[ Avaliações: Um Grande Desafio ]
Quando decidi adotar a Metodologia da Sala de Aula Invertida nas minhas disciplinas de Lógica Matemática e Matemática Discreta no Curso de Ciência da Computação da Universidade Estadual Vale do Acaraú me vi diante de alguns desafios. Alguns destes já comentei em textos anteriores aqui publicados. Agora quero falar sobre um que muito provavelmente tira o sono não somente daqueles que resolvem adotar a Metodologia da Sala de Aula Invertida, mas também daqueles que seguem no modelo tradicional: como avaliar a aquisição de conhecimento por parte dos estudantes?
Não é de hoje que me incomoda essa questão. Sou totalmente favorável a ideia de que apenas três avaliações parciais ao longo do semestre (AP I, AP II e AP III) não são suficientes para medir de forma satisfatória se a aprendizagem aconteceu ou não, se o estudante está conseguindo absorver os conteúdos e está compreendendo aquilo que ele viu ao longo das aulas, na execução dos exercícios e demais atividades. E aí vinha sempre as perguntas de um milhão de dólares: Como avaliar melhor? Que tipo de avaliação poderia ser utilizada para cobrir o mais amplo espectro do processo de ensino e aprendizagem? E como fazer isso tendo estudantes cada vez mais distintos e com competências diferentes numa sala de aula? E como conciliar isso com o nosso tempo de docente?
São questões que exigem alguma reflexão e muita ponderação. Ao longo desses meses pandêmicos nos quais li muito, assisti muitas palestras sobre como deveria adequar minha prática didática a nova realidade eis que surgiu uma estratégia que estou adotando e preliminarmente noto que os frutos estão sendo bons e que poderão ser maiores. Nos próximos parágrafos irei relatar em maiores detalhes essas impressões e também colocar para você, caro leitor, algumas observações.
A primeira certeza que tive ao me dar conta de que iria mudar radicalmente a minha prática de ensino foi que não seria possível realizar avaliações do mesmo modelo que fazia em a.C. (antes da COVID19). Isso foi um misto de alívio, pois há tempos que já não concordava com aquele modelo, e apreensão, por não saber ao certo como deveria avaliar os estudantes. Mas aos poucos algumas luzes foram pintando em minha mente. A seguir explico melhor como estou procedendo:
- Na instituição onde trabalho os estudantes precisam ter três notas nas disciplinas. Cada nota é uma avaliação parcial, ou AP. Assim sendo estabeleci algumas atividades que juntas iriam compor cada uma das notas de AP I, AP II e AP III.
- Para a nota de AP I estou usando dois critérios. O primeiro é a frequência do estudante aos momentos síncronos. Isto é, de acordo com o percentual de frequência do estudante será dada uma das notas que fará parte de um cálculo da nota de AP I. Por exemplo, um estudante teve 80% de frequência. Sua nota será 8,0, no primeiro critério. Mas e aqueles estudantes que não puderam participar de uma aula síncrona porque teve problemas com sua conexão com a internet ou outro contratempo? Nestes casos peço que o estudante que perdeu o momento síncrono assista a gravação da aula e faça um relatório sobre o que ele assistiu e me mande por e-mail até a última semana do semestre letivo. Estou gravando e disponibilizando todas as aulas síncronas através do canal que criei (Canal do Prof. Hudson). O segundo critério é a participação nos quizes que aplico no início de cada momento síncrono. Estou usando o Kahoot como ferramenta para aplicação dos quizes. Esses quizes constituem de perguntas de múltipla escolha ou verdadeiro e falso feitas a partir dos vídeos de pré-aulas. Antes de cada momento síncrono oriento os estudantes a assistirem o vídeo de pré-aula que trata do assunto que veremos de forma mais aprofundada no momento síncrono. Os quizes são certa de cinco perguntas e o Kahoot ao final gera um relatório do desempenho dos participantes. A porcentagem de acertos é a nota que o estudante obtém na tarefa. Assim sendo a nota de AP I de cada estudante será calculada da seguinte maneira: (média das frequências + média dos quizes)/2.
