A aplicação de metodologias ativas agregadas ao modelo de ensino híbrido: sala de aula invertida em cursos de qualificação na educação profissional.
Introdução
Evidenciamos nos últimos anos um aumento pela procura da inserção das tecnologias na realidade escolar, seja ela na educação básica, profissional ou superior. Tem-se pensado e falado muito em como desenvolver as competências nos estudantes de uma forma mais ampla utilizando das diversas ferramentas tecnológicas.
A integração da realidade escolar com a tecnologia tem contribuído para abrir a escola para o mundo e trazer o mundo para dentro da escola. Entendemos que o modo de aprender mudou e com isso, precisamos mudar o modo de ensinar.
A educação vem se adequando as novas metodologias e as novas tecnologias, como por exemplo, o ensino híbrido, que torna real a possibilidade de ampliar as competências dos estudantes.
O ensino híbrido tem sido definido como um programa de educação formal que mescla momentos em que o aluno estuda os conteúdos e as instruções usando recursos on-line e outros em que o ensino ocorre em sala de aula, podendo interagir com outros alunos e com o professor (STAKER; HORN, 2012 apud BACICH; MORAN, 2018, P. 29).
O aluno passa a acompanhar e protagonizar o seu processo de ensino, determinando o seu ritmo de aprendizagem, avançando nos conteúdos segundo suas necessidades e habilidades.
O desenvolvimento desse trabalho tem por objetivo relatar a experiência de implantação do ensino híbrido através da utilização do recurso tecnológico Google Classroom na Educação Profissional, mais precisamente em cursos de qualificação do SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial em Fortaleza/Ce. O texto abordará sobre o modelo de ensino híbrido aplicado em cursos de qualificação do Projeto: Capacitação Tecnológica de Trabalhadores para Empresas do Segmento de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Ceará, realizado por meio de um convênio entre o SENAI Ceará e o Ministério da Indústria e Comércio Exterior – MDIC.
A ferramenta utilizada neste Projeto foi o Classroom, a sala de aula virtual da Google For Education. É importante ressaltar a opinião dos docentes no que diz respeito a essa integração entre sala de aula tradicional e virtual, o que tem proporcionado à educação profissional desta instituição, assim como as dificuldades percebidas e as mudanças ocasionadas pelo uso da ferramenta e aplicação do ensino híbrido.
Considerando que temos uma mudança no perfil do aluno, como nos diz Barbosa e Moura:
A escola também mudou e sobrevive, hoje, em um contexto socioeconômico que impõe expectativas de desempenho cada vez mais elevadas. Espera-se que os egressos da Educação Profissional e Tecnológica (EPT)sejam capazes de transitar com desenvoltura e segurança em um mundo cada vez mais complexo e repleto de tecnologias inovadoras. (BARBOSA e Moura, 2013, p.50)
Sendo assim, não podemos seguir de olhos vendados ignorando as mudanças propostas pelo mercado. O que precisamos alterar na escola para que estejamos atendendo as necessidades desse aluno e do mundo do trabalho? Quais inovações precisam ser feitas no campo educacional? Qual estrutura de escolas precisamos ter? São questões ainda pouco respondidas, mas temos a certeza de que já há caminhos a serem percorridos; as metodologias ativas têm nos ajudado a desenvolver esse aluno de forma mais ampla e profunda, porque o torna protagonista do processo.
Moran nos fala que:
Metodologias ativas são estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos estudantes na construção do processo de aprendizagem, de forma flexível, interligada e híbrida. As metodologias ativas, num mundo conectado e digital, expressam-se por meio de modelos de ensino híbridos, com muitas possíveis combinações. A junção de metodologias ativas com modelos flexíveis e híbridos traz contribuições importantes para o desenho de soluções atuais para os aprendizes de hoje. (BACICH e MORAN, 2018, p.4)
É assim que o SENAI e o MDIC,estão buscando formar os trabalhadores, transformando o modo de ensinar e dividindo essa responsabilidade da aprendizagem com os estudantes envolvidos.
