Até onde o Chefe deve Interferir
Jeozane Felix da Silva

Até onde o Chefe deve Interferir

Em seu livro A Arte da Guerra, Sun Tzu descreve uma passagem, com as concubinas do Rei de Wu, que pode ajudar a entender até onde o chefe deve interferir na execução de uma tarefa a cargo de um subordinado.

O chinês Sun Tzu, que viveu por volta do ano 450 a.C., foi um dos homens mais versados na arte militar. A obra que escreveu e a experiência adquirida nos combates que participou lhe proporcionaram um enorme respeito por todos que o conheciam.

Ciente de que o reinado de Wu se preparava para uma guerra, Sun Tzu procurou o Rei e se apresentou como voluntário para combater sob suas ordens. O Rei de Wu ficou maravilhado com a oferta de Sun Tzu e quis, pessoalmente, interroga-lo.

O Rei começou a conversa dizendo que já havia lido alguns textos de Sun Tzu que tratavam da arte da guerra. No entanto, dizia o Rei, e Sun Tzu haveria de concordar, que nem tudo acontece conforme está relatado nos livros. Na vida real, acontecem coisas que contrariam a teoria colocada no papel. Imaginar estratagemas quando se está em gabinete é fácil. Porém, quando estamos no terreno, tudo muda.

Rei – respondeu Sun Tzu -, nada disse em meus escritos que já não tivesse praticado nos exércitos. Estou em condições de fazer qualquer um colocar em prática minhas ideias, bem como posso treinar qualquer indivíduo para os exercícios militares, se for autorizado a tanto.

“Treinar homens inteligentes, de índole prudente e corajosa, afeitos ao trabalho, dóceis e cheios de boa vontade não é tão difícil”, disse o Rei. Mas a maioria dos homens não é desse naipe.

Sun Tzu, com todo o respeito que a situação exigia, replicou que ele treinaria “qualquer um”, sem excluir ninguém, inclusive os mais covardes e mais fracos.

“Qualquer um? Então conseguirias transformar mulheres em guerreiras, prontas para o exercício das armas?” – perguntou o Rei, desafiando a capacidade de Sun Tzu.

– Sim, Rei – replicou Sun Tzu. – Rogo que Vossa Majestade acredite nisso.

O Rei, pretendendo obter um divertimento diferente daqueles que costumavam transcorrer na Corte, mandou trazer suas cento e oitenta mulheres.

Ele foi obedecido, e as princesas apareceram. Entre elas, havia duas que ele amava com devoção. Elas foram colocadas à frente das outras.

– Veremos – disse o Rei, sorrindo -, veremos, Sun Tzu, se manténs a tua palavra. Nomeio-te general dessas novas tropas. Quando elas estiverem suficientemente treinadas, me avisarás e eu virei fazer justiça a tua habilidade e a teu talento.

Mesmo sentindo todo o ridículo do papel que o Rei havia lhe colocado, o general não se desconcertou. Recebeu a tropa formada pelas concubinas e informou: “Vocês estão sob o meu comando e as minhas ordens”. Em seguida, armou-as e começou a treiná-las.

Como primeiro treinamento, explicou movimentos simples de ordem unida: sentido; descansar; direita, volver; esquerda, volver. Perguntou se as mulheres haviam entendido. Se tivessem alguma dificuldade, era só falar. Elas, depois de algumas risadinhas, responderam que haviam compreendido bem.

Quando passou a praticar os movimentos de ordem unida, as mulheres caíram na gargalhada e nada executaram. Sun Tzu não se alterou e disse: “- Pode ser que não tenha me explicado claramente. Se aconteceu isso, a culpa é minha. Vou tentar remediar o fato, falando-lhes de uma forma que esteja a seu alcance.”

Em seguida, repetiu três vezes a mesma instrução, usando outros termos.

– Quero ver se agora serei melhor obedecido.

Repetiu os comandos de ordem unida. As mulheres continuaram rindo, sem nada executarem. Sun Tzu não se desconcertou. No mesmo tom que lhes tinha falado antes, disse-lhes:

“- Se eu não tivesse me explicado bem, ou se vocês não me tivessem afirmado, em coro, que tinham compreendido, não seriam culpadas. Mas lhes falei claramente, como vocês mesmas admitiram. Por que não obedeceram? Vocês merecem punição, e punição militar. No universo militar, aquele que não obedece às ordens do general merece a morte. Vocês morrerão.”

Depois desse preâmbulo, Sun Tzu ordenou que duas mulheres matassem as favoritas, que estavam a sua frente. No mesmo momento, um dos guardas das mulheres, percebendo que o guerreiro não estava brincando, correu para avisar o Rei a respeito do que estava acontecendo. O Rei despachou alguém para proibir que Sun Tzu matasse as duas favoritas, sem as quais não podia viver.

O general escutou com respeito o emissário, mas não acedeu ao pedido do Rei.

– Diga ao Rei – respondeu – que Sun Tzu o considera bastante sensato e justo para pensar que ele pudesse ter mudado de ideia, e queira realmente que eu aceda à contra-ordem recente. O príncipe faz a lei, mas não poderia dar ordens que aviltassem a dignidade com que me revestiu. Ele me encarregou de treinar suas cento e oitenta mulheres. Sagrou-me seu general: cabe a mim fazer o resto. Elas me desobedeceram, por isso morrerão.

E Sun Tzu, pessoalmente, matou as duas preferidas do Rei. Depois, retomou o treinamento. Agora, as mulheres executaram tudo conforme fora ensinado, sem cometerem nenhum erro.

Sun Tzu dirigiu-se ao emissário do Rei:

– Vá avisar o Rei que suas mulheres sabem fazer o exercício; que posso levá-las à guerra, fazer com que enfrentem todo tipo de perigo, até mesmo atravessar a água e o fogo.

Até onde o chefe deve interferir

Para cada cargo de uma empresa, existe uma série de funções atreladas, atribuindo responsabilidades para o ocupante do cargo. Se você ocupa o cargo de gerente ou de operador de máquinas, por exemplo, espera-se que você tenha a responsabilidade e a liberdade para executar as funções inerentes ao seu cargo.

Até se admite que o funcionário tenha alguma dúvida técnica, inicialmente. Explicações, treinamentos e capacitações servem para habilitar a pessoa ao exercício das suas funções.

Depois que o chefe contrata um funcionário, colocando-o em um cargo, precisa acompanhar a maneira que esse funcionário executa suas funções. Não dá para seguir o padrão Sun Tzu – aqui quem manda sou eu e as coisas acontecem do meu jeito, se não gostar que me demita.

O “estrago” que um funcionário pode fazer ao conjunto da equipe, comprometendo o relacionamento interpessoal, mesmo que consiga bater as metas estipuladas, pode trazer um prejuízo a médio e longo prazos de difícil recuperação para a empresa.

Cabe ao chefe interferir sempre que as atitudes de um funcionário comprometam a cultura da empresa. Tem que deixar o empregado desenvolver suas funções, monitorando o clima no ambiente de trabalho. Caso perceba que está sendo semeada a discórdia, é hora de intervir, afastando a pessoa que é a causa do problema.

por Ronaldo Lundgren.

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