AUTOMUTILAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA
Em resposta às dúvidas recebidas pelos pai, abordo brevemente a automutilação, que vem preocupando pais, educadores e profissionais da saúde. Tem se tornado uma prática cada vez mais comum entre adolescentes.
Há inclusive grupos nas redes sociais que trocam informações a respeito, dando “dicas” do que utilizar como objetos cortantes (até lâmina de apontador entra como item). Também compartilham fotos dos cortes e feridas autoprovocados, o que leva a crer que há necessidade de exposição, que pode mascarar um pedido de ajuda.
Então é algo que está “na moda”? Depende. Todo cuidado deve ser tomado para não rotular e tirar conclusões precipitadas, afinal cada caso é único. Porém há uma parcela que experimenta por incentivo de amigos, no intuito de pertencer ao grupo ou mesmo sanar a curiosidade. Quando é este o caso, geralmente o evento não se repete muitas vezes, logo perdem o interesse.
Porém, há casos em que a automutilação é o único recurso que o adolescente encontra para lidar com intensa angústia. Como não consegue nomear e colocar em palavras o que sente, (por ser muito intenso e confuso), a ferida traz certo alívio inicial, e o ajuda a localizar aquela dor de certa forma. Nestes casos os cortes vão se tornando cada mais profundos com o tempo, e geralmente há preocupação em escondê-los, então muitos usam mangas compridas em pleno verão, ou optam por partes do corpo que normalmente não estão expostas, como as coxas, por exemplo.
Há mudanças no comportamento que podem servir de alerta, indicando que algo não vai bem. Como por exemplo, aumento da introspeção, insônia, distanciamento dos amigos, diminuição do rendimento escolar, irritabilidade e desânimo constantes.
Na maioria dos casos a automutilação cessa após a transição típica da adolescência, mas os casos mais graves, em que há outros quadros associados (como transtornos depressivos e ansiosos) necessitam de tratamento adequado o quanto antes.
Caso suspeite que um adolescente esteja em risco para este tipo de prática, procure ouvi-lo, e ofereça a ele a possibilidade de contar com a ajuda de profissionais. Vale a pena uma conversa com alguém que seja da confiança dele. A psicoterapia ajuda muito no sentido de incentivar a nomear o que incomoda, e propor outras saídas para a angústia em questão. Em alguns casos, é necessário também um suporte psiquiátrico.