"APLAUSOS (A Fernando Pessoa e Álvaro de Campos)", por Isabel Rosete
«À morte do Poeta-Nu, que Nu não morreu, por fingir Nu não-ser no enfado da sua angústia existencial, inquietantemente desmedida, na despersonalização e proliferação de tantos outros de si, na solidão da ausência Amor que, sem “fingimento”, não se deu; ao Amor desperdiçado, dilacerado em todas as veias já secas; às lutas inglórias por um Amor que se quer ter e não se tem, mas que se vislumbra nas orlas das parias desertas, na beira de qualquer rio próximo ou incógnito; à Morte do Amor que se fixa, sem se fixar, no virtual-do-virtual; ao Ódio desse virtual por não se tornar realmente real e de assim nos consumir as entranhas no próprio Ódio-do-Amor; à Inteligência-insensata desse Amor que é e não-é, porque não se consuma em acto - nem mental, nem físico, nem em alma, nem em corpo; à Dor de pensar que sente tremendamente o que sente, mesmo não se querendo sentir o que se sente.
Ah como o Pensar dói na Dor universal do Mundo que dói, sem cessar - qual metáfora do coração-do-sentir que não quer sentir para não pensar mais, para não doer nunca mais, mesmo sabendo-se que essa Dor insuportável não passará jamais! Pensar é Sentir e Sentir é Pensar em consciência do ser-de-razão-emoção que somos. Pensar dói, ai como dói! E tu, ó Fernando António Nogueira Pessoa, bem sabes o quanto e como dói! Escreve-lo, tu, ó Pessoa ortónimo, na tua «Autopsicografia», “fingindo” sem fingires coisa alguma. Pensar dói, porque o Mundo é dor que dói; porque a Vida é vida que dói em todas as suas contradições de ser e de não-ser Amor-Dor (por mais que esta asserção seja um paradoxo nos domínios da Ciência da Lógica!). Será que a Vida, o Mundo, se podem reger por esta Ciência da validade das regras dos Juízos, do Pensamento e da Linguagem na sua validade de formulação (correcta)? A Lógica de nada serve para explicar a Vida, para dilucidar o Mundo que, no Sentir/Pensar (sem esta Lógica), se formam e são! Mas, dizes tu, ó Álvaro de Campos (Pessoa): “SOU LÚCIDO.” Talvez, porém, te tenhas esquecido de acrescentar (se me permites este alerta): «sou tão lúcido que não preciso da Lógica para atormentar a minha vida já atormentada, a minha vida de Cansaço, de Tédio: Ah, “Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!/Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!” Se “SOU LÚCIDO” (continuarias), porque não hei-de eu saber que esta lucidez me torna um Louco-Lúcido? Ah essa Loucura (esse outro lado da Razão que VÊ O TUDO e O TODO, não um distúrbio mental) de sentir sempre tudo, de todas as maneiras, na dor martirizadora deste meu excesso de lucidez, cada vez mais louca na sensatez da minha visão-pensante e auto-crítica, em (demasia) de Espírito-Crítico!»