O artigo em questão representa o trabalho de conclusão de curso do MBA em Educação Corporativa e Gestão do Conhecimento da Faculdade Estácio. O estudo ocorreu mediante pesquisado tipo estudo de caso, com uma abordagem qualitativa. Como técnica para coleta de dados, foram utilizados questionários elaborados através do aplicativo Forms, pertencente ao G Suite, da Google For Education e enviado por e-mail para a equipe pedagógica da Escola com um misto de questões abertas e fechadas.
O papel das tecnologias da educação contemporânea
O cenário da educação na atualidade nos traz necessidade de transformação, mas isso não é de agora. Há tempos compreendemos que os professores são desafiados todos os dias a melhorarem suas metodologias de ensino e a reterem a atenção dos estudantes, mas como fazer de uma forma eficaz, que traga bons resultados para a escola como um todo?
A educação profissional prepara o aluno para o mundo do trabalho, temos visto mudanças surgindo no decorrer dessa formação, tendo em vista que o perfil profissional dos alunos precisa se adequar as demandas do cenário atual e de acordo com Barbosa e Moura apud Neto,
Podemos dizer que a EPT requer aprendizagem significativa, contextualizada, orientada para o uso das TIC, que favoreça o uso intensivo dos recursos da inteligência, e que gere habilidades em resolver problemas e conduzir projetos nos diversos segmentos do setor produtivo. Como contraponto, podemos dizer que a aprendizagem em EPT deve estar cada vez mais distante da educação tradicional, fundamentada no poder do verbo, teórica e dependente do uso intensivo da memória. (2017, p.20)
Na citação acima, os autores se referem a Educação Profissional Técnica (EPT), porém, percebemos que o contexto se encaixa para as demais modalidades de ensino profissional, seja de aperfeiçoamento ou qualificação, pois como nos orienta a LDB, a Educação profissional e tecnológica é a modalidade educativa que se integra a diferentes níveis e modalidades de educação e as dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. Abrange os cursos de formação inicial e continuada ou qualificação profissional; de educação profissional técnica de nível médio; e de educação profissional de graduação e pós-graduação (LDB, art. 39, § 2º).
A educação sempre vivenciou uma grande mescla de experiências que proporcionou, de certa forma, realizar o ensino híbrido. Professores sempre buscaram incrementar, diferenciar e proporcionar uma aprendizagem mais prazerosa misturando espaços, atividades e disciplinas.
Com o uso da tecnologia essas possibilidades se intensificaram, ampliando o leque de aprendizagem, facilitando o acesso dos estudantes ao conhecimento.Sabemos que as aulas expositivas tendem a serem cada vez menos demoradas, por manterem os estudantes atentos e concentrados por menos tempo, com isso as tecnologias digitais têm apresentado diversas formas de aprendizagem ativa e se forem bem utilizadas pela escola, o aluno poderá aprender mais e melhor.
A aprendizagem ativa ocorre quando há interação do aluno com o conteúdo em estudo, ouvindo, falando, perguntando, discutindo, fazendo e ensinando. Há uma estimulação constante pela busca do conhecimento por parte do aluno e não apenas a transferência dos conteúdos do professor para o aluno.
Essa mistura utilizando a tecnologia ou educação híbrida acontece quando integramos as atividades da sala de aula com as digitais, mesclando presencial e virtual. Moran nos fala que:
Híbrido também pode ser um currículo mais flexível, que planeje o que é básico e fundamental para todos e que permita, ao mesmo tempo, caminhos personalizados para atender as necessidades de cada aluno. Híbrido também é a articulação de processos de ensino e aprendizagem mais formais com aqueles informais, de educação aberta e em rede. Implica misturar e integrar áreas, profissionais e alunos diferentes, em espaços e tempos distintos (MORAN, 2015, p. 28 e 29).
A possibilidade de mesclar os momentos presenciais e online é uma tentativa de oferecer “o melhor de dois mundos”, as vantagens de educação online combinadas com todos os benefícios da sala de aula tradicional. Os dois modos se complementam, gerando diferentes formas de ensinar e aprender algum conceito.
