As 8 tendências-chave para ter sucesso em healthcare em 2021

A pandemia com a qual convivemos desde o início de 2020 acarretou uma mudança brusca no estilo de vida das pessoas. Hoje, vivemos em um mundo mais conectado virtualmente porém mais isolado fisicamente. A telemedicina, por exemplo, acelerou de forma impressionante. Crescimentos de mais de 2200% das consultas virtuais simbolizam a força das transformações vivenciadas.

Este artigo é uma reflexão sobre a realidade que se impôs e, também, um olhar para o futuro.

1.  A deslocalização do cuidado da saúde no pós-pandemia

Na área da saúde, a grande transformação vivenciada durante a pandemia foi o cuidado com a saúde para além das paredes dos hospitais, principalmente com uso da tecnologia. A tendência da deslocalização dos cuidados de saúde foi profundamente acelerada nos últimos meses e coloca o paciente como centro do caminho de cuidado. Ele, mais engajado com sua própria saúde, terá melhores resultados clínicos.

De olho nisso, gigantes de tecnologia têm apostado em dispositivos que monitoram indicadores de saúde como volume de movimentação, qualidade de sono, composição corporal, batimentos cardíacos, e até sinais relacionados à saúde mental para ajudar os usuários a fazerem escolhas mais saudáveis.

Estes dados, somados a outros gerados por dispositivos da Internet das Coisas Médicas, podem ser integrados a prontuários eletrônicos armazenados de forma segura na nuvem que, por meio de monitoramento contínuo por inteligência artificial, irão proporcionar conhecimento para os profissionais de saúde realizarem cuidados virtuais mais efetivos. Adicionalmente, possibilitam que este cuidado seja entregue no local que gere mais valor para o sistema e para o paciente.

Enfim, o mundo virtual está cada vez mais integrado ao nosso mundo real.   

2.  Onda de concentração no setor

O grande sucesso da abertura de capital da Rede D´Or, a expansão de planos de saúde verticalizados para novos mercados, fim de desoneração fiscal, desvalorização cambial e o desafio de fluxo de caixa imposto pela pandemia devem acelerar a onda de consolidação entre hospitais e operadoras de saúde em 2021. Esta onda deve confirmar a previsão de lideranças da saúde que há vários anos alertavam a respeito da inviabilidade de longo prazo de hospitais com menos de 100 leitos e de operadoras de saúde sem escala. 

Os grupos que surgirão ou serão ampliados com esta onda de consolidação irão promover forte integração de dados em suas redes, padronização de protocolos de linhas de cuidado, aceleração de iniciativas de transformação digital e promoção de ações relacionadas a cuidados de saúde baseados em valor.

Espera-se, também, que durante este processo de consolidação, os profissionais de saúde criem uma afiliação mais forte com determinados grupos e que pacientes, em especial na saúde suplementar, passem a se identificar mais com determinados provedores de serviços ou pertencerão a grupos verticalizados.

Além disto, deve-se vivenciar um maior número de alianças estratégicas entre grandes grupos em torno de própositos comuns, sempre, observando os aspectos de compliance e livre competição. Estas alianças devem ajudar a acelerar a coordenação de cuidado integrado de pacientes.

3.     Inovação e Conteúdo para engajar consumidores de serviços de saúde

Os consumidores, inclusive os da área de saúde, cada vez mais buscam entender o propósito da marca ou empresa que se materializa através de storydoing, ou seja, através de iniciativas inovadoras que se tornam veículos de sua própria história.

À medida que o paciente se torna um consumidor de serviços de saúde, este buscará ter acesso a profissionais e instituições que compartilhem seu propósito e que se conectem com sua comunidade através dos múltiplos canais existentes.

O mercado de saúde irá se organizar em torno de alianças e comunidades e a capacidade das empresas de estabelecer amplas alianças e promover clientes e consumidores de saúde engajados serão fundamentais para seu sucesso no futuro.

4.  Healthcare Analytics na Era da Transformação Digital

Em recente artigo publicado na revista Nature, pesquisadores apontam que dados do Twitter sinalizavam aumento incomum de casos de pneumonia em Dezembro de 2019 em áreas que meses depois seriam o epicentro da primeira onda da Covid-19 na Europa.  

O estudo acima ilustra a relevância que a Ciência de Dados ou Data Science vem tomando em nosso setor e o impacto que pode proporcionar em saúde publica.

Este impacto, somado à democratização do uso de Inteligência Artificial através de novas plataformas de aprendizagem de máquina como Alteryx, GPL-3, RapidMiner que logo serão tão populares como Excel, farão com que a maturidade no uso de dados nas organizações de saúde rapidamente evoluam de uso descritivo e tático para um uso estratégico e prescritivo. 

