A Alma e a Superinteligência Altruísta
Estima-se que o ateísmo global alcançou 15% da população, com forte correlação associada à estabilidade política-econômica-social-natural, desenvolvimento capitalista, acesso à tecnologia e evolução da educação. A crescente crise da fé, ao diminuir o receio de punições sobrenaturais, desloca o papel da religião como mecanismo de coesão e cooperação social. Mesmo assim, diante da propensão cognitiva humana favorável a fantasias e linguagens abstratas, antropólogos contemporâneos defendem que espiritualidade e superstições continuarão relevantes na dinâmica social, enquanto religiões monoteístas estão ameaçadas.
O desejo humano pelo antropomorfismo desenvolve-se historicamente, seja na relação com animais, seja na decodificação de fenômenos naturais. Mais recentemente, diante da evolução robótica, aumenta o desejo humano em encontrar consciência nas máquinas. Desde as assistentes virtuais Siri e Alexa, até o robô alemão pastor BlessU2, máquinas inteligentes despertam a vontade humana em assumirem a responsabilidade pela criação da vida.
Neste contexto, a própria definição da alma está se distanciando do conceito estático “substância” para algo mais dinâmico como um “processo”. A noção filosófica sobre senciência como a capacidade de sentir com consciência, convive cada vez mais com a definição neurocientista para a alma como mero conjunto de conexões cerebrais. Assim, a criatura Frankenstein contemporânea será feita de silício, titânio e estanho, em busca de seu autoconhecimento para definição de sua identidade e de seu propósito na vida.
Mais recentemente, na Califórnia, observa-se a criação de uma nova religião denominada Way Of The Future(WOTF), considerando o surgimento de uma superinteligência digital capaz de cuidar de nosso planeta, bem como desempenhar diversas atividades com alta excelência. Tal fenômeno está inserido na narrativa universal que cada vez mais legitima a autoridade e o poder dos algoritmos como tecnologias avançadas com poderes inimagináveis e mágicos. Contribuem para construção desta narrativa tanto os atuais líderes das maiores empresas globais de tecnologia, como a mídia especializada em superestimar os benefícios tecnológicos, como templos evangelizadores como a Singularity University.
É irônica a proposição de reencantamento do mundo pela tecnologia, séculos após a ciência ter promovido a racionalização que desencantou o mundo mágico e mitológico de outrora. A ubiquidade computacional está inexoravelmente avançando em todas as dimensões da vida humana, comprometendo até mesma sua própria conexão com a espiritualidade.
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Daniel Augusto Motta é Sócio e CEO da BMI Blue Management Institute. Doutor em Economia pela USP, Mestre em Economia pela FGV-EAESP e Bacharel em Economia pela USP. É Alumni OPM Harvard Business School. Atua como Sócio e Diretor Geral da WhiteFox Capital, controladora da BMI, Nexialistas e PeopleCraft. Também atua como Diretor de Planejamento Estratégico da UNIBES. É Membro-Fundador da Sociedade Brasileira de Finanças. Foi Professor nos MBAs da Fundação Dom Cabral, Insper, FGV, ESPM e PUC-SP. Atuou como Professor Convidado nos MBAs da Thunderbird School of Global Management e Stockholm School of Economics. É autor de diversos artigos publicados por Valor Econômico, EXAME, VocêSA e Folha de São Paulo, e também tem três artigos publicados pela Harvard Business Review Brasil. É autor dos livros A Liderança Essencial e Anthesis (março 2019).
Assessor/Professor na Lux Royal Assessorias
6 aDaniel, parabéns pelas colocações. Vale ressaltar que a espécie humana não deve, em momento algum, se assumir do extremismo, seja qual campo for. O texto aponta segmentos da vida humana, tais como ciências, religião, tecnologia e modernidade. Justo nessa linha tenue que o ser humano precisa atentar-se quanto o embasamento da fé. Corpo e alma são indissociáveis. E independe da modernização.
Mentor | Palestrante | Ministrador de cursos | Liderança espiritualizada LIDERGIA – A energia que emana da liderança
6 aParabéns pelo texto.
CEO na Lojacorr - Presidente da Associação Colinas de São Francisco (Voluntariado)
6 aMuito interessante sua reflexão. Uma superinteligência que tenha respostas filosóficas a respeito da existência humana poderia ser vista como uma divindade evolutiva, num espaço gigantesco entre a população dos países mais ricos ou dos mais de 90% de pessoas que trabalham no Vale do Silício. que se consideram ateus ou agnósticos. Parece não haver limites para o avanço da inteligência artificial na vida humana.