Ambientes Inclusivos

 “Só uma sociedade que inclui todas as pessoas pode concretizar o seu verdadeiro potencial” (ENIPD, p.3).

A maior parte das ações humanas são dirigidas. Não nos limitamos a caminhar, a alcançar, a recuar ou a fugir; caminhamos e alcançamos determinados objetos/objetivos, evitamos ou fugimos de outros. Assim, os motivos têm dupla função: primeiro, o de conduzir para a realização de um determinado comportamento e, segundo, o de potenciar certas perceções, sentimentos e comportamentos em detrimento de outros.

É emergente identificar as competências, potencialidades e dificuldades individuais para que se torne possível realizar e executar um plano de intervenção eficaz.

 “A educação tem um papel imprescindível na compreensão e otimização do bem-estar intra e interpessoal, nas tarefas do desenvolvimento, na autonomia” (Lopes, Galinha, & Loureiro, 2010, p.27).

Autonomia aprende-se e é um processo para toda a vida.

O AutonomEU tratou-se de um projeto que visava não só a conceção, como a implementação de um programa de treino de competências ao nível da capacidade funcional e cognitiva da PCDI, para a preparação para a autonomia e vida independente. Podemos afirmar, com base nos resultados obtidos, que este projeto teve um impacto positivo nas vidas de cada beneficiário, bem como, contempla qual o caminho, que estratégias, quais as competências a seguir no âmbito da autonomia.

De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-IV-TR, 2002), a classificação da gravidade da deficiência intelectual e/ou incapacidades é avaliada tendo por base o funcionamento adaptativo e não os valores do QI, uma vez que é o funcionamento adaptativo que determina o nível de suporte necessário.

Segundo a pesquisa explanada por Hutching e Chapli (2017), uma população total de 91 adultos com deficiência intelectual em residências autónomas com supervisão, em New Jersey, nos EUA, demonstrou que as competências funcionais e as oportunidades para as adquirir sofrem um impacto direto da relação entre o ambiente, o local onde moram, a atitude e a forma de apoio prestada pelos colaboradores/cuidadores formais. “Viver num ambiente físico que não corresponde às necessidades da pessoa é frustrante e desestimula a autonomia e independência” (pág.82).

Para Jacob (2016), a questão central não é a dependência para realizar tarefas, mas sim o exercício da autonomia, que deve ser sempre valorizada, repetitiva e jamais negligenciada, por menor que seja a possibilidade de aquisição. A manutenção e, quando possível, o desenvolvimento dos níveis de autonomia, é o que permite às pessoas com deficiência apelar aos seus direitos e deveres e se emanciparem enquanto cidadãos.

O défice no comportamento adaptativo, relacionado com o défice cognitivo, afeta certos ambientes da vida do ser humano – ao nível social (competências da comunicação, estabelecer relações interpessoais, etc.), conceptual (competências ao nível da memória, resolução de problemas, etc.) e funcionamento prático (aprendizagem e auto monitorização em diferentes contextos de vida). Nos últimos anos, tem-se verificado que a Perturbação do Desenvolvimento Intelectual tem tido uma elevada prevalência principalmente no que concerne à necessidade de suporte. 

É relevante ter em consideração que existem problemáticas intelectuais que não podem ser distorcidas, a ponto de se pedir que desempenhem funções consideradas “normais” na sociedade onde se encontram, contudo, podem ser criadas estratégias específicas para favorecer ganhos importantes ao comportamento adaptativo da pessoa com deficiência intelectual.

 Assim sendo, não se trata apenas de direitos, mas sim, um investimento numa sociedade com valores humanamente melhores. Quando os ambientes sociais, nomeadamente trabalho, espaços públicos, comércios e locais para lazer estiverem predispostos a realizar a adaptação necessária para acolher a presença de todas as pessoas, a sociedade enriquece.