No momento online o aluno detém o controle sobre o seu formato de estudo, definindo seu ritmo, tempo e modo de estudar, ou seja, tem autonomia no seu processo de ensino, percebemos com isso, que o ensino híbrido flexibiliza o ritmo de aprendizagem de tal maneira a se adequar a todas as individualidades.
As instituições educacionais hoje buscam inovar em suas estratégias de ensino, ajustando desde o seu projeto político pedagógico aos seus espaços físicos. Trabalham com projetos; educação maker; aprendizagem individual e colaborativa; combinam o presencial com o virtual.
O ensino híbrido é uma metodologia ativa que proporciona ao estudante se tornar um indivíduo mais autônomo, protagonista do seu próprio desenvolvimento, um ser mais reflexivo, curioso, pesquisador e não apenas um depósito de informações do professor. Ele impacta na ação do professor em situações de ensino e na ação dos estudantes em situação de aprendizagem.
Ao se tornar protagonista, o estudante está junto com o professor, personalizando sua aprendizagem, dirigindo seu processo e escolhendo o melhor formato para aprender. SCHNEIDER (2015) in: BACICH; NETO; TREVISANI (2015) nos diz que “um ensino personalizado exige muito mais do estudante, que tem de ter autonomia e responsabilidade a ponto de ir atrás de suas necessidades, curiosidades e interesses.”
Contudo, exige do professor que ele seja uma espécie de construtor do conhecimento, arquitetando e mostrando ao aluno que existem diversas formas de se construir o saber. As tecnologias serão aliadas, é possível utilizar diversas ferramentas que poderão estimular e facilitar o processo de aprendizagem, ficando ao professor a missão de ensinar ao aluno como utilizar essas ferramentas de forma crítica e produtiva.
A personalização do ensino para o aluno significa a construção de trilhas que façam sentido em seus percursos de aprendizagem, que os levem a sentir motivação a aprender e a buscar ampliar seus horizontes, acarretando na transformação de indivíduos mais autônomos e livres para permear seu itinerário formativo.
O mercado exige que o profissional da educação de hoje se reinvente, busque novas formas de conquistar, manter e transformar a vida de seus alunos, mas para isso faz-se necessário inseri-los no processo e fazê-los perceber que são parte disso. “Não podemos continuar fazendo mais do mesmo. É preciso inovar. Motivar. Encantar. Inspirar” (LIMA e MOURA, 2015, p. 91 in: BACICH; NETO; TREVISANI (2015)).
Encontramos em sala de aula estudantes com diversos tipos de necessidades ou carências. Há aqueles que têm um pouco mais de dificuldade para aprender, precisando de uma atenção especial do professor e aqueles que têm um nível maior de proficiência e que precisam de mais insumos para ir além dos conteúdos básicos do currículo.
É aqui onde o professor faz toda a diferença, no modelo de ensino híbrido o professor tem informações individualizadas de seus estudantes, podendo personalizar o ensino, assim ele terá mais possibilidades de sanar as necessidades dos seus alunos.
Um aluno pode aprender com uma videoaula, outro usando um simulador, outro já pode aprender participando de um trabalho colaborativo ou com a resolução de um problema. Se o professor usa a mesma estratégia de ensino para todos os estudantes ele está determinando o caminho que ele deve percorrer e isso pode fazê-lo desistir.
A personalização do ensino poderá ser vista como um benefício para esta mudança para a tecnologia online centrada no aluno. Os professores precisam identificar e entender as diferenças entre os estudantes e ter competências para atender as demandas individuais dando devida assistência aos alunos.
Segundo Christensen; Horn e Staker (2013) os modelos de ensino híbrido existentes são divididos em quatro categorias: Modelo de rotação (dentro de um curso ou matéria os alunos revezam entre modalidades de ensino, sendo que pelo menos uma modalidade é a do ensino online); Modelo Flex (é aquele no qual a modalidade de ensino online é a principal, podendo, a partir de roteiros estabelecidos pelo professor; que se encontra na mesma cidade, ter estudos offline).
