Aproveitar as Férias para Desligar

Enquanto escrevo este artigo, muitos de nós regressaram de férias, alguns sentem que já foram há 6 meses, outros estão a aproveitar os últimos dias e os restantes espalham a inveja de quem ainda vai aproveitar tempo fora do escritório.

Mas, será que conseguimos realmente distinguir? Distinguir entre o que são as férias e o trabalho? E será que conseguimos realmente desligar? Aproveitar para estar só, em família ou com amigos sem as preocupações do trabalho?

Já aqui abordei o tema do Work-Life Balance mas aplicar estes princípios em tempo de férias é ainda mais desafiante. Sei de experiência própria que é difícil desconectar do trabalho, não só no dia-a-dia, como no fim de semana e especialmente durante as férias. Mais se adorarem o trabalho que fazem. Mais ainda se forem Tipo A, como eu, e independentemente de terem ou não uma equipa que assegura o trabalho na vossa ausência, têm dificuldade em libertar o controlo.

É por esta razão que a ideia de ‘Digital Detox’ está cada vez mais nada moda e devemos começar a incorporá-la mais e mais no nosso quotidiano. E o que é o Digital Detox? Basicamente consiste em estar offline das redes sociais e se possível de dispositivos electrónicos (sim, a televisão também conta!) durante um período de tempo (pode ser um dia, uma semana ou um mês) de forma a conectar com o nosso eu interior e com as pessoas (reais) à nossa volta. Parece mais fácil do que na realidade é mas vale muito a pena (isto é, se estiverem numa onda de auto-melhoramento e autodescoberta e não quiserem acordar daqui a 20 anos sem ideia de como chegaram até lá. Não é para todos, eu sei).

Então, quais os benefícios de desligar a televisão, colocar o telemóvel em modo de avião e terminar a sessão no computador?

• Melhor qualidade de sono: sem a luz azul a ser constantemente absorvida pelos olhos e a inibir a produção de melatonina (a hormona do sono), o corpo consegue entrar em ritmo com os ciclos do sol e da lua e descansar mais facilmente.
• Melhor digestão: que atire a primeira pedra quem não come em frente ao computador, seja a despachar emails ou a ver Netflix. O que acontece é que o corpo só consegue concentrar-se numa tarefa e o mastigar a comida passa a ser aspirar a comida, que por sua vez não vai ser bem absorvida e digerida pelo corpo, levando a indigestão, inchaço, enfartamento e refluxo, entre outros.
• Maior produtividade e criatividade: sem as distrações de um telemóvel sempre a vibrar ou a tocar com notificações (fenómeno no qual estamos viciados e que nos distrai sempre!), podemos dedicar-nos por completo à tarefa que temos em mãos e temos ainda tempo para pensar. Sim, pensar, quem diria?!
• Sensação de mais tempo no dia: se fizeres download da aplicação Moment, consegues ter uma ideia de quantas vezes pegas no telemóvel durante o dia e de quanto tempo passas em cada aplicação. As redes sociais em particular são enormes sanguessugas de tempo e energia; é por isso natural que sintas que o teu dia é mais comprido agora que suspendeste notificações. Que tal ires dar uma corrida ou dedicares-te àquele hobby que está na gaveta? Que tal apanhar só um pouco de sol e ar fresco?
• Abertura a novas experiências e perspectivas: olhar para pessoas e não para ecrãs torna-te mais empático e sensível ao outro, aos seus sentimentos, às suas dificuldades, felicidades e sentimentos. Ao interagir com o outro, apreendemos muito mais do que o que é efetivamente falado; apanhamos pistas não-verbais que nos permitem compreender o nosso interlocutor; pistas essas que não costumam transparecer via ecrã.
• Conexão interior: Não viver a vida dos outros online significa viveres a tua vida real com as pessoas reais que a compõem e todos os desafios que isso implica. Esta experiência vai permitir-te ouvires o teu corpo e a tua mente, refletires, absorveres o silêncio e perceberes se te conheces realmente ou se vives em piloto automático.

E qual o lado negativo de toda esta experiência? Não considero que seja algo nocivo mas compreendo que muita gente terá dificuldade em simplesmente estar em silêncio, sem nada para fazer, em reflexão. O barulho e a luz rodeiam-nos hoje mais do que nunca e deixámos de saber o que é ouvir nada e ver nada, confiando apenas nos nossos instintos. Isto porque também deixámos de saber o que são os nossos instintos e no fundo, quem somos. A experiência de Digital Detox, por muito superficial que seja, por muito que remeta para “first world problems” acaba por ser uma experiência profunda e um regresso a si mesmo.

Experimenta, não te vais arrepender!

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