PROVAVELMENTE VOCÊ DEVE TER SE PERGUNTADO A MESMA COISA...
Lembra quando você estava fazendo a 8ª série do Ginásio, hoje, o 9º ano do Fundamental, e o professor de matemática entra na sala de aula e diz:
"Bom dia! Hoje vou apresentar à vocês a Equação do 2º Grau, o estudo de parábolas!"
Alguns alunos achavam estranho já de cara, imaginando:
- "Ué?! Será que ele vai dar lição de moral?!"
- "O que tem a ver contos bíblicos com matemática?!"
Começa a aula e o professor preenche a lousa com segmentos de retas, planos cartesianos, "arcos" desenhados. "boca" para cima, "boca" para baixo...
No final das contas tudo se resume à Equação do 2º Grau:
a(x^2) + bx + c = 0
(fórmula de Bhaskara, análise de sinal, ponto máximo, ponto mínimo, etc).
Daí vem aquela grande pergunta:
"Pra quê que eu vou usar isso na minha vida?!!!"
Vou explicar e você vai entender...
O ano era 1988. Eu estava no 2º Colegial, hoje, 2º ano do Ensino Médio. Eu já programava computadores naquela época, a "febre" era o Clipper Summer'87.
Minha tia (por afinidade) era dona de uma empresa representante de itens para casa (itens importados, tupperware, louças, etc). Ela me chamou um dia em seu escritório e disse:
"Eu estou com um problema aqui na empresa. Estou tendo um turnover de vendedores muito rápido e isso gera problemas na carteira de clientes! Você não pode criar um programa para resolver isso?!"
A mesma expressão que você que está lendo fez agora, provavelmente foi a mesma que eu fiz pra minha tia!
O que computação tem a ver com clima organizacional? O que um adolescente (mesmo com carteira de trabalho assinada e sabendo programar computadores) poderia saber sobre gestão de RH, alta rotatividade de pessoal, modelos de negócio, etc?! Diga-se de passagem, naquela época eu já estudava IA - Inteligência Artificial e Sistemas Especialistas, e mesmo assim, há época, não havia correlação nenhuma com aquele pedido feito por ela.
MAS, como era a MINHA TIA, eu não podia simplesmente dizer "Não", então disse a ela:
"Titia, eu nem sei por onde começar, mas vou pensar no problema e digo à senhora o que eu consigo fazer, ok?"
Eu pedi a ela os últimos dados de vendas da empresa e, principalmente, o movimento dos vendedores que haviam saído em pouco tempo.
No fim de semana que se seguiu fiquei buscando alguma forma de explicar para minha tia que não havia nada que eu pudesse fazer para ajudá-la naquele problema, pois era um problema de gestão, de RH, nada a ver com a minha área e (pouca) experiência, eu programava com base em algoritmos lógicos, não com base em subjetividade ou receitas mágicas vistas mais recentemente em filmes do Harry Potter.
Eu ainda tenho o hábito de rabiscar, usar um rascunho quando estou estudando ou analisando algo. Daquela vez não foi diferente. Naquela época usava-se normalmente lápis ou lapiseiras. Estudei a forma de como eram feitos os cálculos de comissão: os vendedores recebiam um valor fixo mensal e, somado a isto, um valor percentual progressivo conforme o valor total das vendas. Rabiscando aqui e ali, anotando dados, desenhando gráficos da relação entre o volume de vendas e a comissão dos vendedores (um gráfico que se parece com uma escada), vira folha, desdobra folha, vira do outro lado, busca outras explicações, anota mais isso, anota mais aquilo...
De repente, ao desdobrar a folha uma outra vez, o gráfico que eu havia feito da "escada" estava "carbonado" com outros riscos feitos do outro lado da folha e, neste exato momento, me veio um insight! Eu olhava para aquele gráfico que não se parecia com nada e nem lembrava coisa nenhuma, e pensei:
"Será que eu consigo gerar uma equação do gráfico e criar uma função programável?!"
Eu já havia estudado pontos, retas, áreas, planos e diversos gráficos em matemática, então fui procurar alguma coisa que se parecesse com a minha "escada", mas infelizmente não encontrei nada (diga-se de passagem, não existia o Google naquela época, nem a internet como conhecemos hoje no Brasil). A título de curiosidade, eu já acessava a internet via gopher desde 1986 nas dependências da USP - Universidade de São Paulo.
Mergulhei novamente nos dados de vendas procurando uma forma racional de dizer para minha tia que não dava pra ajudá-la com aquele problema.
Analisando o movimento de vendas dos vendedores que ficaram curtos períodos na empresa, um padrão surgiu. Imagine um vendedor que entra na empresa sem saber muita coisa sobre os produtos e serviços a serem comercializados e, começa a vendê-los para uma carteira de clientes pré-selecionados (à qual ele também não conhece). Nos primeiros dois meses (em média), este novo vendedor conseguia chegar apenas na primeira faixa do percentual de comissão, somente depois que este vendedor começa a conhecer melhor os produtos, serviços e clientes, é que chega a hora de buscar um novo patamar. O vendedor então se desdobrava para aumentar o seu volume de vendas e, no fim do mês, viu-se que ele chegou muito perto do valor da próxima meta (uma diferença de R$30,00 por exemplo) onde o percentual mais que dobrava. Como ele não chegou à meta (mesmo faltando tão pouco) e não conseguiu um valor de comissão que julgasse justo, então ele acabava saindo da empresa.
Então eu pensei:
"Se o vendedor chegou PERTO do valor de 'corte' de um percentual estipulado, ele acharia justo que ganhasse um percentual PERTO daquele!..."
Daí veio a seguinte pergunta na minha cabeça:
"Se eu já tenho os percentuais de comissão por montante de valores vendidos estipulados, como eu posso encontrar uma equação que passe por estes pontos pré-determinados?!"
Foi daí que lembrei que quando estudei Equação do 2º Grau, aprendi como encontrar a equação da parábola através de 3 (três) pontos.
Não vou mostrar neste texto COMO isso é feito, mas AQUI demonstra este método.
Encontrada a equação, fiz um programa em Clipper (compilado) em que minha tia poderia escolher dois pontos críticos da relação montante-comissão (o terceiro ponto sempre seria 0,0) para o sistema calcular os valores de a, b e c da equação do 2º grau e, entrando com o valor total de vendas de um vendedor, calculava o percentual correto de comissão e o valor monetário da comissão.
Na semana seguinte fui até a empresa da minha tia e instalei o programa no computador dela. Resultado?! - NÃO HOUVE MAIS turnover de vendedores na empresa da minha tia!
Esta experiência me mostrou uma verdade que a maioria de nós deixa escapar:
TUDO QUE APRENDEMOS NA VIDA SÃO FERRAMENTAS!
Cabe à você mesmo decidir ou saber usar o quê e quando...
E se você aprendeu, mas não usa, aí é um problema exclusivamente SEU!
A conscientização deste FATO é muito importante, pois você irá se surpreender com as coisas que sabe e não usa.
JSI:.
Engenheira / Analytics / Negócios / Dados
2 aEm 2018 vc já previa as nossas conversas, obrigada por compartilhar sempre!!!