ABOBADOS DA ENCHENTE II
Nos últimos dias em Porto Alegre, estamos redefinindo o significado de "abobados da enchente". Segundo a lenda, o termo foi cunhado por dois motivos durante a grande enchente de 1941. Primeiro, devido aos olhares atônitos dos moradores, petrificados ao ver o nível da água subir sem saber o que fazer. Segundo, pelas terríveis consequências das infecções trazidas pela leptospirose, tais como tremores, febre alta, calafrios frequentes e hemorragias, entre outros.
Agora, muitas décadas depois, aqui em Porto Alegre, agimos como verdadeiros "abobados da enchente", dentro da cidade, simplesmente aguardando que as águas baixem! Sim, criamos a versão "abobados da enchente II - o retorno das águas ao seu curso normal!" Confesso que estamos atingindo um estado de estupefação diante da enorme incompetência do poder público, beirando à debilidade mental. Estamos todos atônitos e caminhando como zumbis, sem saber o que fazer.
Será que realmente precisamos de outro grupo de profissionais da iniciativa privada para colocar as bombas em funcionamento novamente? O poder do cidadão (neste tipo de sociedade civil organizada que criamos da noite para o dia aqui no RS) parece estar muito mais forte do que o poder do Estado e do nosso Exército nas últimas semanas em Porto Alegre. Será que vamos esperar por algum instituto, influenciador ou até mesmo surfista de ondas gigantes voltar e consertar as bombas? Já não basta tudo o que muitos fizeram até hoje em termos de ajuda? O que estamos esperando? A água precisa ser removida da capital do Estado!
Estamos passando por uma experiência única e é difícil explicar aos meus amigos e conhecidos de fora do Estado do RS a dimensão desta tragédia coletiva e regional, mesmo por meio de fotos, vídeos e áudios. A situação piora quando eles recebem evidências de que nosso aeroporto, rodoviária e diversos bairros importantes ainda estão alagados. É evidente que a moral está muito elevada na sociedade e muito baixa no governo e no Exército.
A maioria fica perplexa ao saber que existem pedágios do crime para que barcos possam acessar algumas regiões; outros não acreditam que doações estão sendo usadas como moeda de troca por drogas; e que crianças pequenas e vulneráveis continuam sendo abusadas (na maioria das vezes por parentes ou pessoas próximas), inclusive dentro dos abrigos. Um sentimento de desalento toma conta do meu coração ao escrever estas palavras finais. Estou verdadeiramente chocado com esse lado obscuro e absurdo do ser humano.
Essa gente maligna deveria ter sido deixada para se afogar. Seriam os verdadeiros "abobados da enchente", não nós, que já sabíamos que estávamos navegando em águas turbulentas e dentro de uma canoa furada, mas lutamos bravamente contra as correntezas e paramos tudo para ajudar nos resgates e na coleta de donativos. Encerro minha coluna com essa mistura de verdade, tristeza e ironia juntas. Cuidem-se e mantenham-se bem.
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A imagem escolhida para ilustrar esta minha coluna é do meu amigo Nilton Santolin (@niltonsantolin), um baita fotógrafo que aprecia meus textos e vinhos. Mostra o navio Argentina ancorado em nosso querido Cais Mauá em Porto Alegre.
Augusto Rocha Tomaz Saleme Ricardoneves Neves Anthony Darricarrere Victoria Zara Mercio Cristina Rosenbaum
Advogada | DPO | Consultora | Contratos | Direito Digital | Privacidade | Compliance | Tecnologia | Inovação | Cooperativismo | Serviços Financeiros
7 mÓtima reflexão Julio Gostisa 👏🏻
Gerente de Produtos | Product Manager | Product Lead | Group Product Manager | Head de Produtos
7 mComum no interior do rs essa expressão