AMIGO OU INIMIGO?
No artigo anterior, explorei o tema do “#doppelgänger”, que tem a ver com a existência de uma outra pessoa que se passa por você, seja no mundo real ou virtual. Nesse artigo, abordo a questão do “outro eu” que habita em nós e que contamina praticamente todas as nossas decisões, para o bem ou para o mal.
Todos nós temos um “outro eu”. Uma “outra pessoa” dentro de nós que emerge diante de provações de medo ou coragem. A predominância de uma sobre a outra é determinada por um desses “dois eus”.
Quem já não optou por uma escolha, desejando que a decisão fosse outra? São dilemas que surgem no ambiente social, familiar e profissional e, quase sempre exigem uma tomada de posição: sim ou não? A hora do sim no casamento; o medo da morte; o pedido de aumento para o chefe; arrepender-se da violência com os filhos; fingir que está gostando da festa; esquecer o aniversário da esposa ou do casamento; mergulhar em alto mar; saltar de paraquedas; pedir demissão... São exemplos simplistas desse processo a que todos estamos submetidos ao longo da vida, independente de nível intelectual ou social.
O medo e a coragem são inerentes ao ser humano. São mecanismos de sobrevivência intrínsecos, moldados pela evolução biológica do homem. Nosso desafio é fazer a opção certa diante de cada situação. Via de regra, optamos por não correr riscos, mas ninguém está imune à força do ego, que extrapola o medo e gera consequências imprevisíveis, quase sempre, danosas às pessoas.
O “outro eu” é amigo ou inimigo? Eis a questão.
Na psicologia, muitos se dedicaram ao tema. Sigmund Freud estudou a dupla personalidade, que é a manifestação mais radical do “outro eu”. mas foi Otto Rank, seu discípulo, quem se dedicou ao estudo do "medo primordial do nascimento" e sua influência em nossas vidas. Ele acreditava que a coragem se desenvolvia ao confrontarmos o medo original com a busca pela autonomia.
Carl Jung foi além, com a teoria do inconsciente coletivo e dos arquétipos, que trouxe novos argumentos ao tema da dualidade medo/coragem. Ele definia o "outro eu” como “sombra”, o lado obscuro da personalidade, que abriga impulsos reprimidos, incluindo o medo. Segundo Jung, a coragem, por sua vez, surge da integração da sombra na busca pela individuação.
Na literatura, o “outro eu” inspirou muitos autores. Shakespeare foi um deles. Em "Hamlet", o príncipe vive paralisado pelo medo da vingança, mas demonstra coragem ao enfrentar seu destino. Macbeth, por sua vez, consumido pela ambição, torna-se corajoso e cruel.
Recomendados pelo LinkedIn
Em "Crime e Castigo" de Dostoiévski, Raskolnikov é atormentado pela culpa e pelo medo após cometer um assassinato, mas apesar do ato, busca a redenção.
Joseph Conrad explora a dualidade da natureza humana em “Coração das Trevas”, onde o personagem Mr. Kurz, é um homem civilizado que sucumbe à barbárie na África e se converte numa espécie de semideus.
A dualidade também está presente em “O Médico e o Monstro”, de Robert Louis Stevenson, onde emerge a dualidade radical de Dr. Jekyll e de Mr. Hyde. Um duelo que causou impacta audiência desde que foi lançado, em 1886, e depois ganhou diversas versões cinematográficas.
Por falar em dualidade, impossível esquecer “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde. Dorian, homem de rara beleza, faz um pacto Faustiano para permanecer eternamente jovem, enquanto o retrato envelhece em seu lugar. O desejo se torna realidade. Ele mergulha numa vida de prazeres e excessos, até que a situação se inverte: o retrato rejuvenesce enquanto ele definha.
No contexto do artigo, importante não confundir esse conceito com o #TDI (Transtorno Dissociativo de Identidade), que exploro no artigo anterior e que é uma doença mental grave que extrapola – e muito – a dualidade medo/coragem, ainda que um “alter” possa se manifestar mais corajoso e o outro mais temeroso.
Para um empreendedor de 72 anos, refletir sobre a dualidade medo/coragem é fundamental, pois para construir uma longevidade ativa e produtiva é preciso duelar com ambos os sentimentos diariamente. A ciência comprova que a passividade e a procrastinação são perniciosas. Diante do etarismo estrutural da sociedade; da necessidade de dar relevância à nossa existência; do desafio de gerar renda para sustentar o longeviver, entre outros obstáculos a serem superados pelos 50+, entendo que ousar e encarar o futuro com otimismo é a melhor saída, evitando que o ego seja protagonista.
Essa é um aprendizado que evolui com a experiência. Por conta dessa crença, nasceu nosso canal ViverTV+ , que irá explorar e debater todos os temas que impactam e direta e indiretamente na longevidade. Medo e Coragem, certamente, são dois deles. #Tamojunto!
Professional of Market Research at Ceap Centro de Assessoria e Pesquisa de Mercado Conprem
1 semExcelente artigo!
Coach e Mentor de Profissionais 50+ | Estudioso da Longevidade, Bem-Estar e Empreendedorismo | Facilitador de Inovação e Desenvolvimento de Carreira | Palestrante TEDx
2 semExcelente reflexão Ricardo Mucci, e parabéns pela proatividade. Sucesso com o canal ViverTV+.
Editora e publisher do portal avŏsidade
2 semÓtimo artigo. Na longevidade essa dualidade se faz presente de forma mais imensa. Ter coragem e seguir em frente com os nossos projetos, planos, sonhos... Ou resignar-se a uma trajetória que nos frustra e entristece.
Consultor de comunicação
2 semExcelente texto Ricardo Mucci! Gostei bastante. Um tema importante e atual!