A arte de deseducar os mais jovens
Pergunto-me muitas vezes o que andamos todos a fazer pelo futuro da sociedade. Para que não haja dúvidas, esclareço que estou a falar da educação dos mais jovens. Educação, não deseducação, que é o que parece que andamos todos a fazer, mas ninguém dá conta ou faz nada por isso.
Tenho uma pós-graduação em pedagogia e estive uma década ligada ao ensino de vários escalões etários e, com muita pena minha, tenho de admitir que vi muitos pais peritos na arte de deseducar os seus filhos. Acho mesmo que é uma arte a que eles se têm vindo a dedicar e a aperfeiçoar afincadamente.
Porque o digo? Quantas vezes dão tudo aos meninos, sem que pensem se lhes faz falta, se o merecem ou, sequer, se é oportuno que o tenham?
Enquanto uns compensam as ausências com prendas, outros não sabem ou não querem dizer ‘não’ aos seus ricos filhos. Outros ainda vivem reféns dos seus próprios rebentos, que também eles desenvolveram a grande arte de manipular os pais, especialmente os de pais divorciados.
Metam na cabeça, de uma vez por todas, que o amor e o tempo de qualidade que sentimos que não estamos a dar-lhes, não se compensa com bens materiais ou com dizer sempre que sim aos meninos. É um contrassenso que só nos vai trazer dissabores. Porque, meus caros, desenganem-se de uma vez, os primeiros a sofrerem com a má educação que dão aos filhos, são os pais.
Se fizer todas as vontades ao meu filho, estarei a criar um ditador, um egoísta que só vê as suas necessidades, incapaz de qualquer sacrifício, um ser que não segue, nem sequer sabe, seguir regras. E alguém consegue ser alguma coisa na vida sem regras e autocontrolo? Não são elas a base da sociedade? Ou será que vivemos numa anarquia? Como poderemos acreditar que estamos a preparar a próxima geração, se não a dotamos das capacidades básicas de vida em sociedade e de vir a alcançar o sucesso?
Se perguntarmos a qualquer mãe ou pai o que deseja para o seu filho, todos lhe dirão em primeiro lugar: que seja feliz. Então, porque fazem hoje quase tudo para que ele não o seja?
O menino vem zangado com o professor? Julgue-se já sumariamente esse ditador cruel, comedor de meninos ao pequeno-almoço. Tudo na frente da criança, claro está, para que ela não tenha qualquer respeito por ele e não lhe veja qualquer autoridade. Mas queremos que o menino aprenda e tenha bons resultados escolares. Vai um conselho? Perante cada crítica a uma figura de autoridade que tem/escolheu para educar o seu filho, aprenda a responder que irá falar com essa pessoa, para saber o que se passa. Resista a condená-la na frente do seu filho. Não estou a dizer que este esteja a mentir, ou que as crianças mintam sempre, mas que ajude a que o seu descendente aprenda o que é a autoridade e o respeito pelos outros. Ao ensinar-lhe a respeitar os outros, estará a ensinar-lhe a respeitá-lo também a si.
O menino assumiu um compromisso e agora não lhe apetece cumpri-lo? Resista a inventar uma desculpa para este não o fazer, mesmo que também a si não apeteça acompanhá-lo ou ajudá-lo. Lembre-se de que faz parte das suas funções de educador, ensinar-lhe o valor da palavra dada. Não se esqueça de que só confiamos em quem cumpre o que prometeu e o sucesso profissional depende grandemente disso.
Prometeu um castigo ao menino e agora está a vacilar, porque, coitadinho, vai sofrer… Esqueça lá isso. Se prometeu e ele falhou, cumpra a sua promessa. A menos que queira tornar-se num pai refém do seu próprio filho. Muito duro? Na próxima vez, pense antes de prometer e não fale por falar.
Resista a substitui-se ao seu filho nas lutas que devem ser travadas por ele. Se o fizer, estará a criar um adulto inseguro que fugirá a qualquer confronto. Deixe-o tentar, apoie-o e, se for necessário, então intervenha, mas só se necessário e, de preferência, sem que ele se aperceba.
No dia 1 de junho, celebra-se o Dia Mundial da Criança e é sempre uma boa altura para repensarmos as nossas atuações.
Mas não se recrimine pelas suas falhas. Os filhos não trazem manual de instruções. Aprenda com os erros cometidos e mude as suas atitudes. E lembre-se: cabe-lhe a si dotar as suas crianças de todas as competências que elas irão necessitar quando forem adultos. Se todos fizermos o nosso trabalho, a próxima geração serão mais capazes, mais felizes e mais bem-sucedidos na arte de serem pessoas, sociedade e criadores de futuro.
Atenção: Este artigo foi escrito para a revista de empreendedorismo feminino "Exklusiva" de maio de 2016, quando geria uma publicação digital de gestão e liderança.