Aquilo que faltou abordar bem na campanha
É expectável, no clima político e económico que observamos (para mim, nascido em 95, uma estreia no sentimento de iminente descambar do equilíbrio mais ou menos pacífico da segunda metade do século XX), que existem milhentos assuntos extremamente importantes. Ainda assim, e principalmente por estarmos em Portugal, falta muito abordar o realmente importante.
Vejamos, o estado atual é aquele que aponta para uma ruptura total da forma como vivemos em pouco mais de 25-30 anos. Será que o cidadão comum é confrontado com isto? Será que o cidadão português comum está completamente informado sobre a probabilidade de ser efetivamente um "refugiado climático" na segunda metade do século XXI?
Para já, deve começar-se por elencar os cenários possíveis que nos preocupam: a ruptura da produção primária (por existirem mais eventos climáticos extremos, por existirem espécies cultivares que não conseguiremos mais cultivar, por existir escassez de populações...), um degradar do património natural a que orgulhosamente chamamos casa e um expulsar populações em virtude de condições de vida que uma sociedade evoluída não tolera.
Depois devemos olhar criticamente para a localização deste país, Jardim à Beira-mar Plantado, um dos que (em conjunto com Espanha, Itália e Grécia) irá enfrentar em primeira linha os eventos catastróficos das alterações climáticas, na Europa.
Não, na verdade (e por muito que nos custe admitir) não vale a pena em última instância lutar por um mundo livre e próspero sem aliar essa luta àquela que é a da sobrevivência.
Neste momento, as alterações climáticas são a principal causa expectável para grande escassez de recursos. Escassez que provocará mais fome e mais guerra pela pertença. A principal forma de impedir a disseminação de uma deterioração da espécie humana, fraterna, é portanto aquela da recuperação, preservação e resiliência climática.
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E, ipso facto, a luta climática só pode ser o assunto do dia. Ou pelo menos um que não é diluído entre inúmeras medidas.
Amanhã tomam-se posições. Tomam-se posições entre direitismos e esquerdismos, mas acima de tudo, uma posição sobre um mundo em 2028. Uma posição sobre uma Europa mais ecologista, preocupada com o futuro.
Todos sabemos que existem várias urgências a tratar, e o que alguém ponderado pede não é que se coloquem uns assuntos acima de outros. O que alguém ponderado pede é que saibamos unir esforços para que quem tem de defender defenda, quem tem de cuidar da saúde cuide, quem tem de policiar policie, mas também quem tem de garantir que no fim existe um mundo vivo e habitável consiga ter as ferramentas necessárias para o fazer.
Porque se hoje estamos a discutir migração, temos de nos perguntar se não seremos os migrantes de amanhã, por exemplo!
E se hoje estamos a discutir estradas, TGV, turismo, hospitais, é necessário de garantir que cá existem condições para prosperarem pessoas, animais, plantas, vida... uma casa sem pessoas é um albergue de fantasmas.