Modelo A La Carte (os alunos podem participar de mais de um curso online, com um professor online, porém continuam com suas experiências na sala de aula tradicional. Estes cursos online podem ser ofertados tanto na escola como em outros locais). Por último temos o Modelo Virtual Enriquecido (no qual temos uma experiência de escola integral onde, em cada disciplina o aluno divide seu tempo entre a escola física e o ensino remoto, acessando os conteúdos e lições online).
Dentro do Modelo de Rotação apresentam-se quatro submodelos: Rotação por Estações (os alunos revezam dentro do mesmo ambiente, a sala de aula); Laboratório Rotacional (os alunos revezam entre a sala de aula e o laboratório utilizado para as atividades online); Sala de Aula Invertida (a rotação ocorre entre a sala de aula tradicional com as práticas supervisionadas pelo professor e a aplicação de estudos online em sua residência ou outro espaço físico) e Rotação Individual (cada estudante recebe seu roteiro individualizado, e pode não participar de todas as estações ou modalidades disponíveis).
Neste estudo traremos a experiência do ensino híbrido na educação profissional, baseado na perspectiva dos professores; com o modelo de sala de aula invertida, mais precisamente em cursos de qualificação do Projeto: Capacitação Tecnológica de Trabalhadores para Empresas do Segmento de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Ceará, realizado por meio de um convênio entre o SENAI Ceará e o Ministério da Indústria e Comércio Exterior – MDIC.
O Projeto
O SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial está entre os cinco maiores complexos de Educação Profissional da América Latina e atua em vinte e oito áreas da indústria brasileira, formando profissionais desde a iniciação profissional até a graduação tecnológica.
Fundado em 22 de janeiro de 1942, o SENAI surge com uma solução para o ensino profissional destinado a formar trabalhadores para a indústria. Hoje, essa instituição é considerada uma das mais respeitadas entidades de educação profissional e inovação tecnológica brasileira, sendo referência em qualidade credibilidade.
No Departamento Regional do Ceará, o SENAI começou suas atividades em 1943, com atuação em quinze (15) das vinte e oito (28) áreas da Indústria Brasileira com as modalidades de ensino de Aprendizagem Industrial, Iniciação Profissional, Qualificação Profissional, Aperfeiçoamento Profissional e Habilitação Técnica. De acordo com a publicação no site institucional da Federação das Indústrias do estado do Ceará:
Desde a sua fundação, o SENAI cumpre um papel fundamental e histórico na formação do trabalhador cearense. Afinal, através dele, vários profissionais da indústria receberam uma formação qualificada. O resultado foi mais desenvolvimento para o país, que passou a ser mais industrializado e consequentemente menos dependente de alguns países desenvolvidos. Hoje, o SENAI mantém o papel protagonista na concepção de atividades que ampliem a geração de emprego e renda no estado, além de promover a serviços de tecnologia e inovação para as indústrias. (site FIEC, 2020).
O SENAI DR/CE tem como missão organizacional: promover a educação profissional e tecnológica, a inovação e a transferência de tecnologias industriais, contribuindo para elevar a competitividade da indústria cearense.
Nesses setenta e sete anos de experiência dedicados a formar profissionais competentes para ingressarem na indústria cearense, o SENAI construiu um percurso de muitas parcerias e ofertas, sempre primando pela qualidade de seus serviços.
Os princípios e fins institucionais que norteiam as Unidades de Ensino do SENAI DR/CE, de acordo com seu regimento têm por objetivo geral proporcionar a formação e o desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania se sua qualificação para o trabalho.
O SENAI sempre buscou inovar em suas ofertas de serviços educacionais, essa instituição entende que a tecnologia tem um papel impactante no processo de evolução do ser humano, com isso, busca promover uma educação disruptiva adequando-se cada vez mais as necessidades atuais da educação.
