Antes de abraçar o novo normal, será que não deveríamos saber o que precisamos deixar para trás?

Antes de abraçar o novo normal, será que não deveríamos saber o que precisamos deixar para trás?

Estamos todos falando tanto sobre o que vai mudar depois da pandemia, esta crise inédita que estamos vivendo, muito curiosos com o que virá depois e com o que será o tal do “novo normal". Mas será que antes de abraçar o novo, não deveríamos nos desfazer do que não serve mais, do que já não vale, do que se esgotou? Será que não é esta uma das principais funções de uma crise?


Para as empresas por exemplo, que estavam por tantos anos procrastinando a adoção do home office, do que elas terão que se desfazer para adotar esta nova forma de trabalho de forma definitiva a partir de agora? E aquela empresa que já tinha problemas estruturais e estava só sobrevivendo, sem guardar nenhuma reserva até que veio a crise e agora corre o risco de fechar? E aquele relacionamento familiar que já não vinha bem, mas em que as questões não eram abordadas porque nunca se estava em casa mesmo, e agora com a convivência de tempo integral da quarentena teve que ser confrontado? Será que a crise simplesmente não revela o que já estava latente? Traz a tona as verdades que estavam ocultas. Como as desigualdades sociais do nosso país por exemplo, brutalmente explicitadas pela pandemia, para as quais fechávamos os olhos nos faróis da vida.


E aquela foto que você encontrou na arrumação da casa nestes dias de quarentena, que te transportou para o passado, uma época que já não é mais. Um passado que foi bom, mas passou e você não tinha se dado conta. A juventude que se foi, os filhos que cresceram. E aquele projeto de vida ou sonho de consumo que você tinha, mas que você talvez já tivesse percebido que não iria dar, só não queria encarar a realidade? E aquele seu trabalho que já não vinha mais fazendo sentido há tempos? Deixamos, ou pelo menos deveríamos deixar para trás aquilo que já não têm mais validade. Sim, a nossa cultura tem dificuldades para falar do fim, da morte, do luto. Mas os ciclos de começo, meio e fim são a natureza. Assim como a natureza também são os recomeços.


Este momento nos obriga a encarar a nossa sombra. E se por acaso você é daqueles que sempre abria uma exceção para aquela comida gostosa, aquele refrigerante e o salgadinho, aquela comida industrializada, mas o que acabou se tornando um costume e você fez vista grossa e empurrou a sua consciência com a barriga. Até que a sua barriga ficasse grande demais e você se descobrisse diabético, obeso ou hipertenso, enquadrado nas categorias de maior risco da pandemia. O que você pode aprender com isto?


Como sabemos, esta pandemia do Coronavírus, assim como as anteriores como da AIDS ou do Ébola ou das que ainda virão pela frente, são consequências das nossas interferências nos ecossistemas e nos ciclos de vida dos animais que coabitam este planeta conosco. Nós já somos uma sociedade global e as consequências de nossas ações, seja através do surgimento de pandemias ou através das consequências das mudanças climáticas, virão cada vez mais globalmente. Assim se olharmos, honestamente, para o nosso estilo de vida, para a forma como nós vivemos, como nós comemos, como consumimos, perceberemos que não estamos no caminho certo. Mas nós simplesmente fechávamos os olhos porque o sistema tinha que seguir em frente, não podia parar, "time is money" como diziam. Agora parou.


Nunca na história recente da humanidade vivemos um momento de tanta incerteza sobre o que virá. Que tal aproveitar este momento em que estamos recolhidos novamente em nossas cavernas, enquanto os bichos retomam o espaço que já era deles, para refletir, sinceramente, o que precisamos deixar de fazer para que o novo possa emergir? Você já pensou em quais hábitos você vai deixar para trás? Do que você vai se desapegar?


Sabryna Alsfasser [ela/ella/she]

Facilitator & Business Leader Hyper Island | Leadership, Innovation, Customer Experience

4 a

Obrigada Claus. Artigo que super faz refletir!

Uwe Kraus

Founder & Lead Consultant, HR Interim Manager and Trainer at FOOP Group

4 a

Caro Claus, perguntas bem colocadas. Respostas - nos planos individual e coletivo - a serem "achadas" por todos nós... Trabalhando nisso, procura-se parceiros.... Abraço, Uwe

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