Asset Alocation em 2017 – parte II
Traçados os cenários internacional e local para o ano e mapeados os respectivos riscos, é hora de aprofundarmos a análise para cada classe de ativo no mercado e seus retornos esperados. Para uma melhor estimação, analisaremos os fundamentos, a parte técnica, os drivers e indicadores que podem afetar ativos e respectivos nível de convicção para alocação.
Em relação a juros, vimos que o cenário base é de um ano em que o Banco Central atuará de forma constante para reduzir o juro nominal, condicionado a algumas variáveis: inflação corrente, expectativas de inflação futura, andamento de reformas fiscais, nível de ociosidade da economia e, em menor grau, cenário externo. A inflação corrente tem surpreendido positivamente desde o final do ano passado e a expectativa é que continue desta forma, o que vem sendo refletido nos relatórios semanais Focus do BC. A atividade, tanto pelo lado da oferta como pela demanda, não apresenta sinais claros de recuperação no 1º trimestre de 2017. As reformas fiscais, segundo o próprio BC, avançam em ritmo satisfatório, e o cenário externo, apesar de incerto após a posse do novo presidente dos EUA, tem pouco impacto no momento na condução da política monetária no Brasil. Os papéis atrelados a juros no Brasil, sejam eles pré-fixados ou indexados à inflação tiveram um 2016 muito positivo, por isso a alocação na classe passou de “extremamente positivo” para “positivo”, ainda apresentando possibilidade de retorno excedente para o investidor, com um nível de convicção alto. Os riscos, como citados acima, são uma pausa no processo desinflacionário, nas reformas fiscais e um cenário externo extremamente negativo.
Os fundamentos para a bolsa brasileira são mistos. Se por um lado, a queda de juros no país beneficia o custo de capital das empresas, principalmente das mais alavancadas, os resultados operacionais ainda devem mostrar sinais da crise. É importante ressaltar que a bolsa em 2016 subiu quase 40% com uma mudança nas expectativas dos agentes de mercado sobre o futuro do país, o que resultou na maioria dos papéis do Ibovespa tendo retornos excelentes, mesmo que os fundamentos da empresa ainda estivessem negativos. O indicador de Preço/Lucro da bolsa passou, por exemplo, de 8x para 12x. Esse movimento resultou em uma oportunidade de seleção para o ano de 2017 entre empresas que realmente tendem a se beneficiar no curto/médio prazo e outras que devem sofrer um tipo de correção com resultados ainda longe do esperado. Portanto, o cenário para renda variável é neutro, e a seleção de empresas/setores será o diferencial entre quem ganhará e perderá dinheiro na bolsa em 2017. Analisar a quais indicadores econômicos cada um está mais relacionado (juros, câmbio, commodities) deve ajudar numa estimação mais completa.
O câmbio provavelmente é a classe mais difícil de ser prevista pela quantidade de variáveis que a compõe. Já vimos que pelas propostas de medidas econômicas apresentados pelo presidente Trump, a inflação e consequentemente os juros nos EUA devem subir a ritmo mais elevado do que precificado em 2016. Isso resulta em um dólar mais forte no mundo, afetando também o real. Por outro lado, ao compararmos às economias emergentes, o Brasil está num processo positivo de reformas e uma mudança num outlook das agências de risco não pode ser descartado, atraindo investimentos para o país e fortalecendo o real. Processos de privatização, abertura para captação no exterior e nova rodada da anistia fiscal podem afetar o fluxo para Brasil e fortalecer nossa moeda. Esses pontos são contrabalanceados de maneira que é possível trabalhar com um “range” entre R$ 3,10 e R$3,30 para o dólar este ano. Mais uma vez, o risco político local e internacional tem bastante peso no monitoramento deste patamar, assim como o preço das commodities que em maior nível tende a beneficiar o real. Portanto, o cenário para a taxa de câmbio também é neutro e deve ser utilizado por investidores que tem posições em renda variável para diversificar seu risco.
Sobre investimentos alternativos, é cada vez mais comum investidores procurarem gestores que saibam utilizar cada classe de ativo de maneiro mais eficiente, diminuindo o risco e maximizando os retornos. É possível encontrar hoje em dia fundos multimercado com aplicação inicial a partir de R$ 10.000, e usufruir de uma gestão ativa que entenda como cada classe se correlaciona e onde estão os maiores prêmios no momento.
Um dos passos mais importantes para investir em 2017 é analisar o seu perfil de investidor. A alocação sugerida para uma pessoa com perfil conservador, será diferente da sugestão de um perfil moderado, assim como do arrojado. Portanto, no próximo artigo falarei sobre as características de cada perfil e qual seria a carteira sugerida para cada um neste ano.