A inovação no âmbito educacional é vista de uma forma mais ampliada, Carbonell apud Daros coloca que esta inovação na educação é
[...] um conjunto de intervenções, decisões e processos, com certo grau de intencionalidade e sistematização, que tratam de modificar atitudes, ideias, culturas, conteúdos, modelos e práticas pedagógicas. E, por sua vez, introduzir em uma linha renovadora, novos projetos e programas, materiais curriculares, estratégias de ensino-aprendizagem, modelos didáticos e outra forma de organizar e gerir o currículo, escola e a dinâmica da classe. (Carbonell apud Daros, 2018, p. 05)
Já Bressant e Tidd apud Lopes (in: CONGRESSO DE TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO, 2019) afirmam que o conceito de inovação disruptiva, o qual foi criado por Clayton M. Christensen, professor de Harvard, significa transformar a tecnologia, um produto ou serviço em algo novo, mais simplificado, conveniente e acessível.
Acreditando nesses conceitos de inovação e entendendo que eles se complementam, foi formalizado no dia vinte e dois de novembro de dois mil e dezoito, no Diário Oficial da União (DOU), o convênio firmado entre o SENAI Ceará e Ministério da Indústria e Comércio Exterior – MDIC. Este convênio propõe-se a realizar o Projeto: Capacitação Tecnológica de Trabalhadores para Empresas do Segmento de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Ceará.
O SENAI sempre buscou trabalhar com metodologias ativas na educação profissional; aulas de laboratórios, oficinas, tarefas em grupos, trabalhos em equipe dentro e fora do ambiente escolar, visitas técnicas e desenvolvimento de projetos. Com esse convênio entre SENAI e MDIC não poderia ser diferente, a escola se propôs a ir além dessas práticas de metodologias ativas e realizou a aplicação do ensino híbrido.
A própria Metodologia SENAI de Educação Profissional (MSEP) é considerada como uma metodologia ativa e possível de se aplicar a diferentes contextos e modalidades de ensino. É norteada por estudos de Vygostsky, Piaget, Ausubel, Perrenoud, Feuerstein e Moran.
Para Piaget, o homem não fica passivo sob a influência do meio, pois responde ativamente aos estímulos externos, agindo sobre eles para construir e (re)organizar o seu próprio conhecimento. Nessa perspectiva a educação formal promove o desenvolvimento na medida em que favorece uma postura ativa e construtiva do aluno por meio de situações de aprendizagem desafiadoras, que estimulam a dúvida e provoquem a reflexão. (Serviço Nacional de Aprendizagem, 2019, p. 93-94)
As situações de aprendizagem planejadas dentro da metodologia SENAI podem ser definidas como um conjunto de ações que favorecem as aprendizagens significativas, por meio de estratégias de aprendizagem desafiadoras e de diferentes estratégias de ensino, que promovem no aluno estabelecer relações entre o que aprendeu no campo intelectual e as situações reais, experimentais e profissionais, gerando uma aprendizagem mais significativa e enriquecedora.
Vygotsky aborda a relação entre aprendizagem e desenvolvimento quando nos apresenta o conceito de “zona de desenvolvimento proximal”, segundo ele, a distância entre o que um indivíduo é capaz de fazer sozinho (desenvolvimento real) e a competência que ele atinge ao resolver um problema, com o auxílio de alguém mais capacitado, revela a zona de desenvolvimento proximal (ZDP).
Baseando-se nesse conceito, podemos dizer que para revelarmos a ZDP, o modelo de ensino utilizado precisa ir além do desenvolvimento, é necessário se criar uma zona de conflito para que seja possível haver sempre um espaço de construção pelo aluno. Ou seja, é necessário que o estudante tenha contato com um problema complexo, cuja resolução seja realizada de forma colaborativa. Formato esse facilmente identificado no modelo híbrido de ensino.
E para Ausubel, o aprendizado acontece quando consideramos duas condições: o aluno apresenta engajamento para aprender e também quando o conteúdo escolar se mostra potencialmente significativo, articulado com a vida e as hipóteses do estudante.
Camargo aponta que as metodologias ativas de aprendizagem, proporcionam: desenvolvimento de competências para a vida profissional e pessoal; visão transdisciplinar do conhecimento; visão empreendedora; protagonismo do aluno; nova postura do professor, geração de ideias e de conhecimento e a reflexão, em vez de memorização e reprodução de conhecimento (CAMARGO, 2018, p.16).
