualidade de vida entre as 100 maiores cidades brasileiras, trás alguns pontos bem interessantes, como a concentração das melhores cidades entre o interior do Paraná e de São Paulo, e a distribuição das piores nas Regiões Norte e Nordeste, com a excessão de 3 cidades cariocas entre as 10 piores do país e tendo como a melhor Maringá no Paraná e a pior Ananindeua, cidade anexa à Belém no Pará.

Algo que nos faz pensar porque é melhor viver em algumas cidades do Brasil? Logicamente, não existe um único elemento que seja responsável pelo sucesso de uma cidade, mas ao analisarmos os melhores casos, vemos a participação da sociedade na vida comunitária como fundamental para a qualidade de vida urbana.

A participação social é uma utopia da sociedade brasileira, que desde a Constituição de 1988 vem sendo perseguida, estando descrita nos seus artigos 198, 204 e 216. O problema é que a Participação da Sociedade não é algo que surja do dia para a noite apenas por força da lei, ela exige um contexto de organização social, metodologias e vontade política. Algo muito comum ao analisar os instrumentos dispostos pelo Estado Brasileiro para a participação social, é o uso das mesmas como ferramenta de manipulação e ao invés de promover o bem estar comum, acabam por servir à interesses de determinados grupos em detrimento da sociedade.

Portanto, mapeamos 3 exemplos de interação com a comunidade em realidade diferentes, muitas vezes usando produtos digitais, ferramentas do design de interação e a ação das instituições públicas.

1. The Public Propose.

Em Toronto, por mais que um projeto seja enquadrado nas leis municipais, sua implementação depende do aceite dos cidadãos. Abre-se um espaço virtual para discussão e a seguir é criado um painel onde é possível apreciar a proposta abrindo para sua implantação ou recusa. E a recusa muitas vezes acontece, não importando o quanto de dinheiro esteja envolvido no empreendimento. O caso mais notório de recusa ocorrido na capital ontariana talvez seja o envolvendo o arquiteto dinamarquês Bjarke Ingels, titular do mundialmente famoso escritório BIG. Em 2016 BIG teve uma proposta recusada para a King Street, no Distrito de Design de Toronto. Há algumas décadas Toronto vem lutando para ter protagonismo como cidade global, com o agravante de estar na área de influência de cidades como Nova Iorque e Chicago, à menos de uma hora de vôo. Portanto, a estratégia de trazer empreendimentos como o proposto pela BIG cabe perfeitamente (imagem). Mesmo assim, a população de Toronto tem uma relação muito afetiva com sua cidade e todos os aspectos positivos da proposta não conseguiram convencer o painel, que alegava que aquele edifício não conversava com o entorno e com a herança cultural da área, além de trazer um impacto muito grande para aquela parte central da cidade.

A Interação.

Em Toronto, quando existe uma proposta de avisos são colocados nos terrenos convidando a população a se manifestar. Os projetos são acompanhados de infográficos, maquetes e materiais visuais que tornem fácil o entendimento da população leiga. É formado um painel, o Toronto Design Review Panel, formado por membros da comunidade que se manifestaram, os proponentes e o poder público. No final, é necessário uma conciliação para que o projeto seja aceito, caso contrário, acontece o que aconteceu no empreendimento assinado pela BIG.

2. Mi Ciudad Ideal, Bogotá, Colômbia.

Esse é um projeto de planejamento urbano bottom up. Eles definem-se como "Um ecossistema digital onde a comunidade é protagonista da mudança." E de fato, esse protagonismo tomou forma em algumas soluções propostas para a cidade de Bogotá na Colômbia. Por exemplo, durante um estudo, percebeu-se que no centro de Bogotá existiam muitas faculdades e uma população de estudantes deslocava-se diariamente para os centros de ensino. Esse movimento implica num problema de mobilidade urbana, que foi levado à comunidade através da plataforma para discutir soluções. A resposta encontrada foi a construção de um edifício de estudantes próximo às faculdades, construído através de financiamento colaborativo, recurso aplicado à muitas das soluções encontradas pelo projeto.

A Interação.

A interação ocorre através da produção de mídias e do uso de recursos digitais, mas vai além disso, pois também faz uso de rádio web onde entrevistam-se especialistas no assunto e convocam a comunidade para realizar perguntas e fazer propostas. O site é hospedado no PSFK, que é um provedor mundial de soluções on-line com mais de um milhão de visitas diárias, e utilizam o twitter para comentar a compartilhar fotos. As conclusões são compiladas para a elaboração de uma proposta formal.

Há ainda premiações para as melhores propostas e a plataforma costuma ou tenta executar o maior número de soluções possíveis. Em uma rápida olhada, verifica-se que eles pedem por discussões a respeito de soluções de energia, mobilidade urbana e mostram infográficos sobre os diversos assuntos que eles abordam no site.

3. The Rizomatic Kampung, Malásia.

Kampung é o nome dado às bioconstruções vernaculares da Ilha de Java na Malásia, sendo um exemplo de casa tradicional malaia. Além de fatores claros vistos na construção, como a adequação ao clima equatorial e o uso de materiais abundantes como o bambu, o aspecto da construção colaborativa é seu elemento mais interessante, expresso através de 10 princípios mapeados pelos Arquitetos Sem Fronteiras: Compartilhamento da Terra, o compartilhamento de escadas e corredores para obter o máximo de espaços comuns, o mesmo sistema de água e esgoto para banheiros diferentes, o uso do bambu nas coberturas e de materiais eco-friendlies, fluidez de vento, redução dos custos, murais pintados pelas crianças para criar o clima de pertencimento da comunidade, o cuidados com os bens comuns, manutenção da cobertura vegetal e a organização da comunidade para limpar o rio e a frente das casas.

A Interação.

Até mesmo por já existir uma cultura colaborativa, a Universidade da Indonésia, através do departamento de arquitetura realizou uma empreitada de criação de uma ponte de bambu em um Kampung na Ilha de East Java, e para tanto, fez uso das técnicas de design participativo com grupos de artesão e carpinteiros para trabalhar o bambu e realizar o design com o auxílio da população local. Esse projeto foi intitulado The Rhizomatic Kampung. Muito embora a única publicação em inglês sobre o projeto não tenha muitos dados, é possível ver o envolvimento da comunidade no processo desde o design, até a execução.

Lições para o Brasil.

Os processos de interação com a comunidade para melhorar a qualidade de vida nas cidade é considerado pela ONU uma tendência desde a crise financeira de 2008, mas isso depende de muitos fatores para que ocorra, desde a organização da sociedade até a institucionalização de instrumentos para esse fim. No Brasil, os instrumentos que dispomos não dão conta do que é a Participação Social, mas os exemplos mostrados, indicam que este pode ser realizado em realidades diversas, ocidente e oriente, países desenvolvidos e em desenvolvimento, cabe então, a busca por alternativas que se adequem à nossa realidade econômica, ambiental, tecnológica e assim por diante, e a pressão da sociedade para aplicar novas metodologias. Nisto, enquadram-se universidades, conselhos profissionais e entidades sociais na busca de novas formas, mas também aos designers, sejam da área de planejamento, arquitetura ou UX, apresentar essas soluções para nortear novos caminhos para as cidades brasileiras.





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