5.  A vez da IoB – Internet of Behaviors ou Internet de Comportamento

Eleita pelo Gartner umas das 9 tendências tecnologias para 2021, a Internet of Behaviors consiste na utilização de dados personalizados, coletados por dispositivos de Internet das Coisas ou por meio da nossa pegada digital, para influenciar o nosso comportamento.

A Amazon aposta neste mercado através de sua pulseira inteligente que coleta informações como qualidade do sono, variações de humor detectados pela voz, e nível de atividade física. Através destas informações, a pulseira Halo propociona insights de mudança de comportamento que podem prover saúde para seu usuário.

O potencial desta tecnologia é gigantesco e pode ser transformacional em campanhas de prevenção e detecção precoce de enfermidades. Atualmente, uma campanha como a de auto-exame de cancêr de mama necessita de milhões de reais para abranger um país continental como o Brasil. Esta tecnologia pode propocinar o mesmo efeito mas como um custo muito menor e de forma personalizada.

Importante destacar a importância de se respeitar o mais alto nível de ética e privacidade para que esta tendência propocione um impacto positivo em nossa sociedade.  

6.   Resolução de conflitos por meio de métodos consensuais, como a Mediação 

A escalada da judicialização da saúde nos últimos anos atingiu patamar de bilhões de reais. Embora a procura pelo Poder Judiciário tenha como intuito a busca por correção de injustiças, ela muitas vezes tem um impacto ainda maior na redução da equidade de distribuição dos recursos disponíveis.

As tendências de maior colaboração, alianças em prol do paciente, cuidados de saúde baseado em valor e transparência irão promover melhor forma de resolução de conflitos.

A população deve passar a ter maior participação em relação as escolhas para alocação dos recursos disponíveis. Um bom exemplo é a agência NICE (National Institute for Health and Care Excellence) do Reino Unido. Ela tem sido referência em promover debate com a população para buscar consenso e ampliar entendimento sobre as escolhas de alocação de recursos do sistema de saúde.

A resolução de conflitos da área da saúde por métodos consensuais deve crescer de forma importante. O Hospital Israelita Albert Einstein e os pais da Júlia Lima, jovem bailarina que veio a falecer em decorrência de evento adverso, construíram, apesar da dor da perda, um programa juntamente com o hospital, com o objetivo de melhorar a qualidade e segurança do paciente nos serviços de saúde. Este exemplo sinaliza o poder do diálogo e dos métodos consensuais para construir soluções a partir de um propósito em comum.

Enfim, acreditamos que o amadurecimento das relações entre os participantes da cadeia da saúde e um ambiente de maior colaboração e com o paciente no centro das decisões deverá promover o aumento da mediação e da construção de consenso.

7.   Segurança Cibernética como requerimento de negócios

A pandemia acelerou a digitalização de diversos processos na área da saúde e a adoção de trabalho remoto. Caso estes processos não sejam devidamente protegidos, poderá haver exposição de dados sensíveis de pacientes ou abertura de brechas para ataques do tipo ransonware (sequestro de dados por hackers). 

Esta necessidade é ainda maior pela atratividade de obter estas informações. Segundo relatório da organização Trustwave, as informações médicas de um paciente podem valer até 250 dolares na Dark Web enquanto, por exemplo, dados de um cartão de crédito valem cerca de 6 dolares. 

Soma-se a esta atratividade, alerta emitido pelo FBI em Outubro passado, sobre informações confiáveis a respeito de ameaça crescente e iminente de crime cibernético contra hospitais, em especial de ataques de ransomware.

A alta gestão de organizações de saúde deve garantir que investimentos significativos em cybersecurity sejam realizados de forma efetiva para evitar sérios danos a reputação e ao negócio que podem levar anos para serem superados.

Finalmente, auditorias periódicas de segurança digital serão requerimento de negócio que irão promover confiança para pacientes compartilharem seus dados 

8.   Necessidade de valorizar a Honestidade Intelectual

Estes últimos meses nos mostraram a necessidade de ir além da busca por transparência.

Na guerra de narrativas que nos assolam desde o início da pandemia, o desejo de fazer valer um ponto de vista muita vezes levou a fatos distorcidos, comportamentos contraditórios, análises parciais e omissões propositais.

Ao mesmo tempo, mecanismos usados para manipular nossas reações tem sido usados de forma cada vez mais sofisticados e com maior alcance, potencializados por bolhas das mídias sociais e fakes news.

Diante deste cenário, a sociedade organizada precisa questionar abordagens intelectualmente desonestas e valorizar condutas pautadas por retidão dos argumentos utilizados, coerência do comportamento apresentado e abertura para opiniões diferentes de suas crenças. 

Enfim, a mudança de era é aqui e agora. O tempo urge que nos adaptemos à realidade que se impôs.

Meu artigo das megatendências para década do princípio de 2020 falava sobre nos conectarmos no “metaverso”. Ele chegou! Talvez menos imersivo mas certamente tão prevalente quanto previsto.

Agora te encontro virtualmente, na vida real. O então futuro já é presente.