Aumento de Combustível e seu Poder de Compra ao longo dos anos

Aumento de Combustível e seu Poder de Compra ao longo dos anos

Recentemente o vice-presidente do Brasil, Antonio Hamilton Martins Mourão, afirmou em declaração que o litro de gasolina não voltará a R$ 4, mas é possível que volte a R$ 6.

"O preço da gasolina pode mudar. Pode baixar aí, voltar para meia-dúzia, né? Mas vamos lembrar aí que uns dois, três anos atrás estávamos pagando R$ 4,50, R$ 4,60" (Antonio Hamilton Martins Mourão)

Para muitos essa afirmação vem acompanhada de muita frustração, haja visto que uma das bandeiras pré-eleitorais defendidas pelo atual Presidente Jair Messias Bolsonaro era exatamente a redução da Gasolina. Veja o vídeo abaixo.

"Nós tamu no limite do limite, né? Não tem mais como, é... majorar o preço do combustível, ninguém quer majorar (sic)" (Jair Messias Bolsonaro, 25 de outubro de 2018)

O fato é, o combustível aumentou, mas assim como todo e qualquer preço é uma evolução natural de qualquer produto ou serviço prestado, uma vez que toda e qualquer cadeia de custos acaba sendo revista e normalmente as ineficiências fabris são revertidas em preços, que no curto prazo acaba sendo o meio mais fácil do controle da rentabilidade.

Aumento de preço e o curto prazo

Como mencionado no parágrafo anterior, no curto prazo, aumentos de preço acabam fazendo parte da rotina das empresas, entretanto quando estes reajustes passam a ser frequentes, de modo geral as empresas "perdem a mão" e é exatamente nesse momento em que os consumidores perdem poder de compra.

Estes reajustes acontecem praticamente em todas as esferas comerciais da sociedade, desde um simples pãozinho até componentes eletrônicos. Mas o grande ponto é que alguns itens possuem mais peso do que outros na cesta de consumo de cada cidadão e infelizmente, o transporte detém uma grande parcela neste mix.

Parcela do transporte na cesta de consumo.

Para se ter uma ideia, o IBGE apontou através da POF 2017 - 2018 que pela primeira vez na história despesas com transportes (14,6%) superaram o valor gasto com alimentação (14,2%).

Dentro dessa avaliação, dos R$ 658,23 gastos com transporte por mês, 39,1% (5,7% do total) direcionava-se para aquisição de veículos e 23,5% (3,4% do total) atribuídos para a compra de combustíveis. Isso mostra a relevância fator transporte dentro do orçamento familiar e como o impacto que qualquer variação ou desiquilíbrio no valor dos combustíveis pode afetar o poder de compra do cidadão.

Mas como o poder de compra para combustíveis se deteriorou ao longo do tempo?

Para poder responder essa questão, fiz um levantamento com base nos dados públicos da ANP onde podemos acompanhar a evolução no preço dos combustíveis desde 2008, passando pelos seguintes governos:

Base de referência

2008 a 2011 - Luis Inácio Lula da Silva

2011 a 2016 - Dilma Rousseff

2016 a 2018 - Michel Temer

2019 - Jair Messias Bolsonaro

Antes de nos aprofundarmos nos dados, quero que prestem atenção as legendas dos gráficos, onde Preço Deflacionado é o valor do combustível tirando o efeito da inflação, trazendo o produto a valor presente, Preço Não Deflacionado é o valor nominal capturado na época da pesquisa.

Preço da Gasolina

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

Avaliando a linha de preço deflacionado, percebam que durante o período de 2008 até Maio de 2018 o preço do combustível se manteve estável até mesmo com reduções significativas, o que de certa forma aponta para um ganho no poder de compra deste item para os consumidores, compra-se o mesmo gastando menos. A partir do meio de 2018 o preço do combustível começa a subir tendo uma forte alta a partir de Dezembro de 2020.

Baseando-se em dados podemos garantir que nos últimos 3 anos o consumidor perdeu poder de compra para este item, o mesmo passa a disputar valor com outros produtos da cesta de consumo, pensando que o combustível representava aproximadamente 3,4% dos gastos da população, com os recentes aumentos, podemos assumir que este valor subiu para aproximadamente 5% ou mais, sem falar no gasto com transporte público entre outros, uma vez que muitos produtos dependem do transporte feito por caminhões que são abastecidos por Diesel.

Falando em Diesel, como se comportou?

