Autoliderança: grandes líderes comandam, primeiramente, a si mesmos
Muitos dos alunos que chegam ao Processo Hoffman trazem, como queixa principal, os obstáculos na vida profissional. As dores são as mais variadas possíveis. Vão desde a completa insatisfação com a carreira escolhida até a dificuldade em estabelecer relacionamentos minimamente saudáveis no ambiente de trabalho. Seja qual for o problema apresentado nesta área, sempre digo que o caminho do Autoconhecimento é a solução: trata-se de uma escolha necessária para toda e qualquer pessoa que busque se tornar um líder longevo – e a liderança e a autoliderança, por sua vez, são as maneiras mais garantidas de se alcançar o sucesso na vida profissional.
Mas, não, não estou falando sobre aquele líder do passado. Por muitas e muitas décadas, a liderança foi praticada de forma bélica, agressiva, temerosa. Mesmo dentro do núcleo familiar, fosse ele patriarcal ou matriarcal, o papel de comando estava centrado nas mãos de quem apresentava comportamento ameaçador ou intimidador em alguma escala. A liderança, em suma, era baseada no medo. E, assim, vingava a regra do “manda quem pode; obedece quem tem juízo”. Eu diria até que é recente e ainda incompleta a transformação desse ideário.
Aos poucos, líderes capazes de agir com empatia, cuidado e amorosidade começaram a ganhar força e reconhecimento. E, hoje, sobram estudos que demonstram que são esses os que obtêm mais comprometimento de suas equipes e, consequentemente, melhores resultados. No entanto, não existe uma fórmula absolutamente certa da liderança perfeita.
O que existe é um novo caminho, um que propõe, ao líder, a ideia de desenvolver a si mesmo, fazer por si mesmo, amar a si mesmo, para conseguir bons resultados. E esse caminho, invariavelmente, passa pelo Autoconhecimento e a Autoliderança, como disse agora há pouco.
Na prática, isso significa: olhe para sua história; veja como e com quem você se tornou quem é hoje, o líder que é hoje. Aplauda suas conquistas e seus acertos; eles são seus, você os alcançou por mérito próprio e, portanto, ninguém melhor que você para celebrá-los.
Perdoe-se pelos seus erros e pergunte-se: o que você pode fazer de diferente hoje, agora, para mudar a sua realidade? Para alcançar seus objetivos? Para que a Autoliderança, a positividade e a felicidade estejam presentes diariamente na sua vida?
Outra construção que, aos poucos, também está sendo descontruída é a ideia de que líderes nascem prontos. Isso é uma inverdade. Qualquer pessoa que se aproprie da Autoliderança tem e terá condições para se tornar um líder pleno, positivo e construtivo.
Mas, afinal, como exatamente você pode se tornar líder de si mesmo?
Autoliderança na prática
Antes de falar especificamente sobre autoliderança, acho importante elucidar um pouco mais a ideia de liderança, um conceito que surgiu antes mesmo que houvesse uma palavra para descrevê-la. A história mostra que algumas das mais remotas organizações ou núcleos sociais humanos já tinham seus ‘regentes’, pessoas que ficavam responsáveis por distribuir as atividades e por gerenciá-las de alguma forma. Muitos desses, inclusive, alcançavam esse posto depois de submeterem aos demais por meio da força física.
Desde então, muitos nomes e conceitos foram atribuídos ao ato de liderar. Mas o que, na minha opinião, chama mais atenção, é que por muito tempo entendeu-se que liderança requeria um grupo. Ou seja: era necessário haver uma equipe para que houvesse um líder, do contrário, a quem ele lideraria? Essa sim é uma ideia que, aos poucos, começa a ser transformada. Liderar deixou de ser uma habilidade que eu dirijo exclusivamente ao outro e se tornou uma ferramenta da qual eu me aproprio para liderar a mim e à minha vida.
Autoliderança ou liderança interna é uma habilidade que requer que você conheça seus pontos fortes e fracos, e isso se dá com autoconhecimento – que, por sua vez, exige disciplina e esforço. Primeiro, para se observar, porque não basta simplesmente dizer: “Ok, agora estou me observando”. E, depois, para trabalhar os pontos em que você pode ser melhor. Em suma, é necessário prática. Exercitando a Autoliderança é que você a incorpora no dia a dia.