- A nota de AP II será a média das tarefas que passo através do Sistema Acadêmico da UVA. Essas tarefas são atividades que devem ser feitas tendo como base os assuntos que foram abordados tanto nas pré-aulas como nos momentos síncronos (aulas). Em meu planejamento estabeleci que serão realizadas oito tarefas ao longo do semestre em cada disciplina. Isso dá cerca de uma tarefa a cada duas semanas. O prazo para os estudantes devolverem as tarefas através do sistema, em geral, é de uma semana. Todas as tarefas deverão, preferencialmente, ser feitas em dupla. A intenção é fazer com os estudantes aprendam ensinando os colegas. Uma das coisas que sempre acreditei e que a leitura de inúmeros artigos validaram foi que uma das melhores maneiras de aprender algo é compartilhando o nosso conhecimento com outras pessoas. Abaixo um print do módulo de Tarefas do Sistema Acadêmico da nossa IES. A cada tarefa podemos estabelecer uma nota. Tenho estabelecido notas de 0 a 10,0.
4. A nota de AP III será média de avaliações feitas através do módulo correspondente no Sistema Acadêmico. Inicialmente planejei realizar três avaliações. Porém, neste semestre 2020.1 não será possível e farei duas somente. Espero que em 2020.2 possa me planejar melhor e realizar as três. O módulo de avaliações foi outra inovação que o Núcleo de Tecnologia da Informação de nossa IES implantou durante os meses em que as atividades de ensino estiveram suspensas. Através dele nós professores podemos criar avaliações com tempo determinado para realização, correção automática das questões de múltipla escolha, dentre outras funcionalidades.
Vamos a algumas observações sobre esse modelo de avaliação da aprendizagem que estou adotando.
- Este modelo está em fase de teste. Assim como a adoção da Metodologia da Sala de Aula Invertida em minhas disciplinas está sendo um grande experimento. Minha intenção sempre foi a de aprimorar, corrigir os pontos falhos, manter aquilo que está dando certo e criar novos procedimentos que até poderão inicialmente não funcionar direito mas que serão corrigidos em outro momento. Enfim, um processo de aprendizado constante para mim enquanto professor.
- Os estudantes nos primeiros quizes tiveram um desempenho não muito bom. Estou salvando todos os relatórios que o Kahoot gera para quem sabe usar num futuro artigo, com uma análise mais apurada. Depois de alguns quizes esse desempenho melhorou bastante. Minhas hipóteses iniciais são que no inicio os estudantes ainda não estavam levando muito a sério os vídeos de pré-aula ou não estavam sabendo bem estudar a partir dos vídeos.
- Ainda há uma certa resistência a aceitar e compreender bem as tarefas em dupla. Um dos medos que noto nos estudantes é com relação a nota que a dupla vai obter. Por exemplo, teve uma tarefa da turma de Lógica Matemática que um estudante me mandou um e-mail informando que o colega dele com o qual estava fazendo dupla errou todas as questões da lista. E ele queria saber se ele que não errou iria ser prejudicado. Foi então que expliquei que o objetivo da atividade em dupla é o compartilhamento do conhecimento, que ele deveria ajudar o colega apontando onde ele estava errando, mas não dando de mão beijada as repostas. No e-mail seguinte o estudante agradeceu e disse que iria orientar o colega.
- Um bom número de estudantes ainda não sabe bem como estudar! Pode parecer um tanto estranho isso que escrevi mas deixa eu explicar melhor. Notei que muitos estudantes assistiam os vídeos de pré-aula como quem assiste um vídeo de entretenimento, ou seja, não faziam anotações, não pausavam e nem voltavam o vídeo, enfim, deixavam rolar. Tirei uns momentos das aulas tanto de Lógica Matemática como de Matemática Discreta para explicar que em vídeos educativos eles devem usar e abusar dos botões de pausa e retrocesso, que devem anotar muito, sejam os pontos que mais chamaram a atenção deles ou as dúvidas, aquilo que não foi bem compreendido, dentre outras coisas. Depois que tive essa conversa coincidentemente o desempenho nos quizes melhorou bastante dando a entender que houve alguma correlação entre um evento e outro.
Agora vamos dar uma parada de uma semana por conta do recesso de final de ano. Voltamos com as atividades de ensino no dia 4 de janeiro de 2021. Porém, deixei para minhas turmas uma pequena agenda de estudos para esses dias. Não creio que muitos irão seguir a agenda pois meus alunos ainda são bastante digamos, “verdinhos”, são alunos de primeiro e segundo períodos, chegaram a pouquíssimo tempo na vida universitária. Mas… Talvez eles me surpreendam!
Meu experimento até agora tem se mostrado positivo e os objetivos que esperava alcançar inicialmente estão sendo. Ainda temos mais dois meses e pretendo no semestre 2020.2 dar continuidade com o experimento já ajustando o que precisa ser ajustado.
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