Alocação estratégica da carteira de investimentos para 2020: o que fazer? – Atualizado
Iniciamos 2020 com uma perspectiva favorável para a economia. O Brasil indicava que seguiria no caminho das reformas estruturais, a taxa básica de juros estava nos menores níveis da história, a inflação ancorada na meta e o cenário externo um pouco mais tranquilo com o acordo na guerra comercial entre EUA e China.
Agora, tudo mudou. A existência de uma pandemia mundial afetou os mercados de forma generalizada, e é necessário rever o posicionamento da carteira, tanto para se proteger, quanto para aproveitar oportunidades.
Na renda fixa, o estresse causado pelo Coronavírus abriu boas oportunidades de alocação em crédito privado, uma vez que bancos e empresas de primeira linha passaram a emitir CDBs e debêntures com taxas muito atrativas, reflexo da falta de liquidez que afetou o mercado, e não de uma deterioração da capacidade de pagamento. Quem tinha caixa pode comprar debêntures de infraestrutura de empresas com classificação de risco AAA a IPCA+5% a.a., por exemplo (lembrando que é uma aplicação isenta de imposto de renda). Para quem prefere não correr risco de crédito, os títulos públicos também tiveram um aumento das taxas, principalmente os de médio e longo prazo, que podem ser levados a vencimento.
Ainda na renda fixa, os fundos de inflação longa não me pareciam ter boa relação entre risco e retorno já no começo do ano, o que se acentuou ainda mais nesse momento. Estamos vivendo uma crise de saúde, econômica e política, teremos instabilidade com eleições municipais, eleições americanas, volta do atrito entre EUA e China. E temos também uma grande dúvida sobre a retomada da agenda de reformas após a crise do Covid diminuir. Todos esses elementos irão se refletir em uma volatilidade elevada para a curva de juros de longo prazo, afetando negativamente os fundos de inflação, o que já está ocorrendo e pode se acentuar.
Acredito ainda que devido ao momento de elevada instabilidade, vale a pena manter uma parcela em ativos pós-fixados (com liquidez imediata) um pouco superior ao que o investidor está habituado, tanto para reduzir a volatilidade, quando para ter caixa para aproveitar ativos que fiquem baratos.
Já sabemos que a taxa básica de juros irá encerrar o ano em seu menor patamar da história e que temos a chance de ter juros reais zerados ou até negativos nesse cenário. Desta forma, mesmo com toda a instabilidade que estamos vivendo, ainda vejo a renda variável como uma boa alocação a médio/longo prazo.
Para o investidor que já estava com posição relevante em renda variável e foi altamente impactado pela crise, acredito que a melhor estratégia é manter as aplicações e através de novos aportes buscar ativos de outras categorias que tenham baixa correlação com o mercado de ações brasileiro, para tentar reduzir o risco global da carteira. Além dos ativos de crédito privado já mencionados, temos, por exemplo, fundos multimercados quantitativos, fundos long-short, fundos cambiais, ouro, etc.
Para aqueles que ainda não tinham uma posição relevante em renda variável, acredito que seja um bom momento para montar sua carteira neste segmento, com cautela. Primeiro, muitas gestoras esperam que a recuperação econômica ocorra primeiramente nos EUA e China, antes do Brasil. Ou seja, faz sentido buscar uma exposição ao mercado de ações internacional, o que pode ser feito por um ETF de S&P, por um fundo de investimento no exterior ou por um COE por exemplo.
O mercado de ações brasileiro, apesar de ter boas oportunidades, ainda exige cautela em função da elevada incerteza sobre os rumos da economia após a crise. Acredito que uma alternativa simples para fazer a alocação é escolher um bom fundo de ações e contar com uma gestão profiossional.
Também é possível aproveitar o momento atual para aplicar em fundos imobiliários, que tem menor volatilidade do que as ações, ficando atento para o segmento, afinal algumas categorias ainda irão sofrer com a falta de atividade econômica, por exemplo, os fundos de shoppings. Uma alternativa simples é aplicar em um FIC, que já tenha uma carteira diversificada de ativos.
Por fim, ouro e dólar são categorias importantes para uma carteira de investimentos diversificada. Como estamos em um momento de alta destes ativos, uma alternativa é construir essa parcela da carteira aos poucos e fazer um preço médio. No entanto, a aplicação em dólar e ouro deve ser vista como proteção e não como busca por valorização. São categorias que tem baixa correção com o restante do seu portfólio. Ou seja, se esses ativos apresentarem um rendimento negativo, isso provavelmente indica que o restante da sua carteira está tendo um bom desempenho, e este é o principal objetivo da diversificação de investimentos.
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4 aExcelente análise e recomendações, Amanda Marinho. Parabéns pelo ótimo artigo. Particularmente, concordo com sua análise sobre os fundos de inflação. As quedas foram terríveis mas, diferente do mercado de ações, que tem uma perspectiva de retomada mais rápida, o cenário para o futuro destes fundos tende a ser pior. Também concordo muito com seu conceito de diversificação, tanto buscando uma parte atrelada a ações no exterior, como um pouco em ouro ou dólar. Talvez de tudo o que você falou, o maior cuidado deva ser com a parte dos fundos imobiliários. A análise destes ativos não deve passar apenas pela lógica de análise de ações, sobretudo os da análise gráfica. Por mais que alguns fundos pareçam estarem com um valor baixo para entrar, como ocorreu com ações, de modo geral, no caso dos FIIs a queda nos dividendos distribuídos pode ser muito alta e muitos vão passar por dificuldades, realmente. Não apenas os fundos de shoppings - talvez o mais fácil de entender - mas também fundos que alugam imóveis comerciais/empresariais ou atendem a negócios que estão sofrendo muito. Eventualmente, em situações mais caóticas, cotistas podem ser até chamados a fazer um aporte. Mas gostei da sua dica dos FIC, pois dilui muito o risco.
Diretor Comercial, Privatiza AAI
4 aPerfeito Amanda.