Entendemos que as aprendizagens por experimentação, seja ela por design ou maker, significam expressões atuais de aprendizagem ativa, não podemos esquecer que ao enfatizarmos a palavra ativa estamos nos referindo a uma aprendizagem mais reflexiva, que torna visível todos os processos, os conhecimentos e as competências que estão sendo desenvolvidas em cada atividade.
O ato da pesquisa constante, da criação, cocriação, compartilhamento, experimentação, reflexão pode tornar o processo de ensinar e aprender fascinante. A sala de aula, tanto a física quanto a virtual, é um espaço privilegiado para essas ações acontecerem. Docentes e alunos buscam soluções de formas variadas, através de jogos, projetos, situações-problemas, experimentações.
Observamos, com isso, como a metodologia utilizada pelas escolas SENAI, a MSEP, promove ativamente no estudante a descoberta de seus potenciais, tornando o seu itinerário formativo mais prazeroso de se percorrer, principalmente porque os princípios norteadores da prática do docente do SENAI são: Mediação da Aprendizagem, Desenvolvimento de Capacidades, Interdisciplinaridade, Contextualização, Ênfase no Aprender a Aprender, Proximidade ao Mundo do Trabalho, Integração teoria e prática, Incentivo ao pensamento Criativo e à Inovação, Aprendizagem significativa, Avaliação da Aprendizagem com função diagnóstica, formativa e somativa.
Os cursos escolhidos são de formação inicial, a qual compreende a qualificação profissional básica. Entende-se como formação inicial a educação profissional destinada a qualificar jovens e adultos, independentemente de escolaridade prévia e de regulamentação curricular, podendo ser oferecida, segundo itinerários formativos, de forma livre, em função das necessidades da indústria e da sociedade. Tem duração variável e carga horária mínima de 160 horas.
Este projeto tem como objetivo qualificar jovens com idade entre 16 e 29 anos, que tenham concluído o ensino fundamental, em cursos de segmento de Tecnologia da Informação e Telecomunicação. Os cursos determinados são: Desenhista de Produtos Gráficos; Instalador e Reparador de Fibras Óticas; Instalador e Reparador de Redes de Computadores; Instalador e Reparador de Redes, Cabos e Equipamentos Telefônicos; Programador de Sistemas e Programador de Dispositivos Móveis.
A Unidade de Ensino do SENAI responsável pela execução do Projeto é o Centro de Formação Profissional Antônio Urbano de Almeida (CFP AUA), situada no bairro Centro, em Fortaleza. O edital de seleção apresentou um processo simplificado com aplicação de prova de matemática e português, com um total de vinte questões objetivas e com a indicação de que todas as turmas seriam gratuitas.
O Projeto, que iniciou em 2018, tem como uma de suas metas, a formação de 33 turmas de cursos de qualificação profissional no segmento de Tecnologia da Informação e Telecomunicações com vinte e quatro vagas cada turma. Até maio de 2020, foram formadas as 33 turmas e 726 matrículas realizadas.
Método
As aulas nos cursos ofertados pelo SENAI ocorriam todos os dias presencialmente. A estratégia pedagógica utilizada pela Unidade de Ensino SENAI AUA foi realizar o ensino híbrido através do modelo sala de aula invertida com todas as turmas, para isso, dispôs-se a utilizar o Classroom, sala virtual da Google For Education, para auxiliá-los nesta proposta de aprendizagem.
Durante a realização deste estudo, foi aplicado um questionário com um grupo de dez professores que atendem as turmas ofertadas na Unidade de Ensino SENAI AUA.
A técnica utilizada para coleta de dados foi a elaboração de questionários através do aplicativo Forms, pertencente ao G Suite, da Google For Education e enviado por e-mail para a equipe pedagógica da Escola com um misto de questões abertas e fechadas. Devido à situação de pandemia evidenciada na cidade de Fortaleza durante a pesquisa, não foi possível realizar visita in loco.
Todos os docentes que receberam o formulário o responderam, as opiniões relatadas neste instrumental foram detalhadas por meio de citações e aquelas que se repetiram foram elencadas de forma geral.
