Adiamento do Trabalho
Bola na parede, bate e volta, chuta de novo e o universo se refaz a cada jogada. Estou pensando no que escrever e enquanto isso eu bato a bola, talvez contra a sua vontade para longe de mim (penso nas aspirações da bola) e eu não sei se no repique da pelota ela volta de raiva, de dor, de amor ou de ansiedade em receber novamente o pontapé que a arremessa mais uma vez contra sua resistência. Mas de quem é essa resistência, me pergunto olhando ao redor e para o computador ligado em cima da mesa, esperando que eu digite algumas palavras.
Não sou apenas eu que anseio. A página branca, formando barreira, esperando a falta ser cobrada, a falta absurda de se dizer coisas absurdas também sofre na inquietude constante do cursor . Mas que coisas são essas? Que jogo é esse que só existe depois que eu escrevo? O inventar e o fazer se encontram em campo e decidem em partida disputadíssima quem vai vencer. Mas ambos são vencedores e perdedores: inventar sem ação é mentir para si mesmo e desrespeitar o mundo; já o fazer sem invenção é chutar bola sem gol. Ou só na parede.
Vou tomar banho ou escovar os dentes, melhor trocar de roupa, acho que estou com fome, mas e o trabalho? Mas que trabalho, estou em casa, não tenho nem emprego. Preciso escrever, preciso. Mas por quê? Para quê?
Procrastinar é um ato maldito como jogar uma partida em que seu time já está perdendo. O interessante é que para mim não existe fórmula mágica ou saída fácil. Neste momento me pergunto o por que de todo esse delírio? Eu não sei. Será que eu ligo para minha analista? Talvez ela saiba a resposta ou talvez seja eu novamente ganhando tempo para levar a partida deste texto para a prorrogação.
De repente vem uma luz (ou a bola na minha direção) e penso em uma lista de tarefas, penso em propósito, foco e organização. Penso nas infinitas palestras que assisti sobre temas parecidos. Faço uma reflexão sobre as palavras soltas como foco e organização, mas elas fazem pouco sentido, daí eu penso para que e por que eu preciso disso.
Meu primeiro objetivo é publicar um artigo, mas tenho dificuldade em como começar e saber o que eu vou dizer. Então penso no foco e sei que comecei escrevendo sobre futebol e negócios, olho para a página antes em branco e agora preenchida com essas mesmas linhas de absurdos que penso todo o tempo. Faço um check list: futebol tem e negócios? Falei sobre procrastinação enquanto procrastino. Não, procrastinava. Falta o desfecho. A relação, mas a relação é isso: como disse não há fórmula mágica, se quiser que uma tarefa seja feita, para de enrolar e faça.
A bola agora está parada debaixo da mesa. Espero que falar sobre as minhas bobagens pelo menos faça com que você e outras pessoas possam refletir sobre os adiamentos do dia a dia dentro de suas empresas. Até a próxima.
Nota importante - Gael pediu demissão do trabalho após três ilustrações criadas. Como hoje ele me deixou na mão de novo e, mais uma vez, tive que recorrer ao Pedro, meu profissional freelancer. Na hora de fechar as contas, Gael me cobrou seus dois reais (que estavam em atraso) e me perguntou se poderá continuar a jogar vídeo game por mais uma hora nos finais de semana. Paguei o que eu devia com os juros e correção, mas a hora a mais no vídeo game acabou.
Rodrigo Micheli - Flamenguista, perna-de-pau, amante de esportes, livros e comunicação; redescobrindo um jeito de viver a vida.
Secretaria-Geral do Ministério da Defesa Nacional | Professor de Comunicação e RP
2 aUma reflexão muito interessante, Rodrigo Micheli!