A ANGÚSTIA NA PSICANÁLISE E O HOMEM CONTEMPORÂNEO.
Angústia (Angst) – Eu vejo a angústia como um sentimento de que falta algo, um sufocamento, dor no peito, ansiedade, insegurança e principalmente o desamparo.
A Angústia é de todos os sentimentos, aquele que nunca está só. Da angústia nasce todos os fenômenos psicológicos. Imagine aquele domingo a tarde, o final de ano, para algumas pessoas, o aniversário. Veja outro exemplo, o TOC (transtorno obsessivo compulsivo), nos comportamos de forma a repetir, refazer para não chegar no final das coisas, é uma das mais torturantes defesas contra a angústia desenvolvida pelo nosso mecanismo de defesa.
A ANGÚSTIA NA PSICANÁLISE
A Psicanálise nos explica que é uma falta eterna, por isso temos que aprender a lidar com ela e verdadeiramente levar vantagens.
A primeira teoria freudiana da angustia, se constitui a partir dos estudos sobre as neuroses de angustia (1895). A perspectiva é de uma má utilização da energia da libido, ou seja, a libido não se descarrega e que se transformaria em angústia.
Em seu artigo no livro Inibição, Sintoma e Angustia (1926), Sintoma e Angustia introduz a segunda teoria da angustia, definindo-a como um afeto cujo caráter acentuado seria o desprazer, com resultados físicos ligados diretamente a alguns órgãos do corpo e que seria a causa do mecanismo defensivo também conhecido como recalque, produtor dos sintomas neuróticos.
Em “O Homem dos Lobos” (Freud, 1914) o desejo sexual pelo pai é recalcado e reaparece como uma fobia de um animal. O afeto é transformado em ansiedade. O recalcamento foi ineficaz, pois embora tenha substituído um representante por outro, não evita o desprazer provocado pela angústia.
Em “O Pequeno Hans”, Freud fala que uma fobia se forma como mecanismo de defesa para evitar a angústia. No caso em questão, Hans é uma criança de 5 anos que tem medo de sair de casa e medo se ser mordido por um cavalo branco. Medo de ser mordido em seu pênis por este cavalo. O medo do pai recalcado e transferido para o medo deste cavalo branco é o mecanismo de defesa contra a angústia criada no processo de castração.
Para Freud, definitivamente a angústia esta relacionada ao nascimento e a sede dela é o Ego que pode inclusive produzi-la. Por estar em contato com o mundo externo, o Ego recebe estímulos que ficam armazenados na memória. Desta forma, ele regula as excitações, evitando estímulos intenso com o intuito de evitar as angústias. Podemos ter mais detalhes em “Esboço de Psicanálise” 1932 – 1969, quando o autor esclarece as funções do Ego, Id e Superego. Neste mesmo artigo, ele vai considerar o desamparo biológico vivido no momento do nascimento, como o protótipo da experiência da angústia. É a separação do individuo (bebê) do corpo da mãe, o excesso de excitações advindas do mundo exterior e a incapacidade de simbolização desta experiência que levaria a um estado de desamparo, e que segundo Freud, indicaria como a primeira experiência de angústia vivida pelo Ser Humano. Posteriormente, as experiências de ansiedade, funcionariam como uma sinalização da possibilidade de retorno da experiência de desamparo do sujeito, um sinal de perigo uma vez recalcado ele aparece representado em outras formas. Freud assinala aí uma importante passagem da ansiedade automática para a angústia, sinal que permitirá ao sujeito um preparo diante do que poderia ser traumático.
Concluindo:
A angústia é a mãe de todos os sentimentos, de todos os comportamentos. A angústia é a busca de algo que não sabemos, do objeto que algumas vezes nem conhecemos. A psicanálise nos ensina a viver esse sentimento. Da angústia nasce todos os fenômenos psicológicos. Da angústia nasce as doenças sintomáticas, o amor, o ódio, o medo, os desejos, a agressividade.
CASAMENTO E A ANGÚSTIA
O casamento é a busca angustiante do objeto perdido, ele ainda é o fator de identidade na cultura contemporânea. Para que encontre esse objeto, é preciso estar numa fase narcísica, aonde nos preparamos para conhecer pessoas, saímos mais, vamos a festas, barzinhos com amigos, colegas de escola, cinema etc., esta fase chamada de social, onde o indivíduo passa a buscar dentro na sua tribo, aquela que de alguma forma, irá atender seus desejos e acredita também, irá preencher a falta que vem da sua angústia mais profunda. No momento em que os olhares se cruzaram, trocam ideias, passam a trocar informações boas um sobre o outro, contando ao outro tudo aquilo que tem de melhor, iniciasse o relacionamento. No começo deste relacionamento iniciado lá na fase narcísica, ainda na fase social, começam o processo de afastamento do grupo, já não é mais importante estar com o grupo o tempo todo.
