Armazenagem: investimento estratégico para o produtor e para o País
Na última década, os ganhos de produtividade no cultivo de grãos no Brasil levaram a uma acelerada expansão do setor. Enquanto as taxas de área cultivada crescem cerca de 2% ao ano, a produção sobe de 4 a 4,5%. Seguindo esse ritmo, chegamos à safra 2019/2020 com a expectativa de bater todos os recordes de produção, com previsão de colheita de 245 milhões de toneladas de grãos, crescimento de 1,6% em relação à última safra.
Entretanto, apesar do desenvolvimento excepcional deste mercado e seu papel preponderante na nossa balança comercial, os investimentos em armazenagem e logística caminham no sentido oposto, o que deve resultar em um déficit de armazenagem de 87 milhões de toneladas de grãos em 2020.
De acordo com a Conab, a capacidade estática de um país deve exceder em 20% sua produção, ou seja, o ideal seria que o Brasil contasse com uma infraestrutura capaz de armazenar cerca de 290 milhões de toneladas de grãos, valor muito superior à nossa atual capacidade de armazenagem que não chega aos 170 milhões de toneladas.
Adicionalmente, a situação fiscal do País levou a cortes de investimentos no setor. Na safra 2013/2014, o Governo Federal lançou o Plano de Construção de Armazéns (PCA) – com o objetivo de auxiliar no desenvolvimento do segmento e diminuir os problemas de estocagem. Seriam destinados R$ 5 bilhões anuais durante cinco anos para o setor, que serviriam para aumentar o acesso ao crédito e estimular o investimento por parte dos produtores rurais.
Entretanto, na safra 2015/2016 a verba foi cortada pela metade, sofrendo reduções constantes ano a ano, chegando a 2019 com previsão de orçamento de R$ 1,8 bilhão. Ou seja, diferente da previsão inicial de liberar R$ 25 bilhões em 5 anos, o que aconteceu foi um incentivo de menos de R$ 15 bilhões.
Além dos desafios de natureza macroeconômica, os produtores rurais também encontram problemas sistêmicos que dizem respeito à forma como a infraestrutura de estocagem é gerenciada no País. No Brasil, somente 16% da produção é armazenada nas propriedades agrícolas. Os investimentos nesta área ainda estão concentrados em grandes fazendas empresariais, tradings e cerealistas, sobrecarregando o sistema logístico e de armazenagem intermediária nas épocas de colheita.
Comparando nossa realidade a outros grandes mercados agro é possível perceber que o Brasil está na contramão de uma tendência que garante mais eficiência e lucro para o produtor: na Argentina, por exemplo, 21% da capacidade de estocagem está localizada nas propriedade rurais; na União Europeia esse número salta para 50%; já nos Estados Unidos, o valor é de 56%; enquanto no Canadá, 80% da infraestrutura de estocagem está presente nas fazendas.
Esse modelo evita gargalos logísticos, diminui custos de produção, além de garantir melhores possibilidades de negociação do grão, permitindo que o produtor escolha a melhor época ou o comercialize no mercado de lotes, em que os ganhos podem variar de 9,3% a 15,4% em relação ao mercado de balcão.
O aumento de investimentos em armazenagem de grãos não é somente necessário para um país como o Brasil, que vem se consolidando rapidamente como uma das grandes potências agrícolas mundiais. É uma questão urgente que pode, inclusive, nos tornar menos competitivos em relação a outros mercados.
Para que isso não ocorra, é necessário que sejam destinados mais recursos para o segmento e que os produtores entendam que possuem um papel crucial na mudança de panorama da armazenagem no Brasil, ao enxergá-la como investimento e não como custo.
* Este artigo foi publicado originalmente e com exclusividade para o Portal Revista Safra.
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Educador Executivo - Focado em Vendas Relacionais
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Account Manager | SaaS | B2B
5 aExcelente artigo Luiz! Abraço!
Agricultura de decisão | nexialista | consultor | professor | palestrante
5 aOtimo artigo, parabens !