Acessibilidade: pensar neste quesito desde a concepção do projeto é mais sustentável

Acessibilidade: pensar neste quesito desde a concepção do projeto é mais sustentável

A inclusão social se tornou um tema recorrente em todos os espaços. É cada vez mais comum que empresas criem recursos para suprir esta demanda que ficou por décadas represada. Hoje a contratação de equipes diversas tem sido, felizmente, cada vez mais constante.

Pois esta bem-vinda inclusão não pode ser limitada por barreiras arquitetônicas. Para quem não sabe, a arquitetura inclusiva é aquela que também respeita a diversidade humana e busca definir a acessibilidade para todas as pessoas nos mais diversos espaços. Sejam eles residenciais (casas e apartamentos), públicos (espaços como órgãos públicos dos mais diversos tipos, além de praças e ambientes como rodoviárias, terminais de trens e metrôs etc.) ou privados (empresas de qualquer segmento).

Eu, por exemplo, atuo por meio do Olga Kos, instituto que presido há 16 anos, em consultorias de projetos culturais e observo que é notório o quanto é mais prático, eficiente, quando exposições e demais espaços, desde a concepção do projeto, já incluem o critério acessibilidade. O inverso tende a comprometer o orçamento e a experiência dos visitantes.

Contudo, apesar de ser um conceito cada vez mais amplamente solicitado por pessoas que possuem limitações físicas dos mais diversos tipos, ainda é muito comum vermos empresas que só pensam na acessibilidade depois que surge uma necessidade interna, mas não deveria ser assim. Pensar na acessibilidade, construindo rampas e elevadores que facilitam o acesso, por exemplo, deve ser um aspecto já previsto no projeto de construção. Isto, inclusive, evita gastos maiores, pois as reformas que têm que ser feitas depois que a construção já foi erguida são mais onerosas.

Um projeto arquitetônico realmente inclusivo precisa conter plataformas, rampas, pisos táteis, barras de apoio em certas áreas, elevadores acessíveis, sinalização inclusiva, piso de borracha, entre outras soluções que visam facilitar o acesso de pessoas que tenham limitações de mobilidade, que utilizem cadeiras de rodas ou muletas por razões variadas.

Para se ter uma ideia da importância de tornar todos os espaços acessíveis, vale notar que o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) trouxe os seguintes dados: hoje temos no Brasil 45,6 milhões de pessoas que convivem com algum tipo de deficiência, seja de ordem visual, auditiva, motora ou mental/intelectual. Como vemos, é um número considerável que reforça o quanto a aplicação do conceito de arquitetura inclusiva que, aliás, se apoia na Lei nº 10.098 é essencial.

Mas, apesar disso, grande parte das empresas brasileiras ainda tem optado por adaptar os espaços internos, ao invés de definir tais necessidades quando os projetos estão sendo elaborados. É claro que empresas construídas antes de tais exigências, precisam adaptar espaços, mas não há justificativa para empresas que hoje, neste começo de século XXI, estão sendo construídas sem que a acessibilidade seja levada em conta no projeto.

Por isso, se você está à frente de um projeto hoje, lembre-se de solicitar que a acessibilidade esteja na centralidade do processo. Ao fazer isto, saiba que além de demonstrar empatia e senso de humanidade, você estará economizando na construção de sua obra e respeitando a legislação federal. 

Por fim, sabemos que a maioria dos empresários adota um pensamento inclusivo ou solidário às causas dos grupos minorizados, somente quando a sociedade exerce certa pressão. Isto vale para todas as causas sociais, inclusive, aquelas relacionadas às pessoas que possuem deficiências físicas e/ou intelectuais, cujo o aparecimento pode ser tardio.

Já vimos casos de empresas que construíram rampas de acesso, por exemplo, somente quando um funcionário que utiliza cadeira de rodas foi contratado. No entanto, é importante lembrar que a inclusão social será cada vez mais exigida em todas as instâncias, este é um caminho, felizmente, sem retorno. Além disso, se uma empresa não oferece acesso a todas as pessoas, a inadequação é dela, que isso fique bem claro.

O mundo atual tem evoluído com rapidez e ambientes cada vez mais diversos, em todos os sentidos, é que vão determinar as relações sociais. Por isso, ao contrário do que se pensa, construções nas quais a acessibilidade é considerada já no projeto, além de serem menos onerosas, estão alinhadas com uma ideia que precisa fazer parte do cotidiano de todos nós: todas as pessoas, não importa quais são suas deficiências, merecem ser incluídas socialmente em todos os espaços possíveis.

Observo que para além da questão arquitetônica, temos mais aspectos como o: atitudinal, comportamental, comunicacional, entre outros, que merecem igual atenção. 

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