A actividade da AutoHoje está suspensa. Será o fim de uma referência na imprensa automóvel?

A actividade da AutoHoje está suspensa. Será o fim de uma referência na imprensa automóvel?

A actividade da AutoHoje está suspensa. É o fim de uma referência?

A revista AutoHoje é um parceiro histórico da Netcar. Lembro-me perfeitamente das primeiras conversas em 2009. Nessa altura abrimos uma nova linha de negócio para a empresa. Foram várias as conversas e algumas reuniões com as pessoas de sempre da AutoHoje. 

Esta era a minha revista de referência já há alguns anos. Depois das revistas mensais, as revistas semanais mantinham os leitores mais próximos e havia um dia da semana que era o dia de comprar a AutoHoje. Tenho a certeza que foi assim para muitas das pessoas da minha idade.

Durante algum tempo foi assim. Depois apareceu a Internet e tornou-se mais fácil aceder a informação. A Internet mudou a face de muitas indústrias e a imprensa escrita foi uma delas…bem, não só escrita, mas primeiro e principalmente a escrita. Na apresentação que fiz da Netcar à indústria automóvel, no ano de 2011, dei precisamente o exemplo da Internet e da indústria de media. Não tenha a certeza se estava alguém da AutoHoje, mas agora também não é relevante.

Todos nós, de uma forma ou de outra, participamos desta mudança e assistimos a ela. Todos nós deixamos de ler notícias nos jornais e artigos nas revistas, pois temos a Internet, onde as notícias e novidades surgem e se disseminam à velocidade da luz. Todos nós deixamos de procurar emprego, procurar casas nos classificados dos jornais, pois temos plataformas muito mais eficientes. Seguiram-se as empresas que passaram a ver a Internet com um canal mais barato e mais eficiente para fazerem publicidade e foram abandonando os espaços nos jornais e revistas.

Mas isso também tem um custo para os leitores. Trocámos jornalismo de qualidade por rapidez e contentamo-nos com isso.


Para a imprensa escrita, foi uma transição difícil. As correntes tradicionais de rentabilidade foram ‘secando’ e foram sendo substituídas por outras emergentes que não chegavam à mesma velocidade. Era preciso uma estratégia inovadora, capacidade de execução rigorosa e gestão corrente, tudo ao mesmo tempo (não é sempre?) e não a rotina do costume. 

Estas alterações não vão ficar por aqui e é relativamente fácil antever alguns desafios para as empresas de media, para os consumidores de informação e para as empresas que precisam de fazer campanhas de marketing. 

Voltando à AutoHoje, eu aposto que o título não vai cair. Sabemos que há pessoas interessadas na continuidade do projeto e que ele continuará. Não faz sentido de outra forma. 

Já vimos o mesmo filme, tantas e tantas vezes. Projectos com qualidade, assolados pelo próprio sucesso, sem capacidade para questionar, para aceitar desafios. A inércia passa a ser a mãe de todos os pequenos fracassos. Até que falhar passa a ser normal. Batem-se recordes negativos e isso é encarado com naturalidade, um sinal dos tempos. Deixa de haver seguimento e parece que todos se desinteressam e se alheiam dos problemas e dos resultados. Espera-se que passe e, normalmente, não passa. Eu conheci vários profissionais desta empresa e todos tinham capacidades e competências inegáveis, desde jornalistas, editores, directores. A responsabilidade não é deles, não é individual. Mas têm provavelmente a responsabilidade colectiva de ‘baixar os braços’, de não questionarem o status quo e de não serem capazes de aceitarem novas ideias e desafios.

Por isso, acredito eu, virá ainda mais forte, mais adequada a estes tempos, mas não sem as suas consequências. De alguma forma, esta situação deixou espaço para novos players.

Mesmo a Netcar coloca agora a hipótese de vir a ocupar pelo menos uma parte desse espaço deixado livre.

E não seremos os únicos certamente a pensar nisso.

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