Ambidestria: eu quero uma pra viver (e inovar)

Ambidestria: eu quero uma pra viver (e inovar)

A rima parece fora de hora, mas vale a reflexão: em um mundo que se acostumou a falar em “ideologia” para gerar polarizações e agravar extremismos, outra palavra vem se mostrando cada vez mais importante no ambiente de negócios: ambidestria.

Mas, afinal de contas, o que significa exatamente esse conceito de ambidestria organizacional? Segundo algumas definições, seria a capacidade de as organizações desenvolverem estratégias para explorar o ambiente em busca por soluções inovadoras, ao mesmo tempo em que otimizam sua capacidade instalada para sustentar o crescimento do negócio hoje.

Em outras palavras, é o conceito por meio do qual a companhia pode antecipar tendências e inovações que ajudem a assegurar sua sobrevivência no longo prazo por meio de adaptação rápida e eficaz a mudanças, ao mesmo tempo em que fortalece o negócio atual com performance e altos índices de competitividade.

Até parece ser algo complicado à primeira vista, mas vale ressaltar que algumas organizações, em diversos setores, já vêm aplicando esse conceito.

Algumas estão fazendo isso por meio da Agilidade – e colhendo bons resultados segundo estudo da McKinsey publicado em maio de 2021. A pesquisa foi realizada em outubro 2020 e contou com 1.978 respondentes de companhias de todos os setores e regiões do mundo – a maior parte executivos de C-Level ou gerentes seniores de organizações com mais de 5 mil colaboradores.

Seguem alguns resultados abaixo:

- 30% da amostra acham que a Transformação Ágil foi altamente bem-sucedida;

- 30% de aumento na satisfação dos consumidores;

- 30% de melhora em processos operacionais vitais para a organização;

- 30 pontos percentuais de aumento no engajamento dos colaboradores;

- 30% de ganho de eficiência.

E, talvez o principal número por aqui: houve um aumento de cinco a dez vezes na velocidade para a tomada de decisão – uma “agilidade” (desculpe o trocadilho) fundamental em um mundo cada vez mais complexo, marcado justamente pela velocidade das mudanças.

Pelo tamanho das companhias em que atuam os executivos presentes na amostra, é possível a inferência de que, mesmo aplicando os métodos ágeis e novas formas de trabalho, esses negócios continuaram focando nos resultados de curto prazo enquanto se reestruturavam para se tornarem, pouco a pouco, organizações mais ágeis e inovadoras em um ambiente em que a disrupção surge também como uma nova palavra de ordem.

Ainda segundo o estudo da McKinsey, quatro passos nessa Transformação Ágil podem aumentar os índices de sucesso:

- Assegurar que a alta liderança esteja engajada;

- Ser intencional na mudança e agir de acordo com os valores da empresa;

- Ir além dos times ágeis e estabelecer outras conexões entre as áreas;

- Manter a velocidade alta da transformação e utilizar os early-adopters como multiplicadores.

Outro ponto que eu destacaria é que essa não é uma simples escolha entre “velhas formas de trabalho” e “novas formas de trabalho” – como se pudéssemos transpor para o ambiente corporativo o Fla-Flu das polarizações políticas e das oposições inconciliáveis. Trata-se de uma transição que se faz em um ritmo que deve respeitar a cultura atual da organização, apontando para novos atributos dessa cultura que aos poucos serão colocados em prática.

Ao longo de 2022, devo retomar esse tema da ambidestria organizacional em outros artigos, até porque esse é um dos tópicos do meu projeto de pesquisa na EACH-USP sobre Cultura de Inovação nas empresas. E te convido a fazer essa reflexão comigo. Vamos juntos?

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