Preço do Diesel

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

Aqui temos um gráfico um pouco diferente do anterior, podemos observar uma forte redução de preços que perdurou entre 2008 até abril de 2012, se mantendo estável até Agosto de 2017. Passado esse período houve um pequeno reajuste que durou até Dezembro de 2020 e depois um forte aumento, assim como aconteceu com a gasolina.

No caso do Diesel temos alguns fatores que complicam um pouco mais a história, praticamente todos os produtos são transportados por caminhões, alimentos, ferramentas, insumos básicos, bens de consumo duráveis e não duráveis. O Diesel deve se manter estável, caso contrário irá impactar em toda a cadeia de custos, e pelo o que podemos observar, agora é uma questão de tempo para essa bolha estourar e um novo aumento de preço ser repassado aos consumidores.

Mas e agora? É sentar e esperar?

Não, como cidadãos, profissionais e principalmente empresários, precisamos nos unir e exigir infraestrutura de nossos governantes. A dependência do transporte é algo que veio para ficar. Nosso país é gigantesco, a falta de uma malha ferroviária é um dos principais fatores pelos quais nos deixam tão vulneráveis as variações mercadológicas e até mesmo a incompetência administrativa de alguns governantes. Nossos portos são precários, mão de obra qualificada é escassa entre diversos outros fatores, entretanto afirmo o seguinte, a migração para um novo modal de transporte é uma das poucas soluções que temos enquanto uma nação continental para aliviar e otimizar nossos custos.

Beleza, mas ainda não vi uma solução, estamos dependendo de terceiros, do governo???

Sim e não. As empresas também precisam repensar seus modelos de entrega, otimizar seus estoques, distribuindo de forma estratégica ao longo do território, ter um único CD para atender o Brasil inteiro pode não ser a melhor solução para reduzir custos, sem falar nas oportunidades fiscais... Ihhhh quase não tem, né??? rsrsrs...

Infelizmente a falta de infraestrutura torna nossa operação mais complexa e os investidores estrangeiros precisam ter ciência de nossas peculiaridades, introduzir um conceito "gringo" goela abaixo, certamente não trará bons resultados.

Com todo esse texto, trago uma reflexão. Pricing não é só sobre aumentar preço, mas também sobre pensar em alternativas de capturar valor e margem sem ter que necessariamente repassar ajustes devido ineficiências internas.
Uma empresa com cultura de Pricing pensará 2x antes de perder competitividade. Lembre-se a margem não é composta apenas por preço!

Meus amigos, espero que tenham gostado desse texto. Precisando de algo, contem comigo!

Um grande abraço,

Carlos Hensel

Ely Mezadri

KAM | Gerente de Contas | B2B | Comercial | Vendas | OEM | Desenvolvimento de Negócios

2 a

Carlos Hensel, parabéns por outro excelente artigo! Fato: precificar não é compensar ineficiência da empresa com aumentos de preço. É mandatório que tanto Pricing, quanto Comercial tenham visão sistêmica, olhem para dentro de sua operação e enxerguem oportunidades de redução de custos também. Claro que estamos vivendo uma época surreal em termos de desvalorização do nosso poder de compra por fatores de ordem macro, onde as empresas, estranguladas por um efeito em cadeia, são forçadas a optar pelo reajuste, é uma questão de sobrevivência. Mas diferente dos bens de consumo em geral, cujos preços apenas sobem, os preços dos combustíveis são (ou deveriam ser) controlados pelo Governo Federal, e poderiam sim retroagir a um nível aceitável, afinal o impacto desses aumentos constantes prejudica a Economia como um todo e conduz o país por um caminho que flerta com a recessão.

Luis Bressane

Gerente Sênior de Marketing | Trade Marketing | Comunicação | Membro do Júri POPAI | Consultor LEAG

2 a

Hensel, parabéns pelo excelente texto que mescla informação com dados e fatos e seu bom humor característico !

Miller Kajihara Guardalini

Analista de suprimentos Yees! | Founder at T&M Foods

2 a

Ótima análise e muito bem explicado Carlão! Parabéns!

Jucielder Silva

Analista de Planejamento Sênior I Inteligência de Vendas I Planejamento Comercial I Sell In & Sell Out I Curva ABC I Budget I Dashboard I Forescast I Provisões Financeiras

2 a

Grande Carlos, sempre nos trazendo excelentes conteúdos e de fácil entendimento parabéns!

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