Canabis e os ODS
Este mês, por via de residir numa área particularmente dinâmica e efervescente de boas ideias, foi-me possibilitado assistir ao lançamento da Agenda Estratégica para o Futuro (do Alentejo), tecida habilmente pela Fundação Eugénio de Almeida.
Este livro, conjunto de artigos, pôs especialistas a falar dos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) criados para a agenda da sustentabilidade 2030. Populado por dezessete artigos (um por cada ODS) com o objetivo de dizer o que já foi alcançado, o que está por alcançar e como poderá ser feito. Não se apresenta como um livro de "receitas" mas sim como um compêndio de muito boas reflexões.
Para já, informações sobre ODS podem ser consultadas aqui: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - ONU Portugal (unric.org)
Assisti à conferência com o meu chapéu de estudante de economia posto, no entanto enquanto vinha para casa o chapéu de diretor de cultivo começou a dar-lhe lugar e questionei-me "Como é que podemos casar o desenvolvimento sustentável com a canabis?".
Propus-me então a fazer uma reflexão sobre a indústria à luz destes objetivos. Porquê? Porque a canabis é nova, tem espaço e tempo para progredir, porque é atual e pode dar exemplos de como fazer, porque a canabis tem recursos e finalmente, porque sendo o "ouro Verde" deve merecer esse epíteto de todas as formas.
Penso que, como aposta, a canabis pode fazer a diferença em todos os ODS, vejamos alguns:
Claro está, que poderá ter impacto em todos os objetivos, no entanto, como cultivadores há dois que me parecem mais relevantes.
ODS2 - Erradicar a fome
De entre os muitos pontos deste objetivo, e se é certo que diretamente a canabis não erradica a fome, o desenvolvimento de sistemas de agricultura sustentáveis tem de ser um ponto chave no cultivo da planta.
Hoje em dia há muito a melhorar na forma como se cultiva. Podemos garantir que fazemos melhor uso do solo, que usamos e desenvolvemos técnicas sofisticadas e eficientes de agricultura de precisão, que escolhemos as matérias primas mais verdes.
Isto pode ser alcançado tornando cada empresa um polo de desenvolvimento e investigação, afinal de contas são casa de alguns dos cientistas mais bem preparados. Pode ser feito em parceria com fornecedores, para desenvolver novas formas de fazer.
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Depois esse conhecimento tem de ser "derramado". Final das contas a canabis é extremamente exigente, consome energia, água e substrato - se há cultura onde a afinação pode ser feita é esta, se conseguirmos nesta, conseguimos em qualquer uma.
Pode ser particularmente interessante trabalhar sobre métodos de precisão no cultivo, fertilização e regas eficientes e proteção da cultura e maneio do solo.
ODS12 - Produção e consumo sustentáveis
A canabis consome muito. ponto. É uma parafernália de caixas e caixinhas e consumíveis, "epi's", luzes, substratos, vasos... até estarmos enterrados em PET e plástico de grau alimentar!
Mas, não haverá um caminho alternativo? Não devemos procurar sempre as soluções mais sustentáveis? Substratos mais sustentáveis aos quais podemos dar um melhor fim de vida?
Não deveríamos usar e abusar da compostagem? Não devíamos fazer o negativo dos produtores de cânhamo e lutar pelo uso da planta inteira também? Não devíamos procurar gerar mais e mais valor?
Podemos e devemos procurar estas mudanças nas nossas empresas, nos nossos clientes e fornecedores. Afinal de contas somos a indústria das auditorias, não há a desculpa do "Não sei, não perguntei". Não, penso que podemos fazer melhor e para além disso provocar uma mudança de paradigmas em todo o setor.
Se a canabis quer ser um futuro, não estará já na hora de trabalhar para esse futuro melhor? Digamos adeus à canabis "de plástico" e comecemos a procurar alternativas mais sustentáveis, uma nova forma de fazer longe do pressuposto que tudo tem de consumir muito e valer milhões.
Há tanto que podemos fazer, Já! Há tantas formas como podemos impactar a sociedade em que nos inserimos de forma mais positiva. Que venham os relatórios de sustentabilidade das empresas cultivadoras e produtoras, que venham as conversas com autarquias e comunidades, que venha o investimento em criar sistemas que multipliquem as boas ações.
O mercado é um mercado de milhões e é por ter acesso a todos esses recursos que tem o dever de se dedicar a estas causas. Afinal, pode vir daí muito boa publicidade, para além dos óbvios ganhos que se espalham por todos os agentes e as gentes.