Agricultura brasileira é boi de piranha para europeu cagador de regra
Agora a “musa do veneno” também é a “senhora desmatamento”. Títulos atribuídos a nossa querida ministra da Agricultura, Tereza Cristina. O último, em específico, foi dado pelo jornal francês Le Monde, em função do aumento do nível de desmatamento. Algo derivado das políticas conduzidas pela “temida”, “influente”, “dama de ferro” do agronegócio brasileiro. Que orgulho de você Tereza.
O bullying nacional – já que vai além da ministra – releva, na verdade, o pânico dos países europeus diante da pasta agrícola brasileira, que vem abrindo de maneira contínua mercados no mundo. Sendo mais específico, 48 produtos em 21 países desde 2019. Esse temor é o pano de fundo de governos nacionais e da Comissão Europeia que pretendem tornar mais rígidas as regras de acordos comerciais estabelecidos com o Mercosul, por meio de propostas como “Estratégia para a Biodiversidade” e a “Farm to Fork” (da fazenda ao garfo). Meio que uma versão europeia da "Farms Here, Forests There", este, americano.
Se aprovados pelo parlamento europeu, está previsto até 2030, uma redução de 50% no uso de pesticidas, 20% no uso de fertilizantes químicos, 50% no uso de antibióticos na criação de animais e ampliação para 25% da área destinada a agricultura orgânica, além do aumento na proteção de reservas florestais. Claro, tudo isso valendo para alimentos importados.
E adivinha qual a nação que já tem mercado expressivo na União Europeia (UE), de modo que 4 dos 10 maiores compradores de produtos já são europeus, e ainda está em franca expansão? Só não adicionam o termo “brasileiros” a restrição, para evitar que a sanção não fique tão explícita. Um contexto – me desculpem, não consegui encontrar definição melhor – de caga-regra. No dicionário informal, uma “pessoa que se julga melhor ou superior a outras pessoas ao seu redor e ainda tenta impor suas vontades sem ter competência ou moral para tal e ainda por cima se esquivando de qualquer risco pessoal”.
Não vou elencar aqui todos os contra-argumentos diante das possíveis imposições, pois o artigo ficaria considerável longo e já existe, ainda que pouco acessado, materiais mais amplos e dedicados. Mas, a saber:
- O Brasil tem o código florestal mais rígido do mundo, enquanto os países europeus são muito mais flexíveis quanto ao uso da terra. A França, por exemplo, cagador-mor-de-regras, permite gramíneas, arbustos ou árvores como vegetações de áreas de preservação permanente (as famosas APP´s). No Brasil, podem ser consideradas apenas espécies de vegetação nativa. Para um benchmarking mais abrangente, recomendo a leitura do documento “Legislação florestal e de uso da terra: uma comparação internacional”.
- O Brasil é o país que mais preserva cobertura vegetal no mundo, com mais de 65% de sua vegetação nativa intacta, dos quais cerca de 1/3 são mantidos pelos terríveis agricultores brasileiros, que não recebem nada por isso. A França, preserva pouco mais de 30%, incentivando financeiramente os bondosos agricultores franceses.
- O Brasil, com a pequena expressividade agrícola que tem, ocupa o 58º lugar, de 245 países, no ranking de consumo de defensivos em função da produção agrícola, com o uso de 0,28 kg de defensivo por tonelada de produto (kg/t). Neste caso, ficamos atrás da França, que ocupa a 59º posição, com uso de 0,26 kg/t. Mas, a frente de outros países da união europeia como Portugal (0,66), Itália (0,44), Eslovênia (0,36), Espanha (0,35) e Países Baixos (0,29). Os holandeses, a propósito, figuram como uma das nações mais incisivas no debate, pedindo que a UE “mostrem os dentes” no cumprimento das regras ambientais.
Cabe ressaltar que ninguém aqui está defendendo ou sendo a favor dos alarmantes níveis de desmatamento ilegal (atenção para o termo, por favor). Pelo contrário, é necessário fiscalização e punição severa dos envolvidos. O que se defende é a não associação direta desses crimes ambientais aos produtores rurais brasileiros. Estes, pouco tem a ver com o desmatamento ilegal. De modo que reforço o termo pouco, pois seria ingenuidade minha (e falta de vergonha na cara também) dizer que não tem. Tem sim e os envolvidos, como qualquer outro criminoso, devem ser punidos.
Usar a questão ambiental e demais aspectos relacionados aos sistemas de produção de países já eficientes na produção agrícola – em muitos casos, melhores que os próprios proponentes – é uma atitude protecionista desleal e covarde. Em tempo que se enfatiza a declaração do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobre “passar boiada”, quem está servindo de boi de piranha é a agropecuária brasileira, enquanto europeu caga-regra. E o pior de tudo, boa parte da população brasileira compra isso.
João Rosa (Botão)
Business Director | Business Unit Head | Marketing & Sales Leader | Driving Growth in Animal Health & Nutrition ▁ ▂ ▃ ▄ ▅ ▆ ▇
4 aExcelente texto, Botão. Se me permitir eu vou compartilhar! Brasil, 🇧🇷 vamos pra cima!! Ministra, siga em frente!
Fazenda Piratini - Sady Empreendimentos
4 aQue show de artigo! Parabéns!
Engenheiro Agrônomo | Trainee | Agronegócio | Líder Agrícola | Sustentabilidade | Agricultura de Precisão | Meio Ambiente
4 aExcelente
Engenheiro
4 aLe Monde/Folha”- Europa aperta regras ambientais e pode endurecer comércio com Brasil. RECORDANDO! 1-Brasil 66% de cobertura florestal !Área do território com agricultura: 7,6%. O maior prestador de serviços ambientais, a “CUSTO ZERO” para a sociedade mundial... 2- “Os europeus desmataram e exploraram intensamente o seu território. A Europa, sem a Rússia, detinha mais de 7% das florestas originais do planeta, e hoje tem apenas 0,1%. 3- A soma da área cultivada da França (31.795.512 hectares) com a da Espanha (31.786.945 hectares) equivale à cultivada no Brasil (63.994.709 hectares). Algumas outras ocupações com agricultura e florestas: Dinamarca - 76,8% - Apenas 10 % cobertura florestas nativas/reflorestamentos Irlanda - 74,7% - Apenas 10 % cobertura florestas nativas/reflorestamentos Países Baixos - 66,2% - Apenas 8% cobertura florestas nativas/reflorestamentos Reino Unido - 63,9% - Apenas 12% cobertura florestas nativas/reflorestamentos; sendo apenas 2,4% com Floresta primária ou regeneradas naturalmente Alemanha - 56,9% - A Alemanha é o terceiro maior país exportador de produtos agrários no mundo.Quase um milhão de pessoas produzem mercadorias no valor de mais de 50 bilhões de euros por ano. $$
Head of Agro - Insurance | BTG Pactual
4 aIsso aí Botão, problema que se for debater com dados, argumentos lógicos e bom senso a UE cai em contradição. Duro é ver brasileiro mal informado comprando a briga contra o nosso país. Qual seria a opinião da Anita sobre estes pontos?