6 Anos de Observador — Pela primeira vez pousámos num cometa
Não acompanhei a história da Rosetta do início. Começou em 2004, muitos anos antes de ser jornalista e antes mesmo de me ter formado como cientista. Não tinha Twitter nem outras redes sociais, raramente lia notícias e, portanto, não fazia ideia que tinham enviado uma sonda atrás de um cometa e que, no caminho, a tinham posto a dormir — qual Bela Adormecida.
Do beijo do príncipe que acordou a Bela Adormecida lembro-me vagamente. Já tinha terminado o estágio no Público, mas sabia que a Ana Gerschenfeld estava a escrever sobre o assunto. Na altura não me despertou interesse e pouco me recordo do que então foi falado.
Só quando chegou a minha vez de me dedicar à sonda Rosetta e ao pequeno robô que levava consigo, o Philae, é que me apercebi de quão incrível era toda esta história. A começar pelo trabalho que tinha sido investido numa missão única e longuíssima e a acabar na comunicação feita pela Agência Espacial Europeia — a Rosetta e o Philae até falavam um com o outro via Twitter.
Escrevi alguns artigos sobre a missão e as descobertas que iam sendo feitas, mas o momento mais esperado foi, naturalmente, a “aterragem” do robô no cometa — seria a primeira vez que um objeto construído pelo homem o conseguiria fazer. Auscultadores nos ouvidos, olhos fixos no ecrã, acompanhava cada respiração dos elementos que se encontravam no centro de operações, a contar os minutos à espera de novidades.
Quando o Philae pousou no cometa e todos naquela sala gritaram e aplaudiram, gritei também de braços no ar. Na redação, todos olharam para mim sem perceberem o que me estava a acontecer. Tinha acabado de presenciar um momento histórico, mas não tinha tempo para lhes explicar, tinha muito que escrever.
Tínhamos lançado o jornal há poucos meses e estávamos sempre a pensar em bater recordes de leitores e visualizações. Claro que enquanto escrevia sobre a minha aventura espacial não pensava nisso, mas não esqueço a alegria de, quando a noite chegou, um texto de ciência ter batido (e por largos números) o nosso recorde mais recente.
É inegável que os números interessam aos jornais. Sem leitores não temos razão de existir. O que não quer dizer que se faça tudo para agradar as pessoas que nos leem. O texto que vos trago amanhã terá, provavelmente, determinado a minha entrada nas listas negras de alguns grupos de “ativistas”.