Análise dos resultados na perspectiva docente
A utilização do Classroom permitiu aos professores aplicarem o modelo de ensino híbrido de sala de aula invertida. Segundo Sams e Bergmann (2016), “basicamente, o conceito de sala de aula invertida é o seguinte: o que tradicionalmente é feito em sala de aula, agora é executado em casa e o que tradicionalmente é feito como trabalho de casa, agora é realizado em sala de aula”.
O professor pode inserir na sala de aula virtual um vídeo com a explicação do conteúdo a ser ministrado, passar uma leitura específica sobre o assunto ou até mesmo atividades que exijam ao aluno a pesquisa do conteúdo para realizá-las e posteriormente, em sala de aula, executará o momento para tirar dúvidas com maior tempo, realizar as discussões baseadas na leitura, pois os alunos já viram o conteúdo em casa ou terão mais espaço para a realização de exercícios e assim fazer a parte prática.
Para Bacich e Moran
Diversos estudos têm demonstrado que os estudantes constroem sua visão sobre o mundo ativando conhecimentos prévios e integrando as novas informações com as estruturas cognitivas já existentes para que possam, então, pensar criticamente sobre os conteúdos ensinados. Estas pesquisas também indicam que os alunos desenvolvem habilidades de pensamento crítico e têm uma maior compreensão conceitual sobre uma ideia quando exploram um domínio primeiro, e a partir disso, têm contato com uma forma clássica de instrução, como uma palestra, um vídeo ou a leitura de um texto (2015, p. 45 e 47).
Ao questionar os docentes sobre a integração da sala de aula tradicional com a virtual e o que ela tem proporcionado para a educação profissional oferecida pelo SENAI, alguns professores relataram que:
· “Tem melhorado em muito os resultados positivos no desempenho dos alunos com o conteúdo aplicado em sala”. (Professor 1)
· “Está transformando positivamente a nossa forma de ensinar e aprender, pois com o uso da ferramenta, a troca de informações, aplicações de pesquisa e trabalhos ficaram mais rápidas, fáceis e interativas”. (Professor 2)
· “Uma melhor forma de integrar as novas tecnologias e metodologias pedagógicas despertando maior interesse e aprendizado dos envolvidos, aluno e tutor/professor”. (Professor 3)
· “Maior interatividade e compromisso por parte do aluno”. (Professor 4)
Os demais professores declaram acerca da agilidade na aplicação dos exercícios; maior interação entre os estudantes e professores; facilidade na comunicação, maior organização e o fato de proporcionar uma maior disseminação do material didático.
As mudanças nas demandas da atividade docente foram notáveis, os professores obtiveram mais recursos para trabalhar, sentiram-se mais organizados, a devolutiva de atividades e feedbacks passou a ser processada com maior rapidez, perceberam uma grande facilidade no compartilhamento de conteúdos e atividades, unificando num só lugar esse material, além de acompanhar melhor cada estudante.
Nenhum dos docentes sentiu dificuldades em manusear o Classroom, definem que o ambiente virtual é bem intuitivo e fácil de se utilizar. A plataforma possibilitou uma aproximação mais estreita entre docentes e estudantes, criando maior envolvimento entre eles e permitindo a troca de conhecimentos e experiências.
Há ainda a utilização de outros aplicativos do G Suite utilizados pelos professores, pois eles admitem a colaboração e cooperação num trabalho em equipe, como por exemplo: Google Drive, Agenda, Doc, Sites, Forms e Meet.
Por se tratar de um público jovem, entre 16 e 29 anos, alguns alunos demonstraram comportamento desinteressado à oportunidade que estavam recebendo, o que dificultou um pouco a formação das competências socioemocionais. Além desta dificuldade, foi destacado pelos docentes o acesso à internet por parte de poucos alunos, mas que ainda é uma realidade vivenciada atualmente e a falta de habilidades em ferramentas ou recursos tecnológicos por parte dos alunos.
