A arte de fazer filmes
Muitos (grandes) realizadores têm um estilo próprio, que os denuncia, sempre que vemos uma cena de um filme da sua autoria. É esse o caso de Wes Anderson, com um síndrome obsessivo-compulsivo pela simetria, usada na criação de belos cenários quiméricos e coloridos, onde a teatralidade e infância se fundem primorosamente, acompanhadas de personagens excêntricas e histórias com um toque de humor negro. Portanto, é justo afirmar que o cineasta não faz apenas filmes; faz também arte. Com um estilo visual inconfundível, a técnica do homem responsável por obras como “Rushmore”(1998), “The Royal Tenenbaums”(2001) e "The Grand Budapest Hotel" (2014) mostra nos seus diversos filmes como pode ser eficaz a aplicação minuciosa da sua tendência em centrar os elementos de uma cena e/ou plano.
O aspeto de um filme pode ser uma influência muito poderosa junto do público. Uma única voz: que passa uma mensagem, sem nunca nenhuma palavra ser pronunciada. É esta a beleza dos visuais criados em cinema, que falam por si e incendeiam as mentes e memórias dos espetadores.
Com identificação e reconhecimento do grande público, vem também reputação. François Truffaut, Jacques Tatti, Quentin Tarantino, Yasujiro Ozu, Terrence Malick, Alejandro Jodorowsky, Stanley Kubrick, Darren Aronofsky, Alfred Hitchcock, Orson Welles e François Truffaut são, entre muitos outros, prova disso. Ainda hoje, reminiscências de planos do “2001: A Space Odyssey”, como a perspetiva de ponto de fuga que dá amplitude e profundidade, influenciam outros filmes do género e são relembrados pelos fãs.
Ou então o famoso plano contrapicado utilizado sempre que abrem um porta-bagagens nas películas de Tarantino, mostrando assim o ponto de vista do subjugado – são as chamadas “trunk shots”.
E ainda a divisão do ecrã em dois planos, por Malick, em “The Tree of Life” e outras suas obras, como forma de contraste.
Já Ozu usa os planos estáticos para centralizar toda a atenção no elemento humano, através da câmara estática, quando filma corredores e exibe de longe os personagens a andarem.
Todas estas técnicas de linguagem visual e marca de autor são um cartão-de-visita universal - do cineasta para o público - que dão mais força à imagem como elemento primordial do cinema, aquele que é conhecido como a Sétima Arte.
Texto originalmente redigido para a Revista SPOT.
Pode também ser visto no meu blog: www.cinemaschallenge.com