AGENDA 2030 E PANDEMIA: VISÃO GERAL DOS RETROCESSOS E AVANÇOS DOS ODS COM A COVID-19
A Agenda 2030 e os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram adotados em setembro de 2015 pelos 193 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), tendo como objetivo elevar o desenvolvimento do mundo e melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas, seguindo o lema de “não deixar ninguém para trás”. As ações necessárias para efetivar as intenções são definidas nos ODS e suas metas.
A Pandemia da Covid-19, como se sabe, afetou profundamente os âmbitos sociais, ambientais e econômicos do nosso Planeta, consequentemente abalando a implementação dos ODS. A seguir será apontados os retrocessos e avanços gerais que a Covid-19 trouxe para a Agenda 2030, identificando a causa e o ODS afetado, com o foco em nosso país.
1. RETROCESSOS E AVANÇOS DA AGENDA 2030 NA PANDEMIA
Muitas pessoas se reinventaram na pandemia e conseguiram, de alguma forma, seguir com um emprego e renda familiar. Já outros não tiveram a mesma “sorte” e encontravam-se desempregados. A epidemia da Covid-19 trouxe de imediato o agravamento do desemprego e expôs a vulnerabilidade das pessoas, já obrigadas a assumirem condições cada vez mais precárias de trabalho. (GTSC A2030, 2021).
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no 3° trimestre de 2021 a taxa de desemprego chegou a 14,4 % da população brasileira. Alcázar et al. (2021) afirmam que o desemprego, sobretudo no setor informal da economia, proteção social insuficiente e incerta, encarecimento de alimentos e produtos básicos afluem para uma tormenta desassistência, que se agrava com a precariedade dos serviços de saúde, incapazes de dar suporte. O que dificulta o avanço dos ODS1 – Erradicação da Pobreza, ODS 2 – Fome Zero, ODS 3 – Saúde e Bem-estar e ODS 8 – Emprego Digno e Crescimento Econômico.
A Pandemia também deixou nítido os obstáculos em prosseguir com o ODS 10 – Redução das Desigualdades nesses últimos dois anos. A corrida desenfreada em 2020 para conseguir acúmulo de máscaras, equipamentos de proteção individual, remédios e respiradores mostrou que a desigualdade também está em nossos estados, e em 2021 foi a vez das vacinas. Outro ponto relevante desse período foi a paralização das instituições de ensino, onde os que possuíam recursos continuaram nos avanços intelectuais, porém os mais carentes tiveram prejuízo na sua educação. Relatado pelo GTSC A2030 (2021), 4,4 milhões de crianças não conseguiram realizar atividades de forma remota por falta de aparelhos e acesso à internet. Acarretando a maioria das metas da ODS 4 – Educação de Qualidade.
Segundo o Relatório Luz (2021), as mulheres foram 52,9 % das pessoas desocupadas no quarto semestres de 2020, enquanto os homens representavam 47,1% destas, tendo elas as dificuldades maiores para ingressar novamente ao mercado de trabalho. Além disso, a pandemia, o teletrabalho e o confinamento fizeram recair principalmente sobre as mulheres as tarefas domésticas e os cuidados com as crianças e idosos, onde também se tornou ainda mais complexo o enfrentamento da violência doméstica no Brasil, devido ao convívio integral com seus possíveis agressores. (GTSC A2030, 2021), havendo um retrocesso significativo no ODS 5 – Igualdade de Gênero.
Os dados em relação ao meio ambiente também não são nada agradáveis, conforme a Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) a geração de resíduos cresceu 4% durante o Covid-19, com uma média de 1,07 milhões de toneladas. O avanço de delivery de alimentos e comércio eletrônico, além do maior uso de materiais hospitalares descartáveis, influenciaram na evolução desses dados, onde o inimigo silencioso da natureza, o plástico, foi o campeão da produção. Consequentemente houve maior descarte incorreto no meio ambiente, chegando aos mares, o que retarda o alcance dos ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis, ODS12 – Consumo e Produção Responsável, ODS 14 – Vida debaixo D’água e ODS 15 – Vida Sobre a Terra.
Muitos acreditaram que o lockdown teria um impacto positivo na atmosfera, o que não foi realidade. De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM) a desaceleração econômica, lockdowns e home office causaram apenas uma queda temporária nas emissões de CO2 em 2020. O aumento das emissões de gases de efeito estufa alcançaram novo recordo na pandemia. O que torna quase impossível o cumprimento do Acordo de Paris, sobre mudanças climáticas 2015, que é limitar o aumento da temperatura global, em relação ao nível pré-industrial, em até 1,5°C, onde atualmente a média global está a 1,2°C. (ODS 13– Combate às Alterações Climáticas).
A crise hídrica não pode ser considerado um acontecimento proporcionado diretamente pela pandemia, mas é sim um reflexo indireto de todas as degradações ambientais, consumo excessivo de recursos naturais e comportamento humano, tendo os ODS 6 – Água Potável e Saneamento e ODS 7 – Energia Acessível e Limpa impactados.
Por motivo dos ODS serem interligadas, todas as ações e consequências afetaram os ODS 16 – Paz, Justiça e Instituições Fortes e ODS 17 – Parcerias e Meio de Implementação.
Por outro lado, deve-se reconhecer que a pandemia trouxe alguns benefícios no que tange ao desenvolvimento tecnológico, otimização do trabalho e tempo, e-commerce, destacando a ODS 9 – Indústria, Inovação e Infraestruturas. Porém outras metas do mesmo objetivo sofreram com a pandemia, como por exemplo infraestruturas urbanas.
2 – AGENDA 2030 PÓS PANDEMIA
Muito acreditam que a Agenda 2030 é o mapa do caminho para a recuperação pós pandemia, onde necessitará de um fortalecimento, responsabilidade e solidariedade global para construir, com urgência, uma sociedade ampla.
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“Finalmente, quando superarmos esta crise, que vamos superar, enfrentaremos uma escolha. Podemos voltar ao mundo como era antes ou lidar decisivamente com essas questões que nos tornam desnecessariamente vulneráveis a crises. Nosso roteiro é a Agenda 2030 e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A recuperação da crise do COVID-19 deve levar a uma economia diferente. Tudo o que fizermos durante e após esta crise deve ter um forte foco na construção de economias e sociedades mais iguais, inclusivas e sustentáveis que sejam mais resilientes diante das pandemias, das mudanças climáticas e dos muitos outros desafios globais que enfrentamos. O que o mundo precisa agora é de solidariedade. Com solidariedade, podemos derrotar o vírus e construir um mundo melhor.” António Guterres, Secretário Geral da ONU.
REFERÊNCIA
Relatório Luz 2021 - por_rl_2021_completo_vs_03_lowres.pdf (wordpress.com)