Arquitetura On-line: será que você pode acreditar nisso?
Estamos na era digital. Fato. Mas alguns serviços, ditos clássicos não podem de maneira alguma se tornar "à distância" sem o prejuízo dos seus resultados.
Mulheres, vocês fariam uma consulta com seu ginecologista pela internet? Por um aplicativo de celular? "Mande fotos da sua genitália e receba seu diagnóstico sem sair de casa, direto no seu celular"! Irreal, concordam? Será que com a Arquitetura é diferente?
Afirmo que é a mesma situação. Assim como um médico não pode fazer um diagnóstico a partir de fotos, conversar com seu paciente por um aplicativo e dar um diagnóstico eficaz, um arquiteto jamais fará um projeto de arquitetura pela internet. Nunca...senão, não estarão entregando arquitetura. Entregarão uma planta de layout, uma indicação de troca de revestimento (baseado em sua beleza, não funcionalidade), uma dica de troca de cor da sala... mas não arquitetura.
Sabem por que? Porque assim como os médicos, que precisam olhar para seus pacientes, perceber suas dores, verificar os sintomas e associá-los para dar um diagnóstico, os arquitetos precisam conhecer o local do projeto, sentir se o local é úmido, abafado, se o sol é "da manhã" ou "da tarde", se o revestimento está comprometido (e pode estar em apenas em alguns lugares; talvez a foto enviada ao "projetista" não mostre este trecho), se a pintura tem pontos de umidade, ou apenas desgaste do tempo... se o vento circula, se a disposição dos móveis é adequada (e para isso é preciso entender o fluxo de circulação da família), barulho... e em casos de projetos de construção, saber como é o terreno, sua composição, sua insolação, ventos, vegetação, sombras, ruas do entorno... você mandaria fotos de tudo isso para um arquiteto avaliar e entregar um projeto "on-line"?
Fico muito triste quando ouço que "os arquitetos precisam se reciclar, acompanhar as mudanças". Entendo que devemos usar as ferramentas disponíveis para aprimorar nossos projetos, nunca substituir nossas figuras por um aplicativo, uma plataforma on-line de serviços (qual garantia você tem que atrás daquele aplicativo ou plataforma tem mesmo um arquiteto trabalhando em seu "projeto"?).
Sabemos de "profissionais" que estão se vendendo por dinheiro fácil (é inegável que um projeto trabalhado com algumas fotos e sem sair de casa, é muito mais rápido e rentável, pode-se "atender" a todo o território nacional e até internacional) e rasgando seus diplomas colocando fora a oportunidade de fazerem de fato arquitetura, aquilo que se propuseram a fazer quando cursaram os 5-6 anos de faculdade. É a triste realidade dos tempos atuais.
Preste atenção às promessas fáceis. Em todas as profissões, há os bons e maus profissionais. Os que trabalham porque acreditam no que fazem e os que trabalham para ganhar dinheiro, não levando em consideração as reais necessidades dos seus clientes e pensando apenas no seu lucro imediato, desgastando ainda mais a imagem do arquiteto no mercado, já tão desacreditada.
Se ainda assim for inevitável contratar um serviço de arquitetura on-line, peça referências. Peça o número do registro do profissional no CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo), exija que seu projeto tenha uma RRT (registro de responsabilidade técnica). Entre em contato com o CAU da sua cidade (aí sim, pode ser pelo site ou telefone) e peça informações sobre este profissional, se sua atividade está regulamentada e pode ser exercida, se seu registro está ativo. Todo arquiteto precisa destes registros para poder trabalhar. Se não os tem (ou não fornecem), desconfie.
Há serviços que não podem ser substituídos por uma máquina e a Arquitetura é um deles. Ainda bem!!
Tatiana Portella | Arquiteta e Urbanista pela UniRitter Porto Alegre - RS | especialista em planejamento e gestão de obras pela UniSociesc - SC | experiência de 10 anos no mercado gaúcho no ramo da construção civil e 3 no mercado catarinense no segmento de obras rápidas | atualmente se dedica a Arquitetura Social através de projetos sustentáveis e de baixo custo, buscando tornar a Arquitetura acessível à todos os públicos.