5 coisas que o BBB20 ensinou para os profissionais de comunicação
Divulgação/Globo

5 coisas que o BBB20 ensinou para os profissionais de comunicação

Você pode até não gostar do famigerado BBB, mas não poderá atentar contra o sucesso da edição 2020 de um dos formatos mais conhecidos - e até então desgastado - da televisão brasileira. No seu aniversário de número 20, o programa dirigido por Boninho deu aula para os admiradores e profissionais da comunicação.

Como comunicador e telespectador assíduo, resolvi listar aqui algumas das lições que pesquei ao longo desses três gratos meses de reality.

1) A TV não morreu - e nem está perto de morrer

Há muito tempo a gente vem ouvindo o tom pessimista sobre o futuro da televisão e a perspectiva da internet tomar seu lugar. Sempre discordei! Em um país como o Brasil, com todos os seus problemas de distribuição de renda, a televisão ainda reina. Mesmo que em níveis menores do que nos anos anteriores, ela é o principal meio de entretenimento pra milhares de famílias que sequer têm acesso à banda larga. Nesse sentido, o problema central da televisão nos últimos tempos possivelmente esteve muito mais concentrado na dificuldade em adaptar sua linguagem e sua dinâmica para um mundo com crescente influência da internet do que do meio em si. A TV vive, tem audiência - faltam boas integrações com a realidade atual.

Percebendo esse cenário e utilizando-se de uma estratégia agressiva de desenvolvimento do Globoplay - app de streaming da Globo - o BBB20 desencantou com maestria o tal do efeito transmídia - sonhado por tantos e alcançado por pouquíssimos. O paredão histórico com 1,5 bilhões de votos e o volume absurdo de menções ao programa nas redes sociais durante todos esses 3 meses mostram um caminho acertado da direção para unir TV e internet - que não à toa teve em seu casting alguns nomes famosos e completamente nativos da internet, caso de Bianca Andrade, fenômeno do Youtube e Instagram.

BBB20 é a prova de que a TV não morreu, nem está perto de morrer, mas também não sobrevive sozinha. A internet alimenta a televisão da mesma forma que a televisão alimenta a internet e as boas estratégias para essa integração são recompensadas e reconhecidas pelo público.

2) As narrativas importam tanto ou mais que os personagens

Quando foi anunciada a mudança no formato do programa, que agora passaria a contar com personagens já conhecidos do público, alguns com mais de 8 milhões de seguidores - caso de Bianca Andrade -, muito se falou sobre uma certa vantagem dessas pessoas perante um grupo anônimo que estaria concorrendo de igual pra igual.

A evolução da temporada provou que os personagens importam tanto quanto as narrativas. Bianca Andrade foi eliminada na quinta semana de jogo após uma série de atitudes consideradas opostas ao seu discurso na internet. Gabi Martins durou mais, mas também não resistiu à ausência de trajetória dentro do programa e foi eliminada. Mari Gonzalez, quando encontrou uma história pra contar, não teve tempo suficiente pra convencer o público sobre sua permanência, mas foi ponto crucial pra dizer que: não adiantam os rostos sem as histórias. Manu Gavassi e Rafa Kalimann, finalistas do programa, souberam converter suas audiências com narrativas, personas, bandeiras e discursos que as fortaleceram dentro e fora do jogo. Cada uma no que acredita, com suas peculiaridades e verdades - da maneira como tem que ser feito.

A somar, Thelminha, única participante anônima a chegar na final que venceu o prêmio na noite de ontem, representa por si só uma grande narrativa - ainda rara no Brasil, infelizmente. Uma mulher negra, adotada, vinda de uma família sem muitos recursos e que se tornou médica por seu próprio esforço. Na casa, não abaixou a cabeça pra nenhum participante, defendeu seus pensamentos com firmeza e serviu de exemplo para milhares de mulheres e meninas negras que viram nela uma inspiração de vida. Essa é a chave!

3) Para todo esteriótipo, haverá quem se identifique

Felipe Prior, um dos participantes que mais angariou fãs no programa, conquistou o feito com opiniões desmedidas, atitudes desrespeitosas e até acusações de ordem criminal. Ele é um micro exemplo do que foi Bolsonaro em 2018 e me faz recuperar um pensamento: para todo esteriótipo, haverá correspondência.

Para nós, comunicadores, a única lição que me parece plausível é termos a responsabilidade de não dar palco para esse tipo de esteriótipo. Assim como Bolsonaro foi de aberração nacional para presidente do país, Felipe hoje tem mais de 6 milhões de seguidores. Alcance perigoso vindo de quem vem.

4) Não se posicionar é também um posicionamento

Acabou o tempo em que era possível não se posicionar. A falta de posicionamento é em si própria um posicionamento que significa, em curtas palavras, conivência com um dos lados. Em um mundo dominado pelas redes sociais, é impossível passar batido às principais pautas que ascendem na sociedade. Como personalidade ou marca, você não precisa se posicionar sobre todas, isso é, inclusive, desaconselhável - mas algumas dessas pautas vão cobrar de você um posicionamento. Ora, se você está em um reality show presenciando uma situação de machismo e desrespeito contra mulheres, sendo uma pessoa que se vale desse discurso para conquistar seus feitos, o não posicionamento não será entendido como neutralidade, mas sim como conivência.

É preciso estar atento a quando sua voz é necessária - e também quando ela é completamente desnecessária, porque às vezes ela é e inclusive pode ser encarada como oportunista.

5) Discursos sem ação não valem de nada

Não valem. A receita é simples: faça o que você diz que faz. Nem mais, nem menos.

Marcela, participante que entrou no jogo como favorita, viu seu público encolher depois de uma série de atitudes incoerentes com seu próprio discurso. Talvez ela nem tenha errado tanto assim, mas criou no discurso uma grande expectativa das pessoas. Expectativas frustradas são coisas difíceis de resolver. Então, só crie aquelas que você pode corresponder. É responsável e inteligente.

Marina Vieira

Field Marketing | Gerando impacto através de estratégias criativas | Gestão de Parcerias | Eventos | Experiência em comunicação B2B

4 a

Muito interessante os pontos levantados e concordo com todos. Afinal o BBB é o reflexo da sociedade em que vivemos, e ainda há quem fale que é um programa fútil!

Ritiele Medeiros

Atendimento Publicitário | Gestão de Projetos | Relacionamento e Negócios | Gestão de Budget | Bacharela em Relações Públicas

4 a

Muito bom 👏🏼👏🏼👏🏼

Matheus Meira

Analista de Marketing - Comunicação e Marca

4 a

Análise certeira! Achei interessante também como o "endeusamento" pode ser tão perigoso como o hate. O público cria uma aura imaginária sobre algum participante como se o mesmo fosse imune a erros. E quando isso acontece o cancelamento vem ainda mais intensificado. PS: Renan, admiro demais seu trabalho e busco por alguma oportunidade no setor de showbusiness/entretenimento. Como faço para me candidatar para possíveis vagas em seu time? Obrigado :)

Daniela Fernandes

Cloud Services Auditor | ISO 27001 Lead Auditor | Cloud Consulting, MSP Azure | GCP | AI entry level specialist

4 a

Excelente artigo, jovem!

Caroline Bandeira

Relações Públicas | Mkt de conteúdo| Relacionamento | Mkt Digital

4 a

Muito bom!

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