Assédio sexual pode causar paralisia profissional

Por Rute Paixão dos Santos

O assédio sexual ainda é, atualmente, muito praticado dentro das empresas, prejudicando mulheres e homens dignos e com caráter. Alguns destes têm visto paralisada a vida profissional, por causa das perseguições dos assediadores, os quais, na sua maioria, têm uma personalidade egoísta e antiética. Como exemplo, segue a história de José do Egito, da Bíblia:

(...) Potifar tudo o que tinha confiou às mãos de José, de maneira que, tendo-o por mordomo, de nada sabia, além do pão com que se alimentava. José era formoso de porte e de aparência. Aconteceu, depois destas coisas, que a mulher de seu senhor pôs os olhos em José e lhe disse: Deita-te comigo. Ele, porém, recusou e disse à mulher do seu senhor: Tem-me, por mordomo o meu senhor e não sabe do que há em casa, pois tudo o que tem me passou ele às minhas mãos. Ele não é maior do que eu nesta casa e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porque és sua mulher; como, pois, cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus? Falando ela a José todos os dias, e não lhe dando ele ouvidos, para se deitar com ela e estar com ela, sucedeu que, certo dia, veio ele a casa, para atender aos negócios; e ninguém dos de casa se achava presente. Então, ela o pegou pelas vestes e lhe disse: Deita-te comigo; ele, porém, deixando as vestes nas mãos dela, saiu, fugindo para fora. Vendo ela que ele fugira para fora, mas havia deixado as vestes nas mãos dela. Chamou pelos homens de sua casa e lhes disse: Vede, trouxe-nos meu marido este hebreu para insultar-nos; veio até mim para se deitar comigo; mas eu gritei em alta voz. Ouvindo ele que eu levantava a voz e gritava, deixou as vestes ao meu lado e saiu, fugindo para fora. Conservou ela junto de si as vestes dele, até que seu senhor tornou a casa. Então, lhe falou, segundo as mesmas palavras, e disse: O servo hebreu, que nos trouxeste, veio ter comigo para insultar-me; quando, porém, levantei a voz e gritei, ele, deixando, as vestes ao meu lado, fugiu para fora. Tendo o senhor ouvido as palavras de sua mulher, como lhe tinha dito: Desta maneira me fez o teu servo; então, se lhe acendeu a ira. E o senhor de José o tomou e o lançou no cárcere, no lugar onde os presos do rei estavam encarcerados; ali ficou ele na prisão. O Senhor (Deus), porém, era com José, e lhe foi benigno, e lhe deu mercê perante o carcereiro. Gênesis 39. 1-21

A história apresenta um caso de assédio, onde a vítima é um homem e o assediador uma mulher, mas existem casos de homens contra homens, mulheres contra mulheres e, em unanimidade, os casos de homens contra mulheres. No entanto, isso pouco importa neste artigo, pois o que se busca analisar, realmente, são as emoções, os constrangimentos e os prejuízos que as vítimas geralmente enfrentam durante sua trajetória profissional.

Trazendo a história mencionada acima para a realidade atual pode-se dizer que as vítimas, na sua maioria, são pessoas atraentes e belas, como foi o caso de José, que "era formoso de porte e de aparência", ou pessoas que, simplesmente, representam um desejo sexual do assediador.

O assédio sexual, de modo geral, acontece quando o assediador, principalmente em condição hierárquica superior, recebe como resposta um não da pessoa assediada e, mesmo assim, ele continua a insistir, pressionar e constranger a vítima. Na história apresentada anteriormente, a mulher de Potifar falava a José todos os dias. É difícil imaginar uma pessoa trabalhar em um clima desse, com grande pressão emocional negativa de ansiedade e estresse, que pode até acarretar uma depressão. 

