A autocobrança silenciosa da pessoa idosa com demência

A autocobrança silenciosa da pessoa idosa com demência

Você começa a sentir que já não lembra bem de algumas coisas simples, algumas palavras simplesmente fogem do seu cérebro e você não consegue resgatá-las, mas é difícil expressar isso para as pessoas do seu entorno. Ontem você ficou com vergonha quando alguém abriu a geladeira e descobriu que o controle remoto estava lá dentro, afinal, como é que você foi colocar ele lá? Por qual motivo? Difícil conseguir responder essa pergunta.

Os seus filhos começam a te olhar com mais preocupação, já são mais cautelosos em falar algumas coisas, você percebe que o clima ao seu entorno parece mais denso, você sente que eles estão preocupados, melhor então acalmar eles, não é? É melhor tentar mostrar que tudo está bem, que você está bem, que esse esquecimento tem um motivo simples como cansaço, velhice, qualquer coisa banal que disfarce o real motivo que você quer tanto evitar.

 

A autocobrança da pessoa idosa em um processo inicial de demência é muito silenciosa, ninguém quer admitir que não se sente mais tão confiante nos seus próprios julgamentos e pensamentos, afinal, que grande medo que dá nós sentirmos que estamos perdendo o controle da nossa vida, esquecendo coisas importantes, o medo é de várias coisas e em muitas camadas: perder o respeito dos filhos e dos netos, trazer preocupação para eles, não ser mais útil, não ser mais capaz de interagir, entre muitas outras questões seríssimas que devemos levar em consideração.

 

Hoje neste artigo quero trazer algumas coisas que nos fazem refletir sobre isso:

Nós costumamos insistir que a pessoa está bem, o que pode muitas vezes reforçar a negação da pessoa, aumentar o seu anseio de trazer preocupação e se tornar um fardo.

Algumas pessoas até costumam fingir que não há nada acontecendo, para tentar amenizar a situação, mas a indiferença pode ser interpretada de várias maneiras, por exemplo: “afinal, será que eu não sou assim tão importante?”; “será que eles estão tentando esconder o desconforto deles de mim?”; “será que eles estão buscando meios de me internar sem eu saber?”;

Devemos ter em mente que o diálogo salva vidas, ele reestabelece relações, ele cura diversas feridas e ele nos coloca frente a frente com a autenticidade da outra pessoa, não devemos fugir dos diálogos mais importantes, porque esses são os alicerces das relações mais saudáveis.

 

Nós queremos encontrar a cura para tudo, mas tudo tem cura?

Não é sobre ficar curado, embora todos nós tenhamos o desejo genuíno de buscar nos livrar de todas as mazelas, de todas as doenças, há um momento que tudo o que nós podemos fazer é encarar de frente a nossa vulnerabilidade, entender que esse é o processo natural da vida e que ele pode se tornar mais ou menos doloroso, a trajetória será construída por nós, então temos que decidir quais serão as batalhas que nós iremos enfrentar.

 

“Quem estará ao seu lado nas trincheiras?

E isso importa?

Sim, mais do que a própria guerra.”

Ernest Hemigway

 

Não há nada pior do que você vivenciar um dos momentos mais assustadores da sua vida em silêncio, buscando não incomodar, tentando disfarçar o indisfarçável e tentando se encaixar em um lugar que não é para você.

 

Devemos ter muita compaixão, empatia e muita compreensão pelas pessoas que estão passando por isso para podermos ter certeza de que estamos plantando o que queremos para o nosso futuro, para o nosso próprio envelhecimento.

 

Não devemos calar a demência, devemos encará-la de frente, rir dela e aprender que a vida com ela continua.

PERFEITO VOCE SABE QUE ESTÁ 50% E TALVEZ POR MEDO DE SE ENVOLVER DIZEM "NOSSA VC TÁ TÃO BEM " TRISTE

Lilia M.

Gestão em Saúde | Saúde & Bem Estar | Saúde Ocupacional | Serviço Social Corporativo

11 m

Fiquei pensando no penúltimo parágrafo que você escreveu, a compaixão. Nem sempre ela vai vir de quem está cuidando, ex. filhos, aqueles que convivem no dia a dia, pode faltar paciência e sensibilidade, é tão complexo, né, por vários motivos, um deles é que a família esgota, e reflete no cuidado com a pessoa idosa, e certamente ela vai sentir impactos emocionais e psicológicos. Nem sempre a família pode custear um cuidador, pois entendo que delegar ficaria mais suave o processo par ambos. Não sei se faz o mesmo sentido para você. Gostei do texto. Achei leve ☺️

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