Como a Autoliderança impacta a sua liderança
Importante dizer que, com a Autoliderança fortalecida, você consegue melhorar seus resultados individuais e, também, em equipe. Afinal, a liderança construída sob pressão e sob cobranças constantes tende a gerar, entre os colaboradores, insatisfação e improdutividade. Por outro lado, líderes que reconhecem seus próprios pontos fortes e fracos conseguem comandar, estimular e obter comprometimento a partir da fala positiva e da capacidade de se colocar no lugar do outro.
Além disso, o gestor autoconsciente é capaz de compreender e respeitar as características individuais de cada um dos profissionais que estão sob seu comando; assim, torna-se apto a estimulá-los de acordo com suas próprias peculiaridades.
Aliás, a preocupação crescente das empresas em valorizar a competência emocional de seus gestores e líderes mostra, por si só, porque desenvolver a Autoliderança é peça-chave nos dias de hoje. Há uma nova consciência nascendo, um novo entendimento de que as pessoas só se tornam realmente engajadas, comprometidas, colaboradoras, quando se sentem ouvidas, reconhecidas, valorizadas, quando acreditam que são parte indispensável de uma engrenagem maior. E, de fato, líderes autoritários tendem a gerar um cenário exatamente inverso a esse.
Ou seja, está mais do que claro que a Inteligência Emocional é e será a habilidade do líder do presente e do futuro. São muitos os estudos conclusivos neste sentido. Algumas pesquisas mostram inclusive que líderes mais habilidosos emocionalmente conquistam resultados melhores que aqueles com maior conhecimento técnico. Em outras palavras, cada vez mais, a inteligência emocional se torna tão essencial quanto a intelectual – a capacidade de realizar, produzir e concluir com base em lógica, método e raciocínio.
Antes de encerrar, no entanto, acho válido propor uma última reflexão. Há anos, vemos pesquisas repetirem os mesmos resultados: nas empresas brasileiras, a maioria dos profissionais que, ainda hoje, ocupa cargos de liderança continua muito mais bem-preparada tecnicamente do que emocionalmente e comportamentalmente. Isso se traduz, por exemplo, no ainda alto índice de pessoas que se demitem porque não aturam a grosseria dos chefes ou porque adoecem de tanto lidar com personalidades pouco empáticas e muito autoritárias.
Bem, se há anos as pesquisas apontam isso, só resta concluir que ainda fizemos muito pouco por uma transformação efetiva. É preciso reflexão e ação, buscar caminhos sustentáveis para que os líderes possam se rever. E quem der os primeiros passos nesse sentido, certamente, colherá bons frutos mais rapidamente. Então, por que você não começa agora mesmo?
Dicas de bolso: 16 passos para melhorar sua liderança no dia a dia
- Antes de tudo, entenda a importância de delegar funções;
- Diminua suas expectativas com relação a todos e a si mesmo;
- Treine sua autopercepção, quando perceber que está novamente buscando o controle, dê espaço ao outro, foque suas metas em outra prioridade;
- Cuidado com o excesso de cobranças que podem atrapalhar mais do que ajudar;
- Confie na expertise de sua equipe;
- Elogie os bons resultados;
- Valorize as opiniões e os pontos de vista diferentes do seu;
- Reconheça uma boa ideia;
- Entenda que ninguém é como você, portanto ninguém fará o trabalho da mesma forma que você faria;
- Promova reuniões de brainstorming;
- Valorize o trabalho colaborativo;
- Estipule prazos e metas para realização das tarefas da equipe dentro de um planejamento realista;
- Envolva sua equipe desde o início dos projetos para incentivar o sentimento de pertencimento à empresa;
- Compreenda que todos estão suscetíveis a erros e isso não significa que são incapazes de desempenhar determinada função;
- Incentive o desenvolvimento profissional da sua equipe;
- Aprenda a enxergar os pontos fortes de cada profissional individualmente.