Foi exposto por alguns docentes a importância da dedicação ao planejamento, faz-se necessário dedicar um tempo para pensar as estratégias de ensino e como promover aulas práticas presenciais motivadoras e envolventes para os alunos.
Segundo docentes e coordenação pedagógica, a taxa de evasão dos alunos nos cursos do Projeto Capacitação Tecnológica de Trabalhadores para Empresas do Segmento de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Ceará é de até 30% nas turmas executadas durante o dia, evasão essa que se deve a diversos fatores dentre eles ao fato de terem conseguido emprego e não poder mais participar das aulas.
Conclusões
A tecnologia digital pode potencializar o ensino dos alunos, porém não se consegue isso só por meio da tecnologia, o professor tem papel fundamental neste processo, pois é ele quem direciona e faz as intervenções necessárias de acordo com as necessidades dos alunos.
Não podemos ver a tecnologia como a solução para melhorar a educação, e sim, como uma ferramenta que pode nos ajudar a conquistar uma educação apropriada para os novos tempos.
A proposta do ensino híbrido é propiciar ao estudante que o aprendizado em aula e o aprendizado em sua casa, via o ensino on-line com o uso de ferramentas digitais, possam se complementar e assim ele possa expandir seus estudos em qualquer lugar, sem a necessidade de estar limitado à sala de aula, entre outros benefícios.
Para os professores que participaram do Projeto: Capacitação Tecnológica de Trabalhadores para Empresas do Segmento de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Ceará houve uma melhora considerável de sua prática docente, tendo em vista que aplicar o ensino híbrido nos cursos ofertados, possibilitou com maior rapidez desenvolver as competências dos estudantes.
É perceptível que os alunos aprendem de diversas formas inclusive com outros alunos. O ensino híbrido proporciona que o professor permita ao estudante se tornar mais autônomo, participativo e protagonista em seu processo de ensino, ampliando o seu pensamento crítico, raciocínio reflexivo, dialógico, trabalho em equipe, cooperação e colaboração, além de correlacionar o que está estudando com situações da vida real.
Os alunos da educação profissional precisam estar preparados para a inovação do mundo do trabalho que ocorre com muita frequência e estão sempre ligadas as tecnologias existentes, a fim de tornar o trabalho mais eficiente. Indivíduos mais preparados têm mais facilidade em se manter no mercado de trabalho, e as metodologias utilizadas em sua formação têm papel fundamental nessa preparação.
Assim, compreendemos que o ensino híbrido não deve ser visto com uma forma de resolver os problemas da educação, mas sim, como uma referência para reensinar como funciona o trabalho colaborativo, proporcionando aumento de confiança entre os alunos. Almeja-se que ao aumentar a confiança, amplia-se o compartilhamento das informações, pois os educandos se sentirão mais seguros, melhorando suas relações sociais também.
Desta forma, definimos que o ensino híbrido permite ao professor novos caminhos a serem descobertos, proporcionados pelo uso da tecnologia como sua aliada para suas práticas, gerenciando melhor o tempo e permitindo também um maior envolvimento com o processo de ensino aprendizagem de seus alunos. Professor e aluno são colocados lado a lado, como partes do processo.
Conclui-se que esta pesquisa atingiu seus objetivos, pois conseguiu identificar quais os principais benefícios de se utilizar o ensino híbrido e o app da Google For Education Classroom na sala de aula; quais foram seus desafios e principalmente proporcionou uma reflexão sobre a inserção das novas formas de ensinar e aprender, pois o ensino tradicional já não é mais tão atrativo para os jovens de hoje e não conquista - os.
No entanto, nos faz perceber como ainda estamos longe de se conseguir o acesso das tecnologias a todos os estudantes, pois identificamos dificuldades para se adquirir os recursos tecnológicos, como aparelhos de celular ou computadores. Isso que acaba desmotivando o estudante que se vê diante de uma metodologia diferente, de uma escola inovadora e não se sente à vontade para concluir o curso.
Referências
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Preta Quilombola, Pedagoga, Psicopedagoga, Mestra em Humanidades, atuante na Comissão Nacional para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
4 aAmiga parabéns! Você é uma profissional incrível!