Autocuidado e política: impactos da saúde mental em candidaturas femininas
Vivemos em uma sociedade na qual tudo é muito mais difícil para as mulheres e, na política, não seria diferente. Falta apoio do partido, falta respeito dos colegas e sobram atitudes machistas e misóginas. Afinal, a violência política de gênero ainda é uma realidade muito presente no cotidiano das mulheres que se dispõem a assumir qualquer cargo eletivo.
Em função disso, a preparação de uma mulher durante o período eleitoral precisa ir além da busca por votos e preocupações de campanha. É fundamental que haja um trabalho de fortalecimento da autoestima e do autocuidado dessas mulheres para que, caso eleitas, estejam apropriadamente preparadas para lidar com o ambiente hostil que as espera.
A frente da Coordenação de Saúde Mental e Bem-estar do Instituto Vamos Juntas, pude contribuir de forma mais efetiva no apoio a essas mulheres. Atualmente, contamos com um grupo de cerca de 60 profissionais de psicologia voluntários, que apoiam mais de 140 lideranças em suas jornadas.O foco do projeto é proporcionar apoio e orientação psicológica para que essas mulheres saibam como lidar com situações de estresse, ansiedade e síndrome da impostora.
Você pode estar pensando, “mas Mari, com todos os avanços e conquistas dos últimos anos a favor das mulheres, situações de machismo e misoginia já não são mais tão frequentes, certo?”. Sinto informar, mas ainda estamos muito longe de um cenário minimamente saudável para as mulheres nos ambientes políticos.
O grande problema é que estamos falando de algo estrutural, que está enraizado nos hábitos de quem já está envolvido com política há mais tempo. Dessa forma, o que se presencia são micro agressões diárias que podem causar efeitos bastante negativos à saúde mental dessas mulheres.
Uma boa forma de entender a gravidade da situação é fazendo uma analogia com a experiência do sapo e a água fervente. Na experiência, quando um sapo é colocado em uma panela com água fervente, rapidamente ele pula para fora da panela e se salva do cozimento. Por outro lado, se ele for colocado em uma panela com água fria e esta for aquecida gradualmente até que levante fervura, o sapo não percebe a mudança e se mantém imóvel, morrendo em decorrência do cozimento.
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Esse é o efeito causado pelas micro agressões nas mulheres em cargos eletivos. Um colega que sempre a interrompe, outro que nunca apoia suas propostas, mesmo sendo seu colega de partido, o descrédito no olhar dos ouvintes durante o discurso em uma sessão. Todos esses pequenos detalhes vão minando a autoconfiança dessa mulher e afetando sua capacidade de se enxergar de forma positiva.
Portanto, não basta fugir das situações mais aparentes e dos xingamentos mais explícitos, é importante entender a si mesma o suficiente para perceber que a temperatura da água está subindo e que isso precisa ser interrompido, ou a sua saúde mental pode acabar “cozinhando”.
A melhor forma de se proteger dessas situações é fortalecendo o autocuidado. Isso pode ser feito com investimento de tempo e recursos em autoconhecimento, cuidados com a saúde física e mental, aprendizado constante sobre autovalorização, além de manter uma boa rede de apoio. E é justamente nesta parte que o Instituto Vamos Juntas tem atuado para apoiar essas lideranças e promover uma mudança mais profunda na estrutura que vivemos atualmente.
A busca pela equidade de gênero na política passa pelo fortalecimento psicológico das mulheres que assumem cargos eletivos. Mais do que tomar posse do cargo, no primeiro dia útil do ano, cada uma delas precisa estar segura e saudável para garantir que seu mandato possa trazer mais benefícios reais para todas as mulheres.
O autocuidado é o maior ato político que alguém pode ter!
Executiva de Pessoas, Cultura e Transformação | Professora Escola de Negócios | Board Member | Colunista | TOP 100 RH Influencers (2024) | 100 Executivas em Inovação (2023) | Women to Watch (2022)
2 aGenial! Simples, direto, assertivo e propositivo. Parabéns!