Cuidados durante o período de colheita

Nas últimas semanas, juntamente à colegas agrônomos, acompanhei o corte de lavoura de milho em várias propriedades (principalmente produtoras de leite) na região do Alto Paranaíba-MG. Neste artigo, vou elucidar alguns pontos relevantes para produção de silagem de milho, com foco em rebanhos leiteiros.

1. Determinar o momento ideal para colheita

Já é sabido que o momento ideal para colheita da lavoura influencia diretamente na qualidade final do produto obtido. O fator determinante para colheita é o teor de Matéria Seca (MS) e digestibilidade do amido da planta, lembrando que estes variam de acordo com a escolha do cultivar, condições climáticas da região, solo e manejo da cultura.

O teor de matéria seca pode ser feito antes do momento da colheita, para ser determinado o dia estimado de início. É importante frisar que, muitas propriedades dependem de serviços terceirizados, portanto nem sempre o início da colheita será no dia exato programado segundo as análises.

Alguns cuidados com esta análise são necessários: coletar amostra de vários pontos (seja antes do corte, coletar de vários pontos da lavoura ou durante o corte, coletar de vários pontos do silo) e homogeneizá-la, feito isso, pesar a quantidade da amostra para análise (nesse caso foi usado 100g).

2. Tamanho do corte das partículas

Outro ponto importante para qualidade de silagem, principalmente para rebanhos leiteiros, é o tamanho das partículas do alimento, já que esses animais possuem uma exigência mínima de fibra fisicamente efetiva (FDNpe) para estimular a ruminação e salivação.

A composição de uma planta de milho é quase inteiramente de carboidratos, seguida pelas proteína (em média 6%) e extrato etéreo (em média 3,2%).

Vacas em lactação podem produzir até 308L de saliva/dia (Cassida e Stokes, 1986). A saliva de ruminantes é rica em íons bicarbonato e fosfato, que contribuem para remoção de íons hidrogênio (H+), que são produzidos durante a fermentação ruminal dos alimentos, mantendo pH ruminal em níveis adequados.

A ruminação é estimulada pelo colchão fibroso formado no rúmen. Esse colchão é formado por fibras (de tamanho adequado) que ficam flutuando no rúmen, enquanto que partículas mais densas (geralmente de alimentos concentrados) vão para o fundo do órgão. O colchão fibroso estimula receptores na região do cárdia, estimulando o movimento do órgão e consequentemente a ruminação. Além disso, o colchão fibroso "retém" as porções de alimentos concentrados por um tempo maior, afim de aumentar sua digestibilidade, caso contrário, iriam direto para o fundo do rúmen e teriam taxa de passagem rápida, acarretando em baixo aproveitamento nutricional destes alimentos.

Mertens (1997) propôs o conceito de FDNpe, e um fator associado a esta medida variando de 0 a 1, sendo 0 quando a FDN não é capaz de estimular a atividade mastigatória e 1 quando o FDN possui grande capacidade de estimular a atividade mastigatória. Além disso, sugeriu que a formulação de dietas para vacas leiteiras, deve conter, no mínimo, 21% de FDN da MS total.

Em contraposto, a FDN pode causar limitação física (devido ao enchimento ruminal) e com isso, o animal ter menor ingestão de MS que o necessário. Por isso, o teor máximo de FDN é de 1.1-1.2% do peso vivo na dieta total. Esse valor pode variar de acordo com a categoria animal e produtividade, principalmente em lotes de alta produção, no qual geralmente os animais estão sob dieta de desafio para intensificar o pico de produção.

O método utilizado para avaliação do tamanho de partículas de uma silagem é denominado de Penn State Particle Size Separator, e constitui um sistema de peneiras perfuradas com orifícios de diferentes diâmetros, que separam percentualmente uma certa quantidade de silagem estratificada após a movimentação das bandejas.

Realização do método:

1- Coletar amostras em vários pontos do silo e misturar;

2- Pesar uma amostra de 500g e colocar na peneira de cima;

3- Movimentar 5x de cada lado no sentido horário e 5x cada lado no sentido anti-horário;

4- Pesar conteúdo que ficou retido em cada peneira;

5- Para conferência: some o peso obtido nas 3 peneiras (terá que ser em média 490-500g), esse valor será considerado 100% da amostra. Feito isso, calcule o percentual de cada peneira.

Existem inúmeras maneiras de se fazer o passo 3, cada profissional realiza as movimentações de uma forma. O importante é que essa movimentação seja feita sempre pela mesma pessoa (em casos de ajuste de corte de facas da máquina, essa análise é feita durante todo o período de colheita) e que sejam movimentos amplos, ou seja, que percorra a maior distância possível em cada movimentação, por isso, não é recomendado que se faça abaixado.

*A determinação exata desses índices deve ser feita juntamente ao Nutricionista responsável pela propriedade, pois pode ter uma série de variáveis de acordo com a dieta e tipo de animal que a utilizará.

Com esses dados, é possível realizar ajustes necessários de aumento ou diminuição de corte (geralmente essa abertura varia de 16 a 26mm) na máquina ao longo da colheita, garantindo assim um volumoso com boa proporção de FDN efetivo para os animais.

3. Análise de Grãos Inteiros X Grãos Quebrados

Espero ter agregado conhecimento aos leitores e qualquer dúvida, crítica ou conselho, podem me procurar no LinkedIn. Estarei a disposição para melhor auxiliá-los.