“AC⚡️DC!” - Um recado (3) para os líderes nas empresas em época de Coronavírus

Meu primeiro curso universitário foi Engenharia Civil, na PUCRS, o qual abri mão um ano antes de me formar, para seguir na Psicologia. Não foi uma decisão simples, pois estava em questão um expressivo investimento financeiro que, segundo a família, estaria sendo jogado fora. Uma questão de escolha!

Lembro-me do Professor Vicente, de Física, que em 1983 não só tratava todos os alunos da turma pelo seu sobrenome, como proferia seu bordão, cutucando a testa com o indicador: - “Tem que pensar! Tem que pensar!”

Foi com ele que estudei os conceitos de eletricidade. As aulas eram muito interessantes, especialmente quando íamos para o Laboratório de Física trabalhar nos circuitos elétricos. Foi lá que aprendi o que era AC/DC, que significa Corrente Alternada / Corrente Contínua, na tradução para o português. 

Na Corrente Contínua os elétrons circulam em um só sentido, tendo sua aplicação mais comum na eletrônica, onde os componentes necessitam de Corrente Contínua para funcionarem no ponto de operação correto. Porém, possui uma desvantagem: A Corrente Contínua não passa em transformadores, o que torna a mudança de tensão uma tarefa bem mais complicada.  Já, na Corrente Alternada, os elétrons mudam de direção constantemente, pode-se alterar sua tensão por meio de transformadores e por isso é aplicada  em situações que exigem várias transformações de tensão, desde a geração, transmissão e distribuição. Neste caminho, a tensão vai sendo reduzida de centenas de milhares de volts até os 110/220 volts encontrados na sua casa.

Apesar disso, a Corrente Contínua pode ser utilizada para linhas de transmissão em distâncias muito grandes, onde toda a eletrônica necessária para transformar AC  para DC, e vice-versa, hoje começa a ficar economicamente viável.

Na prática, cada uma tem sua aplicação, e a sabedoria está em usar a corrente certa na situação certa, pois o uso inadequado de ambos os tipos pode causar danos bastante sérios.

E o líder nessa história?

Bem, você deve ter observado alguns termos, como tensão e energia. No dia-a-dia, há momentos em que o líder deve ser mais focado e autocrático. Em outros, deve ser mais liberal e democrático, conforme os estilos de liderança descritos por Kurt Lewin, em 1933. 

Todo líder possui um estilo preponderante ou de sua preferência. Colocar em prática o estilo que prefere, justamente porque é o que mais controla, nunca foi um bom caminho. Ainda mais agora em que vivemos algo inusitado, em que muitos falam de tudo, “polarizando” as discussões, gerando mais controvérsia do que entendimento.

A propósito, a Corrente Alternada, diferentemente da Corrente Contínua, não possui “polos” (negativo e positivo), mas “fases”. Por este  motivo consegue passar por transformadores e atender a diversas necessidades de tensões ao longo do caminho.

A Corrente Contínua atua em um só sentido, enquanto a Corrente Alternada atua em vários. 

Aí eu pergunto: Há agora estabilidade suficiente para mantermos um funcionamento mais linear ou a crise impõe que sejamos flexíveis e criativos, com o máximo de energia possível, para irmos mais longe de forma mais econômica? Cada caso é um caso!

Pensando nisso, a sigla “AC-DC” também nos é familiar pela conotação religiosa, que denota o sistema de datação ocidental, fazendo alusão a “Antes e Depois de Cristo”. Controvérsias à parte, o objetivo é representar a encarnação de Cristo como o ponto que divide a história mundial. 

Por outro lado, alguns defensores de uma nova classificação desprovida de tal conotação, sugerem as siglas A.E.C – E.C. (Antes da Era Comum – Era Comum). A partir daí, o que se pretende representar é algo relacionado à mudança, como se a humanidade precisasse de uma referência para indicar um novo ponto de partida. 

E, convenhamos, essa é uma época verdadeiramente disruptiva, gerando mudança e impondo uma reinvenção generalizada para que a sobrevivência seja atendida tanto do ponto de vista da saúde, como da economia. Uma não exclui a outra, mas se complementam. Nada mais justo, pois, que apelemos para nova classificação: AC-DC: Antes do Coronavírus – Depois do Coronavírus!

Você, como líder, não só tem a responsabilidade de traduzir para a equipe o impacto que isso tudo tem no seu local de trabalho, como transmitir a calma necessária para que todos se sintam amparados. Ter empatia com a angústia e insegurança do outro pode representar a diferença entre ter uma equipe engajada ou um grupo de pessoas em frangalhos, que acabará custando mais caro quando do retorno à ativa. Lembra do “dinheiro jogado fora”, como resultado das nossas escolhas?

Assim como muita gente no planeta, talvez você não saiba o que está para acontecer. Mas resgatar a posição otimista, criando um ambiente para que cada um encontre a semente da solução para o universo da empresa daqui para frente, já é um grande passo. (O Líder Coach tira isso de letra!)

Não é qualquer líder que se torna um Professor Vicente, que faz a diferença, que marca a vida das pessoas com quem convive, que serve como modelo a ser seguido. Essa é a sua oportunidade de assumir um lugar que vai além da hierarquia, ajudando sua equipe a acessar aquilo que tem de melhor, para devolver à empresa como equilíbrio entre dar e receber, tendo em vista que a manutenção dos empregos nesse período turbulento é algo absurdamente dispendioso. 

Por outro lado, chega uma hora que é você quem tem que mostrar como é que a banda toca, dando ritmo e direcionamento. E já que estamos nessa, invoco a banda australiana de rock pesado, criada pelos irmãos Malcolm e Angus Young, em 1973, cujo nome foi escolhido ao verem escrito na máquina de costura da irmã mais velha: AC⚡️DC. 

O significado do nome da banda é o mesmo da eletricidade. Mas convém ressaltar uma curiosidade pouco conhecida. O nome foi escolhido para demonstrar energia e vontade de fazer sucesso.

Será que isso diz alguma coisa para você ou “tem que pensar”?