Aniversário em 2023 e um relato humano para posteridade

 Hoje faço 42 anos.

Hoje, de forma muito nítida, por décadas convivi com a tentativa conflituosa em estar comigo mesmo sem a coragem de olhar para dentro.

Lidar com você mesmo é assustador.

Topar esse processo é doloroso.

Mas o resultado disso tudo é, fundamentalmente, entender os porquês de posições tomadas na vida, repetições, efeitos padrão de comportamento e acontecimentos daquilo que é importante pra nos sustentar enquanto indivíduos.

Dos 41 aos 42 foi urgente juntar meus cacos, me livrar de miopias mil e fazer as pazes com o meu eu criança.

Do não enxergar de mim mesmo, esse processo começa no espelho com as mudanças de cabelo, de barba, de bigode.

Não suficiente, meu eu me jogou em uma jornada de exercícios físicos intensos e diários.

Na química positiva da serotonina e da endorfina, dia após dia, o corpo foi se delineando.

A imagem começa a ser reconhecível para um eu que envelheceu com rugas conquistadas com orgulho, mas que continuava sendo o mesmo eu da minha constituição na infância.

Vitórias, derrotas, traumas e um mojo de sentimentos intensos que aconteceram em 2023 não me deram escolha a não ser, para além de me olhar no espelho, conversar comigo na terapia.

Daquilo que se sabia, daquilo que não se sabia, daquilo que o inconsciente me deixava ser, das repetições, das posições assumidas na vida, do o que irrita, do que acalenta. Tudo jogado ao chão para ser recolhido, para ser chorado, para ser entendido, para poder aprender a se amar.

E quando a gente aprende a se amar, abre um espaço enorme para amar mais a si mesmo e aos demais.

Nada é tão claro quanto isso pra mim hoje, depois de mergulhar em mim.

Me reconheci como um sujeito que fervilha amor e, como amigos dizem e eu não dava conta de entender, me entendi como uma força da natureza.

Uma força que tem a capacidade de colocar um olhar interessado no humano, nas pessoas, na vida e em tudo o que deixa esse processo complexo e lindo ao mesmo tempo.

Percebi, mais do que nunca, que a diversão em processos e a leveza são fundamentais no meu cotidiano.

Que imaginação e construção de mundos possíveis e impossíveis é um resgate do menino deitado, com peito no tapete e sem camisa, num dia quente de verão brincando com bonecos de guerra do Comandos em Ação criando histórias de paz.

Olhei para os meus filhos com olhos de ternura nunca alcançada antes.

Enxerguei a importância de um relacionamento amoroso de 20 anos e o quanto ele me é constituinte, necessário e fundamental na minha vida. E o quanto quero que ele se preserve, em sua melhor forma em todos os anos possíveis.

Vi que a profissão é imprescindível para mim e o trabalho importante, colocando cada um no seu lugar para que o trabalhar se torne mais prazeroso, mais parecido com a ideia do brincar de pipa na rua com amigos, em que horas disputam e horas se aliam, mas sempre com a consciência da importância um do outro.

Amizades criaram uma raiz da qual nunca tive a experiência na vida. E elas, se lerem esse texto, saberão quais são.

Ganhei prêmios. Muitos. Que nunca imaginei, mas que sempre persegui. Muito além do que significam para o mercado de trabalho, eles coroaram processos da qual, os que realmente participaram, levaram a cabo o sentido de amor, equipe, empatia e resiliência conjunta, fazendo com que todos sofressem um pouquinho para ninguém sofrer muito.

De um ciclo tão intenso, expondo em redes sociais para você que chegou até aqui, o que trago de receita que para mim foi revelador:

1 – Comece de algum jeito a fazer as pazes com você criança. Antes dos seus traumas acontecerem, você está lá, do jeito que sempre deveria ter sido 

2 – Encare suas angústias. Seja por qual processo que for: no exercício físico, na terapia, no esporte, mas sempre no seu caminho.

3 – Faça terapia. Olhe pra você. A descoberta maior será quando você se sentir familiar a você mesmo. E tenho certeza de que hoje, possivelmente, você não se sinta assim.

De resto é processo, será história e trará você mais feliz para a humanidade.

Pra fechar, obrigado 365 dias dos 41 anos, e obrigado a cada um que sabe, que lá no fundo, no fundo mesmo, foi imprescindível para que eu me apresentasse para o mundo da minha melhor forma.

Que venha o próximo ciclo.

Acho que vai ser lindo.