Antes de aceitar um novo emprego, faça três perguntas
Imagine receber uma oferta de emprego hoje, com um salário incrível, ótimos benefícios e numa empresa que torna seu currículo praticamente irresistível. Só um problema: o trabalho em si, não é grande coisa. Explicando melhor: longas reuniões, muita cobrança, muita gente defendendo sempre seus próprios interesses. E você logo pensa: “Tudo bem, vou levando, desafio é bom”. Nem sempre.
É compreensível aceitar um emprego nesses termos. Igualmente tentar mantê-lo a todo custo. A verdade é que para conseguir satisfação no trabalho, com relações que façam sentido e levem a projetos bem sucedidos, é preciso deixar de lado certos medos, segundo Regan Walsh, life coach e especialista em formar jovens lideranças. Em artigo publicado na Harvard Business Review, Regan defende que antes de aceitar qualquer emprego, até mesmo um que parece caído do céu, é preciso fazer três perguntas.
1. Qual é a minha motivação?
É olhar o que vem de dentro e não a motivação externa. Dinheiro, prestígio, elogios, todos são fatores externos. Podem levar alguém a se esforçar para conseguir um objetivo, mas não conduzem necessariamente ao sucesso ou felicidade no trabalho.
Um estudo liderado por Tim Judge mostra que talvez o maior motivador externo – dinheiro – está relacionado a apenas 2% de satisfação. Já profissionais que são intrinsecamente motivados por fatores como curiosidade e são três vezes mais engajados do que aqueles que são motivados no exterior, de acordo com um estudo de Yoon Juik Cho e James Perry.
Como identificar as motivações? Questione-se por que está tomando aquela decisão. Você está pensando em aceitar um emprego porque recebeu elogios de seu desempenho ou porque é apaixonado pela missão da empresa? Você quer passar quatro dias naquela conferência para fazer networking, quando o que você realmente gostaria é aproveitar as férias com a família?
Pode até ser que, muitas vezes, você sinta que precisa fazer algo. Mas seja honesto e admita que se quer fazer algo para ser bem visto (por você mesmo e pelos outros), como uma pessoa inteligente, generosa, em vez de fazer algo que realmente quer.
2. Isso está alinhado com meus valores?
Primeiro, é preciso ter claro quais são seus valores. Se não for o caso, experimente pegar uma folha de papel e riscar quatro colunas. Na primeira, faça uma lista de coisas que são mais importantes para você, como passar tempo com sua família ou conquistar segurança financeira para se aposentar. Na segunda coluna, escreva “Dinheiro”. A terceira será “Tempo” e a quarta, “Energia”. São os seus recursos. A partir daí, olhando para cada um dos valores da sua lista, vá ticando para ver como gasta seus recursos [para mais detalhes, veja o livro “Do Your Commitmente Match Your Convictions”, de Donald Sull e Dominic Holder).
A ideia é identificar problemas – valores que recebem pouco ou nenhum recurso em termos de dinheiro, tempo ou energia.
Usando o mesmo princípio, escreva as coisas que acha que “deveria” fazer, como aceitar aquele emprego ou viajar para a conferência. O que acontece com os recursos? Vai acabar “roubando” tempo ou dinheiro que você gostaria bem mais de gastar em outra coisa? Será que o dinheiro gasto com hotel e o tempo que vai ficar lá compensará o final de semana que poderia descansar e se preparar para uma reunião importante com o cliente?
3. Eu tenho alternativa?
É importante reconhecer que até mesmo coisas que não parecem ter uma opção à primeira vista, em geral têm. A teoria da autodeterminação sugere que para agir ou se sentir motivado, precisamos sentir que nós estamos no controle. Com certeza, vamos “aproveitar” melhor uma coisa, se sentirmos que há uma escolha.
O contrário também é verdadeiro. Se não sentir que você tem autonomia para decidir, vira obrigação. Acontece com quem passa muitos finais de semana trabalhando – e o acúmulo pode levar a um resultado aquém das expectativas e, claro, a sensação de derrota e de estar abaixo do que lhe é demandado. O emprego vale todas essas horas extras? É apenas um período? Não seria melhor parar e reavaliar a trajetória?
O mesmo vale para profissionais que passam tanto tempo em reuniões, que acabam deixando para resolver todas as questões de seu trabalho no final do dia. Sem telefone para tocar o tempo todo fica mais fácil, certo? Nem sempre. Regan Walsh questiona se não é o caso de escolher algumas reuniões e declinar outras, para acabar com o jogo de gato-e-rato.
Afinal, você deve ser o arquiteto da sua própria vida. Não deixe que outros façam isso por você. Você tem uma alternativa.
Uma vez que você consiga identificar todos os casos em que acha que deveria fazer algo – o emprego com salário incrível, o convite para uma palestra, a reunião com os donos da empresa – vai se tornar mais fácil dizer “não”. E, consequentemente, dizer “sim” para as coisas que estão alinhadas com seus objetivos de vida.