No momento em que a relação começa se tornar algo mais séria, onde já começa a necessidade de estar mais tempo juntos e sozinhos, dá-se início ao compartilhamento das angústias, onde um passa a suportar a angústia do outro, e é nesta fase que chamamos de fase psíquica, a relação de dependência e que se torna durante algum tempo, um processo terapêutico onde com as angústias compartilhadas, vem seguidas de uma sensação de alivio e satisfação e de encontro daquilo que buscamos e não sabemos, e pensamos assim: (esta pessoa me escuta, me entende, dá sua opinião positiva e me ajuda a solucionar meus problemas) e que juntamente com o sexo, que também é um elemento de alivio das angústias se transforma no sentimento maior que é o “AMOR”.
Obs: De acordo com Freud a respeito da neurose de angústia, ele atribui a causa ao sexo rápido, incompleto.
A ANGÚSTIA E O HOMEM CONTEMPORÂNEO
O homem de hoje vive um grande dilema de transformação. Comecemos com a criação desse homem dentro do relacionamento familiar. A ideia é falarmos de Freud, mas lembremos por um instante como Winicott, pediatra e psicanalista Inglês, explica de como a mãe mobiliza a angústia em relação a seu filho. Ele diz que a mãe para cuidar de seu filho, tem que ser “SUFICIENTEMENTE BOA”. Ela vai ter que aguentar o choro, manter seu bebe limpo, dar comida 4 vezes por dia e suportar as angústias traduzidas em choro do bebê. Esta criança vai ser criada dentro dessas bases de ter essa mãe atendendo suas necessidades de pronto e suportando suas angústias. Entendamos que num processo de amadurecimento deste indivíduo, essa mãe passa a deixar de suportar suas angústias gradativamente. A mãe também deixa de ser seu objeto de desejo, dentro do processo de castração. Já na fase entre a adolescência e a fase adulta, esse indivíduo, passa a buscar esta mãe e o suporte das suas angústias, agora bem mais complexas, em uma outra pessoa. Por outro lado, por influência de ambos, pai e mãe, este homem acredita que o mundo exige dele os papéis de herói, líder, provedor e protetor, e isto o leva ao grande conflito da onipotência onde ele acredita que tudo é sua responsabilidade.
A perda do empoderamento em virtude do novo posicionamento da mulher na sociedade, leva o homem aquela sensação de abafamento, insegurança, medo, ressentimento e dor, mais ainda, a sensação de não saber, contrariado pelas leis que geram sua criação familiar/social.
Esta angústia causada por esta mudança de comportamento e empoderamento da mulher, se contrasta com este homem carregado de tantas crenças, valores e situações, as quais tem que se adaptar, aceitar, e agir passivamente a todas as mudanças, além de ter que concorrer com outros homens, predadores naturais que querem sua posição no trabalho, na vida social etc. Para muitos homens, chega um momento que não podem mais suportar a perda deste poder para a mulher, e isto transforma este individuo em refém da sua própria neurose, o faz violento, impotente, podendo desenvolver fobias, histerismos e melancolia e em casos mais incomuns, o feminicídio.
O homem contemporâneo passa a não entender sua função na sociedade. Verdadeiramente o papel dos casais nos relacionamentos no passado, nos veem mais como uma condição de dominante e dominado do que uma relação de casais. Com certeza, esta mudança de padrão comportamental, nos mostra que, estamos construindo uma nova relação de parceria nos relacionamentos, onde dividimos as funções no lar, no trabalho e na relação homem/mulher em que o papel de onipotência do deste macho se desfaz e nos coloca na condição de parceiros neste novo relacionamento, ao mesmo tempo que nos permite ter exposto nossos sentimentos que até então não era permitido na sociedade, apesar de ainda termos por parte da mulher, a cobrança de um homem forte, protetor, mas, acessível e parceiro na divisão da vida familiar e profissional.
Este homem contemporâneo deve ter como principal base, a relação mutua terapêutica das angústias com sua parceira/o, sabendo que as decisões deverão ser tomadas em conjunto de forma participativa, dividindo as funções que antes era designada especificamente a cada gênero, de forma proporcional, e não perdendo sua masculinidade, ao mesmo tempo sem ser machista, mantendo seus posicionamentos de forma a respeitar os limites do outro.
O primeiro filho da angústia é a agressão, o descontrole emocional, e ao contrário do mencionado acima, muitas vezes dentro desse sentimento de irritabilidade que o homem contemporâneo ainda dentro da casinha família/social, usa a agressão ou mesmo a autoagressão como um grito de desabafo, um pedido de ajuda, com a única intenção de ser ouvido, de ser suportado. No livro de Francoise Dolto, “SOLIDÃO”, a pediatra e psicanalista francesa, fala da dependência radical do outro, da necessidade de ser cuidado. Quando não sabemos qual o papel que exercemos na sociedade, não importa quantas pessoas estão à nossa volta, a solidão se torna nossa companheira mais próxima, nos vem a sensação de desamparo, de angústia...
Referencias:
(1909) – O Pequeno Hans, Sigmund Freud
(1914) O homem dos Lobos, Sigmund Freud
(1926). Inibição, sintoma, angústia, in Studienaugabe, VI.
(1932) – Esboço de Psicanálise
(Palestras) - Ivan Capelatto – O Casamento e suas Angustias – Suportando a Pessoa Amada e Angústia – Uma das Grandes Preocupações da Sociedade Moderna
Passagens sobre pensamentos de Donald Woods Winicott e Francoise Dolto
Atayde (Patreze) de Melo Junior
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