5 descobertas sobre o impacto da longevidade na vida das pessoas
Na foto: Maye Musk, escritora, modelo e mãe do Elon Musk

5 descobertas sobre o impacto da longevidade na vida das pessoas

Passamos os últimos cinco meses ao lado da Fundação Dom Cabral e Unimed-BH estudando as principais tendências em longevidade no Brasil e no mundo que estão impactando a vida das pessoas. Algumas descobertas compartilho aqui nesse texto sobre planos de vida, lifelong learning e gestão financeira para uma vida estendida. 

Diante do incontrolável, há apenas uma certeza: o tempo passa. Enquanto nos distraímos com os pormenores, ele avança. Sem fazer alardes, segue em frente sem retorno. De repente, num relance no espelho, ele aparece na forma de um fio de cabelo branco, um corpo já maduro ou os olhos entre aspas. Essa transformação silenciosa está cada vez mais presente em nossa sociedade. Quando o médico geriatra e papa da longevidade no Brasil, Alexandre Kalache era pequeno, apenas 5% da população tinha mais de 60 anos. Em 2050, seremos 31% entre todos os brasileiros. 

Essa é a nossa revolução: uma revolução humana, do tempo e da longevidade. 

Ao lado da Fundação Dom Cabral e da Unimed-BH, acabamos de lançar um novo Trendbook que explica a longevidade pelo olhar das pessoas. Quais são os novos planos de vida quando a expectativa é vivermos 120 anos? Como nos preparamos para um envelhecimento muito maior do que o vivido pelos nossos pais? Se antes viver era uma corrida de 100 metros, hoje envelhecer é maratona, como explica Kalache. Nosso objetivo, no Hype50+, é que o material seja fonte de reflexão para planos pessoais, mas também um observatório para marcas e corporações que ainda não puderam enxergar a potência e o valor desse grande tsunami prateado. Por isso, depois de alguns meses trabalhando no projeto, compartilho com vocês algumas das reflexões mais interessantes que tivemos.

Esse é o primeiro estudo de uma série de três Trendbooks do FDC Longevidade, primeiro hub de conhecimento em gestão da longevidade no Brasil e do qual tive a honra de ser convidada a cocriar.

O envelhecimento populacional que levou séculos para se concretizar em países mais maduros, acontecerá em poucos anos no Brasil. Uma mudança social nessa proporção vai transformar radicalmente o modo como vivemos, sonhamos e trabalhamos.

1. O envelhecimento ativo é necessário, mas a resposta para viver mais está na qualidade das nossas relações.

O que as pessoas mais desejam à medida em que envelhecem? Essa foi a pergunta feita pelo relatório da ILC-Brazil para entender as prioridades no envelhecer. Em primeiro lugar, a resposta está na saúde. Mas só ela não basta. As pessoas desejam também aprender - o conhecido lifelong learning - se sentir parte da sociedade, o que é mais do que estar inseridas no mercado de trabalho, e também segurança para que vivam a própria liberdade sem medo do futuro. 

O melhor envelhecer é resultado do acúmulo de quatro capitais: o de saúde, de conhecimento, social e financeiro. E vai além. Quando começamos a estudar as Blue Zones, ou Zonas Azuis - regiões ao redor do mundo em que as pessoas vivem mais com saúde e sem remédios - descobrimos um elemento que, de tão poderoso, surpreendeu os cientistas de Harvard. A partir de um estudo profundo sobre os elementos que contribuem para o bem envelhecer, iniciado antes da Segunda Guerra Mundial, entendemos que a resposta está nas relações sociais. O tanto de amor que damos e sentimos receber dos relacionamentos mais íntimos contribui com a nossa saúde e felicidade. 

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2. O propósito e o pertencimento podem prolongar em até 14 anos nossa expectativa de vida.

A sabedoria vem direto da Terra dos Imortais, Okinawa. O conceito é conhecido como Ikigai. Pegue um papel e uma caneta e desenhe círculos em um papel. Liste em cada um: o que você ama fazer, o que é bom fazendo, o que poderia ser pago fazendo e o que é bom para o mundo. No centro de todos os círculos, estará o seu Ikigai, sua razão de ser. Descobri-lo é o primeiro ato de um movimento maior em direção ao seu propósito. Como o professor Jean-Marie Barbier explica

um projeto não é uma simples representação do amanhã; é o futuro a se transformar no real, uma ideia a se transformar em ato”.

Ao lado da sensação de pertencimento, e outros sete elementos fundamentais para o bem envelhecer, essa prática compõe O Poder dos 9: uma análise sobre o que há em comum entre o estilo de vida das pessoas que vivem nas zonas azuis pelo mundo. Seja de ordem religiosa, social ou de trabalho, o pertencimento pode adicionar de 4 a 14 anos na expectativa de vida de uma vida. Mais do que os anos somados nas velinhas do bolo, essas são práticas revolucionárias de qualidade de vida que dão significado a cada dia vivido e não apenas rasgam as folhinhas de calendário.

