42 anos depois...

“25 de abril... 42 anos!!!

Pois é, Pai!!! Passaram 42anos...

Queria poder dizer-te que os valores criados nessa data se mantém vivos, mas estaria a mentir!

Queria poder dizer que nos tornamos o País justo e "livre", mas estaria a mentir!

Queria poder dizer que a vossa luta é honrada todos os dias, mas estaria a mentir!

Lamento!!!

Lamento que tudo seja lembrado uma vez por ano... para ficar bem na foto!

Lamento que apregoem os ideais de Abril apenas no dia e muitos nem sabem do que falam!

Lamento que ainda haja, após 42 anos, quem se tente aproveitar!

Lamento, Pai!!!

Lamento que o nosso País não te tenha sabido dar valor!

Lamento que o nosso País não tenha sabido absorver o que vocês (capitães de abril) nos tentaram incutir: a Vitória, só é verdadeira, se a luta for honesta, sem segundas intenções, sem contrapartidas, sem falsos moralismos!!!

Foste, és e serás sempre admirado!”

Bem após ler estas palavras da Catarina Salgueiro Maia, sim também leio o que a filha do Cap. Salgueiro Maia escreve e pouco me interessa qual a sua linha política ou mesmo sequer se tem alguma…

 Mas voltemos ao texto, ou melhor desabafo que a Catarina nos fez por esta altura do ano, uma como muitas outras, afinal somos um Povo de “épocas”, a época da azeitona, a época balnear, a época natalícia, a época dos Incêndios florestais e até temos uma época da Liberdade e Democracia…

É por alturas da última semana de Abril que todos os anos se aproveita para fazer grandes e brilhantes apoteoses ao que foi conquistado há 42 anos atrás, independentemente de no resto do ano, alguns desses “manifestantes” se comportarem de modo a fazer corar de vergonha qualquer Mussolini ou Franco e fazer o Salazar parecer um menino de coro… mas pronto nesta altura sacam das vestes democráticas e revolucionarias que tem no fundo do baú, sacodem o pó e vem a publico exibir a sua pseudo imagem de democracia e liberdade… pena é o intenso cheiro a naftalina!

 Poderia escrever sobre estes artistas da “fantasia” que deambulam pela Sociedade em geral, mas vou só mesmo e objetivamente escrever sobre o sector que muito me diz os BOMBEIROS.

 Tal como a Catarina Salgueiro Maia lamenta que 42 anos passados sobre aquilo que o seu Pai, e outros, conquistaram e que agora é esquecido ou usado por muitos para darem um “ar daquilo que não são no resto do ano”, também eu e/ou muitos dos Bombeiros em Portugal passados 42 anos após o 25 de abril de 1974 lamentar muita coisa, mas na verdade estamos bem pior que grande parte da Sociedade, pois;

- não podemos lamentar que os “valores de Abril de 74” não se mantenham vivos em grande parte das AHBV’s e respetivos CB’s, quando na verdade esses valores nunca por la viram a luz do dia.

- não podemos lamentar que nas AHBV’s e respetivos CB’s ainda não exista “justiça e liberdade”, quando na verdade ainda vivem num tempo anterior à Republica, onde se cultiva o feudalismo e a dinastia.

- não podemos lamentar a falta de honra perante aqueles que “democratizaram” o país, quando nas AHBV’s e respetivos CB’s todo se faz para irradiar a diversidade de opiniões e a cultura democrática.

- no entanto podemos lamentar que os Bombeiros que ainda não tem a possibilidade de saber o que é o “Abril de 74” no seu quotidiano sejam usados para que outros possam aparecer nas “fotos”, apregoando aquilo em que não acreditam nem praticam, e aproveitando esta data para se mostrarem e assim enganarem o Povo.

- mas também lamentamos que passados 42 anos o país ainda continue a não dar o devido valor aos Bombeiros, tal como continua a não dar ao Cap. Salgueiro Maia.

- também nós Bombeiros lamentamos que aqueles que tanto apregoam nesta altura do ano os valores de “Abril de 74”, pautem a sua atuação durante o resto do ano em sentido contrario à verdade e à honestidade camuflando as suas intenções e jogos de poder em retórica e discursos moralistas e que escondem aquilo que na verdade praticam diariamente.

Eu diria que nos Bombeiros ainda não lamentamos o esquecimento do dia 24 de Abril de 1974 e seu significado, porque na verdade esse dia e passados 42 anos ainda não chegou ao nosso Sector.

Afinal temos “Dirigentes” que se apregoam como únicos e legítimos representantes de todos os Bombeiros Portugueses, mas nunca deram a hipótese de serem votados pelos mesmos!

Afinal e passados 42 anos após o “25 de abril de 74” temos “dirigentes” que pensam que podem por eleição de um número insignificante de “iluminados” serem representantes de milhares de Cidadãos…

Afinal no dia 25 de Abril de 2016 temos “dirigentes” que ameaçam, que mexem por baixo do tapete, que influenciam, que tentam por todos os meios calar, reduzir ou acabar o movimento democrático e de pluralidade no Sector dos Bombeiros em Portugal.

Por isso digo que gostaria muito de tal como a Catarina Salgueiro Maia lamentar o que ela lamenta, mas infelizmente os Bombeiros Portugueses ainda não tiveram a hipótese de vivenciar no seu dia-a-dia os ideais de “Abril de 74”, para depois lamentar o gradual esquecimento e/ou ignorar dos mesmos.