"Ah mas você teve sorte"

“Ah, mas você teve SORTE, sempre trabalhou em empresa boa”, é a frase que eu escuto frequentemente. Não, eu não tive sorte. O que eu tive foi coragem, protagonismo e persistência. Nunca foi fácil. Para eu trabalhar nessas empresas foi necessário dedicação, estudo, paciência, humildade e resiliência. Foi necessário começar a trabalhar aos 15 anos, eu não precisava, mas eu queria. Eu nunca estive na minha zona de conforto, o tempo todo fui desafiada e motivada a crescer, evoluir. Sai jovem do interior para trabalhar na capital. Mas eu não tinha apartamento lá para descansar depois do trabalho ou tomar um banho antes de ir para faculdade, então o que eu fazia? Ia e voltava de ônibus todos os dias, descia próximo a faculdade e ia correndo para dar tempo de chegar antes da chamada. De brinde veio os perrengues, como viajar 6hrs do meu dia dentro de transporte público (metrôs, ônibus e trens superlotados), junto com a minha fiel escudeira, minha mochila pesada nas costas, nela tinha uma troca de sapato (porque não dava para andar 2km de salto, então eu levava o chinelo ou a sapatilha na bolsa), tinha os livros e cadernos pesados da faculdade, o guarda-chuva para “proteger” das chuvinhas “pega peão” rs e a marmitinha que não poderia faltar ne? Afinal, eu não tinha dinheiro para comprar comida fresca todos os dias para jantar. Foram inúmeros perrengues que hoje me recordo com carinho e até os acho engraçados.

Além do esforço físico, tinha também os relacionamentos interpessoais, eu convivia com pessoas com padrão financeiro, com escolaridade e vivências totalmente contrárias à minha, mundos extremos, mas nunca deixei a minha essência, sempre fui a menina do interior desbravando a capital, eu aprendia e me complementava com eles. Conheci grifes, comi em restaurantes refinados e frequentei lugares sofisticados, coisas que meus amigos da escola não conhecem e não sabem muitas vezes o que é, parece distante. Eu nunca quis estar na posição de coitadinha, nunca me coloquei e nunca deixei que me colocassem até porque eu não sou, eu escolhi viver isso, eu escolhi passar por isso, eu sabia que não seria fácil, mas também sempre soube que seria possível. O que meus amigos do trabalho sabem tecnicamente, eu também sei, mas sei pela experiência, pela raça, pela curiosidade, pela busca. Eu nunca me senti inferior, porque eu sempre busquei e corri atrás do meu espaço. Todas as vezes que eu chorei, eu sequei minhas lágrimas e pensei: “vai valer a pena”. E valeu. Está valendo, tem valido. A jornada está só começando, ainda tem muita caminhada pela frente, entretanto, chegar até aqui me enche o coração de gratidão, de orgulho e de superação. Eu me sinto realizada e feliz do que caminho que trilhei e das pessoas que me ajudaram a chegar até aqui. Eu poderia ter escolhido os mesmos caminhos de alguns colegas da escola, o caminho mais fácil, do comodismo, “sem dor de cabeça”, mas não, eu escolhi escrever a minha própria história, escolhi subir a montanha para poder apreciar a paisagem lá de cima, sei que quando chegar lá, terei uma coleção de momentos inesquecíveis criados a partir do meu próprio esforço, eu sou responsável por ela, ela só depende de mim e trabalho todos os dias para me motivar a continuar a escalada. Afinal, todas as ferramentas estão comigo, está com você também, para desenvolver, poder e fazer sua história como quiser!

Essa é a minha história, e a sua? O que tem feito o que por ela? Você não vai voar se continuar a trilhar os mesmos passos, sem desenvolver suas asas, sem sair da sua própria zona de conforto.