3. Precisamos aposentar a palavra aposentadoria.

A linha da meia-idade está ficando cada vez mais invisível. Nos sentimos velhos a partir dos 35 anos, por conta do ageísmo ainda presente no mercado de trabalho, mas viveremos até depois dos 100. No entanto, se aos 50 anos estamos na metade da vida, também estamos na metade de nossas carreiras. Em 2040, mais da metade da população economicamente ativa terá mais de 45 anos. O trabalho na maturidade é cada vez mais uma realidade que transborda qualquer conceito familiar de aposentadoria. Para entender isso fomos falar com o nosso Sr. Longevidade, o empreendedor de mão cheia Abílio Diniz:

“Digo claramente que estou vivendo o melhor momento da minha vida. Tenho uma família maravilhosa, estou fisicamente bem e com a cabeça melhor do que quando tinha 20 anos a menos. Então, a pessoa estando bem, com a cabeça boa e fit, por que ela vai parar de trabalhar?” 

Jornadas mais flexíveis e reduzidas para pessoas mais velhas, saídas humanizadas de trabalhadores maduros e até conflitos intergeracionais serão temas cada vez mais urgentes para times de RH de todo país. Para isso, surgem, inclusive, novas profissões como a de Chief Health Officer, Age Adviser e até Conselheiro de Aposentadoria.

4.  Tudo o que sabemos sobre finanças muda quando igualamos os anos de trabalho com os de “aposentadoria”.

Uma das grandes preocupações que acompanha o cuidado com a saúde é também a saúde financeira de uma população que não se preparou para viver 30 anos sem um salário fixo. Em uma realidade na qual passamos 45 anos trabalhando, mas viveremos, pelo menos, 30 anos longe do mercado de trabalho, é difícil que a conta feche. Quando a previdência social não é mais uma certeza, nosso planejamento financeiro se estende por décadas que antes não estavam previstas. É o que diz José Vignoli, educador financeiro:

“Trabalhei com vice-presidentes de bancos que hoje estão numa situação muito difícil. Perguntei a um deles o que havia acontecido e a resposta foi: não pensava que ia viver tanto tempo e o tempo passou.”

Precisamos buscar novas alternativas de renda extra, investimentos de longo prazo para a maturidade, gerir o orçamento para otimizar os recursos ganhos e também buscarmos ferramentas e plataformas de recomendações que ajudem a projetar orçamentos, gastos e ganhos dentro de uma jornada de vida estendida. Mas é importante considerar que a conhecida “Regra dos 80” já não é mais uma realidade: poderemos envelhecer por muito mais tempo do que os 80 anos projetados pela maioria dos especialistas financeiros.

5. Já ganhamos anos a mais. Agora precisamos de mais qualidade de vida.

 Hoje, 6 a cada 10 brasileiros +45 acreditam que vão viver até os 90 anos. Em um país cuja expectativa de vida está em 76, o sonho não é mais impossível. A questão não é mais se chegaremos, mas sim como vamos chegar. A extensão da vida - chamada de lifespan - deve também acompanhar o aumento da saúde e bem-estar da população durante o envelhecimento, conceito agora conhecido como healthspan.

Há quem se prepare desde cedo para essa realidade, os chamados Esforçados. Há ainda quem mude a rota depois de um evento traumático que os faz pensar na finitude e no envelhecimento, normalmente associado com alguém próximo da família. Existe também aquele grupo que está preocupado porque já tem doenças crônicas que exigem cuidado e alto investimento em saúde. E, por fim, há os sortudos que, mesmo com baixo cuidado, têm vitalidade e poucos problemas relativos à saúde.

Para a nossa mente, é um desafio imaginar uma realidade de futuro completamente diferente do passado que conhecemos. Por isso, talvez, pensar em vivermos por tanto tempo ainda pareça distante, uma preocupação para depois. Mas descobertas como essa do relatório FDC Longevidade são nossos lembretes de que o tempo continua seguindo, como sempre o fez, e que nosso melhor cuidado para o futuro é começar a planejá-lo desde agora. 

Se você quer se aprofundar no material com cases, histórias e exercícios práticos, leia a versão completa clicando aqui.

Layla Vallias é cofundadora do Hype50+, consultoria de marketing especializada no consumidor sênior e da Janno, startup agetech de planejamento de finitude e legado. Foi coordenadora do Tsunami60+, maior estudo sobre Economia Prateada e Raio-X do público maduro no Brasil e também Diretora do Aging2.0 São Paulo, organização de apoio a empreendedores com soluções para o envelhecimento em mais de 20 países. Mercadóloga de formação, com especialização em marketing digital pela Universidade de Nova York, trabalhou com desenvolvimento de produto na Endeavor Brasil.

José Vignoli

Educador Financeiro, palestrante

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Feliz por ter podido colaborar.

Patrícia Bastos Gonçalves

Coordenadora de Recursos Humanos | Fundação Libertas de Seguridade

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Apesar de não existir uma receita ou fórmula mágica para a longevidade, a ciência tem mostrado que a adoção de certos hábitos ao longo da vida tem contribuído para frear, em partes, o processo de envelhecimento, aumentar os anos vividos e melhorar a saúde para poder aproveitá-los. E de forma crucial, vejo a Educação Financeira como ponto forte. Excelente material!!!! Parabéns, a todos os envolvidos.

Érica Peluso

Psicóloga, doutora em Ciências/ Educação, saúde mental e longevidade Psychologist, PhD/ Mental Health and longevity

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Parabéns Layla Vallias e todos os envolvidos neste projeto! O Trendbook está incrível!

Francisco Faro Neto

Gestão de Marketing & Treinamento I Consultor I Mentor I MBA - Ibmec/SP | IA para Negócios

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Parabéns pela iniciativa e pelo conteúdo de alta relevância.

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