Aprenda a lidar com as divergências no trabalho!!
Você conhece o ditado: futebol, religião e política não se discutem. Apesar da máxima, esses temas têm sido objeto de brigas constantes nas redes sociais, como Facebook e Twitter. Tanto em 2014 e 2015, foram assuntos relacionados à política, por exemplo, os mais citados no Facebook entre os brasileiros. Direitos humanos, impeachment, aborto e crises migratórias são outros temas que povoam as conversas na internet – e nas ruas. Afinal, se a discussão tem esquentado nas redes, não deixa de ter repercussão no nosso dia a dia. Brigas entre manifestantes de diferentes bandeiras políticas, casos de intolerância sexual e religiosa e denúncias de racismo são divulgadas a cada dia. Mas o que fazer quando essas discussões invadem o ambiente de trabalho?
As estatísticas mostram episódios de violência e intolerância, mas, ao vivo e entre conhecidos, a história é um pouco diferente. “O brasileiro não sabe discutir e tem o hábito de evitar o debate”, diz Fernando Lanzer, autor de Cruzando culturas sem ser atropelado (Évora, 69,90 reais) e consultor de empresas que vive em Amsterdam, na Holanda. Para ele, temos medo de discordar dos outros. Preferimos, inclusive, conviver com quem concorda conosco e evitar ser abertamente contra a argumentação dos outros. “Não queremos magoar as pessoas e vivemos muito na cultura de grupo”, afirma. Esse hábito dificulta a diversidade de ideias e o aprofundamento de temas que, muitas vezes, precisam ser discutidos. Inclusive no contexto das empresas. Para ter ideias inovadoras e trabalhar bem em equipe, é essencial saber entrar em uma discussão de forma saudável. Só que, às vezes, discordar de um projeto na reunião pode ser difícil para nós.
Esse incômodo se deve também por conta do aspecto hierárquico da sociedade brasileira. “O pressuposto é sempre de que alguém deve ficar acima do outro”, diz Fernando. E, quando acontece uma discussão, isso se complica porque a ideia é sempre que um sairá vencedor e outro ficará por baixo – virando mais uma disputa de ego do que um esforço para chegar a um consenso. “O foco é mais nas pessoas do que nas ideias”, diz Ana Pliopas, do Instituto Hudson, especializado em coaching, de São Paulo. Ou seja, em vez de se criticar os argumentos, a outra pessoa é insultada ou vira objeto de piadas. Da mesma maneira, quando outros discordam de nossa posição, seja qual for a natureza do debate, sentimos que aquela discordância diz respeito a nós e não ao que estamos defendendo. É o famoso “levar para o lado pessoal”.
Ideias em primeiro lugar
Aprender a ouvir ideias diferentes da sua sem tornar isso em uma disputa é necessário em um contexto no qual cada vez mais as empresas defendem a diversidade no mundo corporativo. Quem não souber lidar com essas diferenças de forma respeitosa terá pouco lugar nas equipes. O caminho não é tão fácil: discutir com calma e respeito, como muitas coisas, é algo que só melhora com a prática. “O essencial é lembrar que nenhuma opinião surge do nada”, diz Ana. Todo conjunto de ideias vem de determinado contexto histórico, moral e social. Ter essa consciência ajuda a avaliar com mais frieza tanto as suas próprias ideias quanto a dos outros, e ter argumentos mais sólidos e baseados nos conceitos apresentados – e não nas pessoas em si. “Algo que fazemos muito é já pensar a resposta que daremos enquanto ouvimos o outro falar”, diz Ana. Isso quer dizer que, em vez de escutarmos com atenção o que estão dizendo para poder reagir sobre o que foi apresentado, nos preocupamos mais em ter uma resposta pronta e que vença, de vez, a discussão. Qualquer chance de se ter aquela conversa com calma e com cuidado ao ouvir o outro diminui com essa atitude.
Mas há certas situações em que não vale a pena insistir. Se um colega não está aberto ao debate, não adianta forçar. Também é pouco produtivo provocar alguém com quem você já discutiu outras vezes. E quando o ambiente de trabalho estiver pedindo concentração em uma tarefa, o melhor é deixar as discussões para depois. Nesses casos, buscar alguma coisa em comum para manter o alinhamento da equipe, como um objetivo da empresa ou um valor partilhado por todos, pode ajudar a manter um clima mais produtivo.
No entanto, se você sentir que, por conta dessas diferenças, fica isolado do grupo e constantemente incomodado com as ideias defendidas pelos colegas, talvez seja hora de repensar se está realmente no lugar certo. Fica difícil fazer um bom trabalho em equipe e ficar feliz no dia a dia se não se identifica com a maior parte das pessoas. “Existem diferentes ambientes corporativos, se você sentir que precisa mudar a empresa inteira, é melhor você mesmo mudar”, diz Lúcia Costa, diretora na consultoria Stato, de São Paulo.
Por outro lado, as empresas que estão interessadas em ter mais diversidade de ideias e de opiniões deveriam abrir um espaço para as discussões ocorrerem de maneira organizada. “Precisa estabelecer alguns pressupostos, como jamais cair em desrespeito e manter a conversa estritamente no mundo das ideias”, diz Fernando. Para quem quer discordar de maneira mais saudável, antes de partir para assuntos muito polêmicos, o melhor é começar por temas neutros. Encarar toda conversa como uma forma de ganhar novas perspectivas é outra forma de começar o exercício. “Perdemos muito quando não queremos ouvir o outro, quando não nos abrimos para o diferente”, diz Ana. “Tantas ideias boas deixam de existir porque não temos coragem de falar algo menos popular”. Entender que as pessoas devem ser respeitadas e que as diferenças sempre existirão (e devem existir em uma democracia) é o primeiro passo.
Você S/A (15/04/16)
Gerente de produção | Engenheiro de Alimentos | TPM | WCM | LSS Green Belt | Melhoria de Processos
8 aSaber ouvir é inteligência emocional. Uma equipe precisa ter voz própria frente às situações é os líderes necessitam direcionar isso para atingir o resultado.