Geralmente o assediador rejeitado mente, manipula e prejudica a vida profissional do assediado, dentro da empresa e até mesmo fora dela, fornecendo péssimas referências sobre a vítima, quando esta busca um novo emprego. A mentira e a manipulação ficam fáceis porque, na maioria das vezes, essas pessoas têm cargo de confiança. Foi o que aconteceu na nossa história, o texto cita que o marido ouviu as palavras da mulher como lhe tinha dito, ou seja, a outra parte geralmente nunca é ouvida. Não se pode esquecer que toda história tem dois lados e que ambas as partes precisam ser ouvidas.

Na maioria dos casos, a vítima cala-se e vive os sentimentos negativos em um ambiente hostil, levando dentro de si os rumores internos da ansiedade, estresse e depressão. Tantas emoções, apesar de vividas e sentidas pela vítima, esta, por medo de perder o emprego, convive com esse trauma sozinha, o que também pode causar atitudes retraídas no ambiente de trabalho, prejudicando inclusive o andamento dos serviços, pois as pessoas assediadas geralmente evitam o contato direto com o assediador.

O que não se pode esquecer é que a prática do assédio é crime. Segundo a Lei nº 10.224, 15 de maio de 2001 aprovada pelo Congresso Nacional, assédio sexual é o ato de "constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função". Um estudo publicado no site: www1.folha.uol.com.br/ciencia, revela que os ricos são mais propensos a trapacear. A afirmação é do pesquisador Rodolfo Mendoza-Denton, professor do Departamento de Psicologia da Universidade da Califórnia, em Berkeley (EUA), que assina o trabalho com colegas da Universidade de Toronto (Canadá): " (...) Outros cinco experimentos realizados em laboratório com estudantes e pela internet, com uma amostra de alcance nacional de adultos, revelaram que os participantes que se consideravam de classe alta tinham mais tendência a tomar decisões antiéticas do que os de classe baixa".

Entre esses comportamentos está furtar objetos valiosos de outras pessoas, mentir em uma negociação ou aumentar as possibilidades de ganhar um prêmio e dar aval a uma conduta incorreta no trabalho.

"O importante não é apenas a conclusão de que as pessoas que estão mais acima tendem a se comportar menos eticamente, mas avaliar por que o fazem", declarou Mendoza-Denton. "Descobrimos que as pessoas de classe baixa ou que se percebem como tal estão mais expostas a perigos, têm menos recursos e um trabalho que não é estável, o que torna suas vidas menos previsíveis", disse o pesquisador. "Os cidadãos desse nível social trabalham mais para garantir que as relações humanas serão fortes e duradouras", acrescentou.

Por outro lado, os membros da classe alta, "como têm mais recursos, se sentem mais seguros, têm o luxo de ser mais independentes, tendem a focar os pensamentos e as emoções em si mesmos e pensam menos nas consequências que seu comportamento tem para outros", concluiu.

Marilena Chauí, no livro Filosofando, cita que a pessoa ética precisa preencher as seguintes condições: ser consciente de si e dos outros, ou seja, reconhecer os outros como sujeitos éticos iguais; ser dotado de vontade, ter capacidade de controlar seus impulsos e desejos; ser responsável, assumir as consequências dos seus atos e ações e ser livre, ter a capacidade de decisão, sem que fatores externos o forcem e o constranjam a sentir, a querer e a fazer alguma coisa.

Não se está aqui mencionando os namoros entre colegas de trabalho, que podem até começar dentro da empresa, caso a política da instituição assim permita. Que fique bem claro que o assédio sexual acontece quando a pessoa assediada continua sendo abordada após a resposta negativa. Então, isto significa que os sentimentos ficaram verbalizados.

Quem conhece o final da história de José sabe que ele foi feliz, pois, apesar de ter a sua vida profissional paralisada por 13 anos, conseguiu ser governador do Egito. Talvez você não tenha a mesma "sorte" de José e o melhor a fazer é recorrer à ajuda de uma pessoa de confiança no ambiente de trabalho, recolher provas (bilhetes, e-mail e, se possível, ter uma testemunha) ou até mesmo procurar os seus direitos legais, com o objetivo de paralisar essa prática abusiva.

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